segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Das virtudes de ser mae

(entao que eu to na praia usando a internet 3G do meu padrasto num notebook jurássico que é do tamanho da minha TV e eu nao sei onde ficam os acentos, entao relevem por obséquio os erros grosseiros de digitaçao)

Esses dias eu tava lendo o livro Besame Mucho (disponivel para download em algum lugar que eu ainda nao consegui achar, mas se vc nao conseguir me deixa um comentario com o seu e-mail que eu te mando) e o Carlos González fala uma coisa muito importante sobre a educaçao das crianças, que é o fato de que quando eles forem adolescentes, passarao a ser tao ou mais fortes que a gente, ou seja, capazes de revidar uma palmada, entao ele fala que é necessário começar desde já a treinar e descobrir um modo de faze-los nos obedecer.

Entao que eu tava pensando que foi exatamente isso o que aconteceu comigo. Eu era a pessoa mais ansiosa e impaciente do mundo, e fiz escolhas sobre a maternagem que considero o caminho mais difícil que o comum hoje em dia: nao quis ter baba, nao quis dar mamadeira nem chupeta, escolhi usar fraldas de pano, fazer cama compartilhada e outros, e pra bancar esse tipo de maternidade, precisei aprender a ter paciencia. O primeiro desafio foi a amamentacao. Ficar 2h com a bunda grudada no sofa e com um bebe pendurado exigem altas doses de saco, mesmo. Colocar pra dormir, ídem (acho que todo mundo que nao tem baba ou avós por perto sabem a novela de colocar a criança pra dormir e ela acordar assim que se tira do colo), e isso tudo foi me irritando ao ponto de eu querer sair correndo e fugir. Confesso, nao sao sentimentos nobres, mas acho que todo mundo ja sentiu isso em relacao ao proprio filho pelo menos uma vez na vida. Lembro das meninas da GPM falando que era fase, que ia passar, mas pra mim parecia que aquele calvário (e era exatamente isso que eu achava que a maternidade era) nunca ía acabar. Vendo isso, e na iminencia de jogar minha filha pela janela (brincadeira tá gente? eu nunca faria isso! é só figura de linguagem ok?), decidi que pra levar a cabo a minha ideologia acerca da maternagem, quem precisava sem ensinada era eu, e nao o meu bebe. Ela nao precisava aprender a dormir a noite inteira nem a mamar de 3 em 3h. Era eu quem precisava encontrar meio de ter paciencia pra amamentá-la durante quanto tempo ela quizesse, independente do intervalo, era eu quem precisava aprender a faze-la dormir de forma que ela nao despertasse e era eu quem precisava controlar a minha ansiedade ao invés de enfiar um pedaço de plástico na boca dela (vulgo chupeta) a cada crise de choro.

Aí, olhando pra trás, agora eu me dou conta do quanto é fácil a gente simplesmente achar que o problema é da criança, e nao nosso. É fácil dizer que a criança tem insonia infantil (por incrivel que pareca, ainda tem medicos que dao esse diagnostico) e por isso enxe-la de remédios pra dormir ao inves de admitir que vc tá  de saco cheio de acordar a cada 1h de madrugada. É super mais fácil colocar uma chupeta ao invés de tentar descobrir qual o problema da criança. É mais cômodo deixar chorando no berço "pq faz bem pros pulmoes" do que ter o trabalho de ficar acordando de madrugada e dando mamá. É mais rápido dar a mamadeira que enxe o bucho e faz a criança dormir a noite inteira do que amamentar e ter que estar disponível o dia inteiro, afinal de contas a mamadeira qualquer um dá, o peito é só voce quem tem.

E é com essas justificativas toscas, de que o problema é da criança e nao do adulto que nao tem paciencia, que a gente vai acobertando um monte de impropérios e maldades: aí escrevem-se livros tipo o último "tapa na bunda"dizendo que tem que se bater pra colocar limites, diz-se que a criança só quer comer besteiras e esquece-se que quem oferece as besteiras somos nós, que muitas vezes o fazemos por falta de paciencia de esperar a criança comer ou por esperar passar algumas fases de inapetencia. Somos nós quem nao as incentivamos a comer sozinhas porque faz sugeira, que nao as deixamos escovar os dentes sós porque dá trabalho, quem nao as respeitamos quando ainda nao estao preparadas para o desfralde e, no fim das contas, as culpamos e castigamos por nao fazerem o que queremos, como se a crianca tivesse a obrigacao de nos satisfazer e de ser bem comportada.

Quem tinha que fazer terapias, tomar remédios e controlar o imediatismo e a ansiedade, somos nós pais, ao invés de darmos desculpas esfarrapadas e jogar tudo pra cima da criança! Afinal de contas, somos nós os adultos capazes de lidar com as frutraçoes, e nao os pequenos.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O comércio da humanização - parte II

Cara, acho que eu não me expliquei direito, portanto, vim aqui deixar claros alguns pontos:

- Não acho de forma alguma que profissional nenhum deva trabalhar de graça. Mas também acho que se você diz que é um profissional humanizado, você lida com pessoas e não com contra-cheques, por isso você não deixa a sua gestante com a cerclagem por medo dela parir no consultório e não ter dinheiro pra pagar. Há várias formas de se facilitar o pagamento, parcelar e etc. Agora, querer que todo mundo tenha 5000 pra pagar num parto a vista, é no mínimo utópico.

- Quando eu disse "toula", me referí à algumas doulas que se aproveitam do momento de fragilidade e usam a capa da humanização pra lucrar sem fazer o que uma doula deve fazer, que é, antes de dar presentes, informar a gestante e apoia-la durante o processo de empoderamento. Disse "toula" assim como digo "bobstetra" ou "obstreta" pra GOs cesaristas.

- Meu ponto não foi discutir se a doula deve dar kit ou não pra gestante, e sim que a doula deve oferecer um serviço que inclua ajudar a gestante no seu empoderamento, e não somente em distribuir toucas, camisetas ou o que for.

- Acho que 500 reais pro serviço que uma doula oferece é até pouco dinheiro a pagar. Deveriam receber bem mais que isso, assim como os profissionais humanizados que ficam a disposição durante horas a fio pra uma única gestante merecem cada centavo, e ainda mais. O que eu não concordo é fazer maketing pessoal em cima de um ideal, usar a humanização pra aparecer e se achar a última coca-cola do deserto.

- Só porque um profissional é humanizado, não significa que ele tenha que fazer filantropia. Mas também acho que não ir atender a gestante porque tá na praia é o cúmulo do descaso.

A Aláya resumiu bem o que eu queria dizer:
" A culpa das tragédias obstétricas no brasil, dos partos roubados, certamente não é do "povo da humanização", MAS porque não poderíamos questionar quem usa o discurso da humanização apenas para lucrar com isso? Quem não vestiu a camiseta e transformou isso em um marketing, em uma fonte de propaganda pessoal. É claro que humanização não é filantropia, mas não precisamos transforma-la na filial do McDonnalds.
Lucrar com um trabalho digno é algo válido. Mas lucrar em cima de um momento de fragilidade, lucrar com a insegurança e ignorância alheia, se aproveitar dos outros só pra faturar, ai eu acho feio sim."



No mais, beijos pra quem fica, porque eu tô indo viajar e volto daqui há 30 dias. Não vou ter acesso à internet, então, bom natal e um feliz ano novo.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O comércio da humanização

Enganaíltons, toulas, parteiras que viajam na hora P, médicos humanizados que deixam a paciente desassistida porque não vão sair do litoral pra ir pra cidade, doulas que acompanham cesáreas eletivas, casas de parto com médicos cesaristas e etc. O "mercado" da humanização se transformou em algo altamente rentável. Reclamam e condenam os cesaristas, mas fazem igual (ou pior) sempre que tem a oportunidade.

Dia desses eu fiquei chocada com uma doula que fez um "kit" pra gestante com direito a toalha, óleo de massagem, creme e tudo o mais, claro que tudo devidamente etiquetado e com propaganda da mesma. Os relatos dos partos que ela acompanha estão recheados da cara dela nas fotos, dela dando beijo na barriga da mãe, dela com o bebê, dela, dela, dela, dela. Enfim, é tanta ELA que a gente se pergunta quem é a protagonista dos partos que ela acompanha. 

Os médicos "humanizados" não fogem à regra: querem o seu suado dinheirinho. Gente, nem vou entrar no mérito de que todo mundo precisa ser pago e etc, que as pessoas tem contas a pagar, filhos a sustentar e barrigas a encher, mas também dia desses eu fiquei chocadissíma com um médico que não queria tirar a cerclagem (é quando a paciente necessita levar pontos no colo do útero porque tem dilatação prematura) da gestante pois a mesma poderia entrar em trabalho de parto e não ía ter seu bebê com o tal do médico por motivos financeiros. O médico em questão ainda teve a cara de pau de dizer "mas e daí, como eu fico se você entrar em trabalho de parto na hora que eu tirar os pontos e tiver que assistir o seu parto?". Humanizadissímo hein colega? Ainda fica postando menssagens nas listas de apoio querendo confete e enxendo a boca pra dizer que é humanizado. Claro, humanizado desde que você possa pagar (muito caro), caso contrário, sem negociações.

A humanização do nascimento pra mim responde à outros interesses: o protagonismo da mulher e um nascimento digno e respeitoso pra criança. Já ví um sem número de ótimos profissionais (os melhores do brasil, no meu humilde julgamento) dividindo os valores do parto, aceitando trabalhos como pagamento e alguns até assistindo partos de graça, tudo em prol de mulheres que queriam sim parir com dignidade, mas que não conseguiam pagar os exorbitantes valores que alguns profissinais cobram. Eu mesma, quando grávida, gastei o dinheiro que eu iria pagar no parto domiciliar indo ficar num hotel em BH pra esperar a Aurora nascer na melhor maternidade do estado de minas (pelo SUS, por incrível que pareça), e por tanto, não tinha mais dinheiro pra nada. Minha querida amiga e doula, que me acompanhou a gestação inteira, me confortou, acalentou e orientou, se ofereceu pra ir da cidade dela (Divinópolis, há 1h de distância mais ou menos) pra acompanhar o meu parto, DE GRAÇA. Justo porque sabia da minha situação e sabia que eu não poderia pagar. Outras meninas, também doulas, se voluntariam pra acompanhar gestantes que não tem uma renda alta. ISSO pra mim é humanização! É dar pra mulher o que é dela, é parcelar valores, diminuir custos, negociar e tornar o parto respeitoso acessível a todas, e não somente àquelas que podem desembolsar 2500 reais. Toda mulher merece parir dignamente!

No mais, eu queria deixar aqui pras gestantes que acompanham o blog (nem sei se tem alguma, pq não tenho nem noção de quem me visita) que procurem referências dos profissionais que vcs vão contratar! Leiam relatos, fucem na internet, escavem mesmo o passado do profissional. Façam um contrato (sim, porque a doula e a parteira são profissionais como quaisquer outros, e é melhor se garantir através de um contrato do que ficar chupando dedo na hora P), entrem em listas de apoio, conversem com amigas, enfim, puxem o histórico daquele profissional, porque tem muito médico por aí vestindo a pele da humanização pra na hora P te fazer uma bonita cesárea por "falta de dilatação" ou qualquer motivo tosco desses. Incluo aí as doulas. Não aceitem ser douladas por profissionais que acompanham cesáreas eletivas (aquela cesárea sem indicação médica, que é feita a pedido da mãe ou por vontade do médico) ou que atendem em hospitais que não tem uma infraestrutura legal pra gestante e pro bebê. É dever da doula (e direito da gestante) orientar sobre os melhores lugares, os profissionais mais bacanas e os melhores cuidados com a criança. E isso minha gente, esse cuidado com você e com a sua cria, toalha bordada nenhuma vai pagar!