sexta-feira, 30 de março de 2012

Relato da Marla: VBAC com indução - parto normal após cesárea com indução


Relato de PNH Mariana e Marla - VBAC com indução
Mariana começou a ser gerada pouco depois do nascimento do Pietro. Com o tempo, com o dia a dia eu fui me apaixonando pela maternagem, por cuidar e acalentar uma criança, por ver o desenvolvimento, acompanhar o crescimento, amar incondicionalmente. Um segundo filho virou parte dos planos em seguida.

Confesso que, por muito tempo, eu quis mais o parto que o filho. Sim, a ferida do “não parto” do Pietro sangrava, e me fazia querer tentar de novo. Mas percebi que não se substitui um “não parto” por um parto... um “não parto” precisa ser revirado, destrinchado, o luto precisa ser vivido e as lições aprendidas. Além disso, não tínhamos condições financeiras de ter outro filho e os planos eram engravidar em 2011 para que o bebê nascesse em 2012.

E nesses 3 anos de intervalo eu aprendi muito sobre parto, maternidade, mulheres, empoderamento. Eu tive o enorme privilégio de ajudar e alentar mulheres de perto, do outro lado do mundo, conhecidas, desconhecidas e a cada parto dessas “amigas” eu deixava um pouco para trás a minha frustração, eu conseguia entender alguns dos meus equívocos, eu “paria o meu não parto”. O curso de doulas veio pra lavar de vez todas as mágoas, fez com que eu encarasse tudo o que fiz e não deveria ter feito, conseguisse perceber o que faltou e pudesse definitivamente quer outro filho. Foi nas aulas que, pela primeira vez, senti Mariana ao meu lado, sim, ela estava ali, me guiando, me acompanhando e dali por diante (até hoje) estivemos sempre juntas.

Em fevereiro tiramos o DIU e começamos as tentativas, em fevereiro também eu pari o segundo relato do parto do Pietro, dessa vez com idéias mais claras, coração aberto e com mais condescendência com meus erros – e daí eu acho que o caminho de abriu de vez para a vinda da Mariana.

Antes da primeira menstruação pós DIU o Pietro, num dia qualquer pela manhã avisou ao meu pai: - o irmãozinho está chegando, vovô!

Estavam, os dois, em total sintonia. Mas a menstruação desceu e não, não foi naquele mês. No mês seguinte fiquei enrolando com o pedido do beta na mão, com medo de “gastar” a guia a toa. Ia esperar mais, mas uma amiga (oi Mah!) me convenceu a fazer o teste e lá fui eu, escondida de todos – dessa vez queria fazer surpresa, já que com o Pietro nem consegui pensar nisso.

E assim descobrimos que estávamos grávidos! Chorei de emoção, chorei muito e agradeci a Mariana por ter nos esperado.

E então VBAC lá fomos nós: tínhamos a informação, a paciência, a equipe humanizada.

Com 8 semanas fizemos o exame da sexagem fetal e descobrimos que teríamos uma mocinha! Nossa que surpresa! Sempre acreditamos que desse mato aqui só sairiam meninos! E ter uma menina me deixava bastante assustada, sempre preferi companhias masculinas por achar as mulheres muito complexas, e lá estava eu com a missão de criar uma menina! Mal sabia eu que essa seria só a primeira das muitas coisas que Mariana me ensinaria.

Com 12 semanas a USG morfológica e o fantasma número 1: placenta baixa. Ela sobe, eu sei, mas é um dos ônus de “entender muito das coisas”. Fantasma mandado embora na segunda USG morfológica: placenta no lugar dela! Ufa!
Com 30 semanas fizemos a USG 4D que o papai tanto queria e fantasma número 2 apareceu: Mariana estava pélvica, sentadona... Com todas que eu falava, ouvia a mesma coisa: paciência, ela vira, tem tempo. E o tempo passou e ela continuou lá, sentada. “Bebê sentado está esperando alguma coisa” dizia a doula. E o que raios essa menina esperava? Eu não sabia dizer.

Com 32 semanas fomos no primeiro encontro “oficial” com a nossa amada doula Mariana (sim, a doula tb se chama Mariana). E lá, pela primeira vez, ouvi o nome da Dra. Andrea Campos, a doula comentou que ela estaria em SP na minha DPP (perto do Natal e Ano Novo) e se precisássemos poderíamos chamá-la, mas eu estava tranqüila em saber que a minha GO atual estaria por aqui tb. Enfim, seguimos...

Com 33 semanas lá fomos nós para a consulta pré natal, eu fui crendo que Mariana tinha virado, estava fazendo exercícios e tinha sentido uma dor bem forte na pelve no dia anterior, o que poderia ser um sinal. Mas não... ela tinha ido de transversa para pélvica mesmo. Pela primeira vez falamos em parto pélvico e a médica foi categórica: “risco desnecessário”. Falamos também em versão externa (virar o bebê “por fora”, tracionando o útero), e ela disse que não sabia se era possível, por causa da cesárea anterior. Combinamos de aguardar a próxima consulta e ela ficou de confirmar a possibilidade da versão externa. Foram 2 semanas de muita tensão para mim, toda vez que acordava durante a noite eu colocava de imediato a mão na barriga pra ver se ela tinha virado e nada. Exercícios, moxa, plantar bananeira... aff, só Deus sabe o que eu fiz. Nesse meio tempo eu me informei sobre parto pélvico, versão externa em mulheres com cesárea e tudo apontava para o mesmo caminho: era possível e recomendado. Conversei com o marido – que confiava e gostava muito da médica – e disse que não abriria mão do VBAC e tudo de bom que ele poderia nos trazer por uma razão dessas. Chegamos num consenso que, se ela não fizesse a versão externa – procuraríamos outro médico que fizesse – e de novo, o nome da Dra. Andrea Campos me foi recomendado mais de uma vez, tanto para a versão externa quanto para o parto pélvico.

35 semanas e a consulta fatídica: Mariana sentada e o veredito da médica – não faço a versão externa e nem parto pélvico, novamente nas palavras dela “risco desnecessário”. A conversa foi mais profunda e não vale a narrativa, mas ficou claro para mim ali que, infelizmente (pq continuo gostando demais dela, como pessoa e como profissional), nossos valores no que dizia respeito a parto eram muito diferentes e eu não conseguia mais confiar nela para me assistir. Como bem definiu o marido: ela não comprou a minha briga, no momento em que eu mais precisei, a limitação dela falou mais alto, eu não a julgo, não a condeno, mas eu tinha que seguir em frente nas minhas convicções, assim como ela fez. Sai do consultório e liguei para doula, queria o telefone da famosa Dra. Andrea Campos, afinal, ela me perseguia há tempos. Era tarde e não consegui ligar para agendar nos consultórios, resolvi arriscar e ligar no celular, ela não atendeu. Segurei minha ansiedade mas para a minha grata surpresa, ela me ligou de volta! Comentei o caso e ela disse que poderia ir ao consultório para “vermos o que era possível fazer”, marcamos para a tarde seguinte. Marido não poderia ir comigo, ou seja, a responsabilidade era toda minha, era matar no peito e chutar pro gol.
E lá fomos nós encontrar a Dra. Andrea. Conversamos um pouco e ela foi me examinar, disse que Mariana estava realmente pélvica, mas alta – o que tornava a versão mais fácil. Apalpou, apertou, mexeu e ela virou! Praticamente sozinha segundo a médica, “foi só um empurrãozinho” ela disse. Eu não podia acreditar, semanas de angústia resolvidas ali, de forma tão simples! Já deixei os dados com a Dra. Andrea, sim, nosso parto tinha que ser acompanhado por ela, afinal bebê sentado está esperando, e Mariana esperou a Dra. Andrea, Mariana me levou a ela, eu podia discutir? Os sinais foram muitos, e Mariana me guiou e eu cheguei onde precisava chegar. Tinha acabado a “saga do pélvico”.

Com isso consegui me centrar, começar a curtir a barriga, o Pietro, o final de ano que tanto gosto. 36, 37, 38, 39, 40 semanas... passou bem rápido, corri para lavar roupinhas, comprar as últimas coisinhas, curtir meu filhote, namorar o marido. Confesso que ansiedade começou a bater, o medo do “e se eu não entrar em TP?” também. Mais uma vez o “suporte virtual” foi fundamental, e a Dra. Andrea tb ajudou muito, traçamos nossos planos: acupuntura e descolamento de membranas com 41 semanas e também começaríamos a monitorar, se nada acontecesse indução com 42 semanas. Indução? Ah, indução não... foi assim que tudo começou da outra vez, não...

E eu tinha pensado mil coisas pro TP em casa, imaginado tanto coisa legal, não indução não... Mas conversando de novo com um dos “anjos virtuais” eu consegui espantar o fantasma número 3, e entender que se fosse necessário, assim seria, e que não necessariamente tudo acabaria da mesma maneira, seria crueldade comigo apostar nisso.

Bom, 40+6 e acupuntura, consegui achar alguém pra me atender em plena semana do Natal- Ano Novo, ufa! Na terça em que completamos 41 semanas, fomos almoçar com amigos, comi um batza x-salada, um sundae, afinal a médica tinha dito pra me alimentar bem antes do exame kkk, saímos, levamos o Pietro (que tinha pedido pra dormir na minha mãe) na casa dela e fomos pro SL. USG e o diagnóstico: pouco líquido, pouquíssimo na verdade. A médica fez questão de mostrar, mal se viam pontinhos pretos de líquido na tela. Mas Mariana estava ótima! Ela ficou de ligar pra Dra. Andrea e nos dizer como proceder, eu crente que ela ia me mandar pra casa e dizer pra beber muito líquido e repousar, até “antecipei” isso pro marido, e a médica do SL vira e diz: olha, conversei com a Andrea, e diante do volume baixo do líquido, ela disse pra eu te internar que ela vai induzir o parto.
Aff! Eu gelei, como assim??? Nem mala arrumada eu tinha – era parte dos planos de passar o TP em casa. Eu queria fugir... não, não queria... ou queria? Ela ainda me abraçou, me confortou, uma fofa! Liguei pra Dra. Andrea que me explicou que poderia me mandar pra casa, mandar hiperhidratar mas que com 41 semanas e aquele volume, ela não acreditava que aquilo funcionaria e pior, o líquido poderia baixar mais o que tornaria as chances de sucesso da indução menores, ela acreditava que induzir era a melhor escolha. Parei e pensei: Mariana me trouxe até ela, eu sabia q o colo estava molinho, que poderia ter melhorado mais ainda com a acupuntura e sabia que ela, como poucos profissionais, sabia conduzir uma indução, não tinha porque não confiar. Mas eu ainda estava em pânico, eu chorava e dizia pro marido: mas eu não arrumei a mala! Eu não queria que fosse assim!

Mas era o jeito de Mariana, como tudo na gestação, foi tudo do jeito de Mariana. Eu rezei, pedi serenidade, e ela veio. Comecei a ficar empolgada, feliz! Minha filha ia chegar! O show estava para começar! Me lembrei de um sonho que tive no começo da gestação, com uma música que dizia: “vou abrir minhas asas e aprender a voar, farei o que for preciso até eu tocar o céu, aproveitar as chances, fazer um desejo, mudar e desbravar.” Era isso, era a hora.

Pedi que a enfermeira do SL não me examinasse – traumas do nascimento do Pietro, pedi a menina da recepção um quarto no primeiro andar, o mesmo que ficamos quando Pietro nasceu e fui atendida em tudo. Fomos pro quarto, esperar a médica, a doula e minha mãe que tinha ido em casa fazer as malas e traria o Pietro pra se despedir.

Um casal de amigos queridos tb chegou, eu aproveitei pra tomar um banho e lavar o cabelo (coisa que eu ia fazer em casa, de noite kkk), e relaxar. Pietro veio, se despediu e perguntou: a irmãzinha vai chegar? Dra. Andrea chegou e foi examinar, oba! 2 cm, descolou membranas, massageou o colo, dorzinha, colicazinha, e 4 cm! Uau! Nem eu esperava essa! Resolveu tb estourar a bolsa e realmente o que saiu não encheria nem uma xícara de café. Era isso, soro em seguida. A doula tb chegou e por volta das 11 fomos pro delivery.
A partir daí é tudo muito nebuloso... me lembro de pedir que ligassem a música e de começar a sentir as primeiras contrações de verdade, e de ficar feliz, de sentir a emoção transbordando em forma de lágrimas, como eu esperei pra sentir aquilo de novo! Não tinha sido como eu planejei, mas estava acontecendo e era bom! Agradeci a Deus e aos amigos que me acompanharam por ter chegado até ali, agradeci a minha filha por ter me guiado, por ter me escolhido para viver aquilo com ela, chorei muito, desabafei tudo o que eu passei na gestação toda. Lavei minha alma pra viver aquela experiência! Sim, eu estava ali!

Lembro de ficar murmurando musicas, de vocalizar a cada contração, de começar a sentir a camisola me incomodar, de chorar abraçada ao marido, das mãos quentinhas da doula me massageando, de pedir a banheira cheia, de entrar e sentir conforto, me boiar, rebolar na água, agachar, deitar, vocalizar, viver e me entregar! Sim, era a partolândia! Era onde eu queria estar.

Mas daí o cansaço foi batendo, batendo... e as contrações que vinham de 3 em 3 minutos (eu acho, era o tempo da música), começaram a emendar com uma cólica terrível! Minha pelve doía muito, eu sentia Mariana me abrindo por dentro, fazendo força pra passar, eu não conseguia descansar. Em pouco tempo eu me vi brigando com as contrações, e sabia o quanto aquilo era um problema. Lutei muito comigo mesma até pedir a anestesia, lembrei do relato de uma amiga em que ela dizia “só eu sei a dimensão da dor que eu sentia” e sim, naquele momento a dor era maior que eu, maior que a minha vontade de sentir tudo, me fazia querer fugir, não dava mais. Levei uma boa meia hora convencendo a doula e o marido que eu realmente queria anestesia (maldito plano de parto kkk), e então a Dra. Andrea chegou, examinou e disse que eu estava com 6 cm – ou seja, ainda faltava muito, se eu estivesse com uns 8 cm acho q até desistia da anestesia, mas com 6, não agüentaria mais 4 horas de dores como aquela – e a essa altura eu já tinha passado da vocalização pra gritaria já, a cada contração eu gritava e colocava no grito todas as minhas forças. E a própria Dra. Andrea concordou com a anestesia, segundo ela, o colo estava tenso, a anestesia iria ajudar.
Bom, anestesia, ufa! Ainda doía um pouco, mas eu consegui relaxar e fechar os olhos um pouco. Mas a dor na pelve não passava, não adiantava e com o tempo começou a piorar. Acho que se passou meia hora, e a dor voltou com tudo, eu sabia que se ele desse anestesia para aquela dor passar, eu poderia colocar tudo a perder, era Mariana que queria vir, era ela desbravando e, mais uma vez, me mostrando o caminho, então eu gritava e chamava: vem, Mariana, vem minha filha, é a tua hora, vem que eu estou aqui! Nessa hora Dra. perguntou: vc vai conseguir dormir? E eu respondi: Não. E ela sugeriu: Se vc quiser fazer força, pode ajudar a dilatar e acelerar o processo.

Ótimo! Vamos lá. Banqueta de cócoras em cima da cama e lá fui eu. Olhei para o relógio e se passava um pouco das 6. Respira fundo, respira, respira, prende e faz força. E assim fomos por meia hora, até atingir os 10 cm. Perto das 6:30 me lembro de ter ouvido ela pedir a doula que chamasse o pediatra, e que ele “viesse logo”, ueba! Tava acabando! Acho q foi perto dessa hora que eu “peguei o jeito” da força que tinha que fazer, e perto as 7 eu pude esticar a mão e tocar os cabelinhos dela – ah, como eu queria isso! Dali pra diante não teve dor, não teve cansaço, não teve nada, eu entrei numa espécie de transe, em que eu só pensava em fazer força e trazer minha filha pros meus braços. Apesar da anestesia e de não sentir dor, eu sentia tudo, ela passando devagarzinho pela minha bacia, abrindo, moldando, sentia ela moldando o períneo ao redor da cabecinha, o tal círculo de fogo, sim, eu senti tudo! Tudo o que queria sentir! Obrigada filha!

E assim com uma força comprida eu senti a cabeça sair, acariciei de novo, e incontrolavelmente fiz mais uma força para que ela saísse todinha, escorregou e eu peguei. Peguei, minha, só minha, minha Mariana, minha filha! Quentinha, molhadinha, um cheirinho que eu quis tanto sentir! Era isso! Conseguimos, nós duas, nós três pq papai tb foi um guerreiro, nós quatro pq Pietro esteve nos pensamentos em todos os momentos. Trabalhamos todos juntos e conseguimos! Veio pro meu colo, ali ficou, não chorou, nem sequer abriu os olhos, ela estava segura e sabia disso. Eu chorei, beijei, agarrei, afaguei. Era isso, eu tinha vivido o nosso momento, eu tinha dado a minha filha o nascimento que ela merecia, digno, intenso, forte, cheio de amor, respeito. Mariana foi minha vitória, e sem ela nada disso teria acontecido, o mérito é dela, o parto foi pra ela, sempre foi.
Ficou no colo muito tempo, saiu um tico pra ser examinada, voltou e mamou muito. Ligamos pra minha mãe e Pietro ainda estava dormindo, acordou em seguida e veio conhecer a irmã. Ele foi o primeiro da família a conhecê-la depois de nós, ela é dele, tanto quanto é nossa.

E assim João ganhou uma nova mulher, Pietro uma nova mãe e eu renasci. Eu quero, eu posso, eu consigo. Não sou melhor que ninguém, sou melhor do que a Marla que entrou no SL naquele 27 de dezembro e isso me basta. Eu pari e não fiz isso para mostrar para ninguém, nem por mim, eu fiz isso pela minha filha e ganhei de bônus uma oportunidade para renascer.

Obrigada ao marido maravilhoso, pai sem igual, companheiro de todas as horas por, mesmo contra as suas próprias convicções, ter me apoiado incondicionalmente. Obrigada ao meu filho por ter feito com que eu me apaixonasse pela maternidade, e buscasse a cada dia ser uma mãe melhor para ele e para Mariana. Obrigada as amigas virtuais totalmente reais, que me ajudaram, apoiaram, torceram, perderam o sono, tiveram dor de barriga, é de uma felicidade indescritível saber que as pessoas ficam genuinamente felizes com a nossa felicidade e sonham nossos sonhos, mesmo que na maioria das vezes não tenhamos sequer nos olhado nos olho. Obrigada aos amigos da vida, irmãos de alma, que Deus colocou no meu caminho – que também tiveram dor de barriga e insônia. Obrigada a minha filha, por tudo o que já me ensinou, por me mostrar o caminho, por me permitir ser sua companheira nessa jornada, espero honrar a cada dia o privilégio de ser sua mãe.
Agradeço tb a toda equipe que me acompanhou: Dra. Andrea, Dr. Douglas (pedi que é a nova "paixão" do papai), a Mariana, nossa doula companheira na jornada.

(por Marla Stern)

domingo, 18 de março de 2012

Alimentação infantil livre de papinhas

"Venho falar sobre a alimentação infantil, que é um tema que preocupa muito as mães e eu nunca tinha falado antes para uma platéia com um percentual tão baixo de mães, mas não tem problema, porque aproximadamente 100% foram filhos e portanto vão reconhecer o tema.

Muitas mães e alguns pais estão preocupados porque os filhos não comem. Me contava uma mãe outro dia: não come nada, absolutamente nada, eu ponho um prato de fusilli e só come 1. Ué, a senhora não disse nada? Um não é igual a nada. Se um e zero fossem iguais, como os informáticos poderiam trabalhar?

Outras mães estão preocupadas, e às vezes nós médicos também estamos preocupados, e às vezes até fonoaudiólogos, porque cada vez vemos mais crianças que com 2 ou 3 anos não mastigam, que comem tudo, absolutamente tudo triturado. E é curioso porque a mesma mãe que com 9 meses diz: que grande é minha menina, que bem come toda a sua papinha, aos 2 anos diz: parece mentira, uma menina tão grande comendo ainda papinhas. Então, o que concluimos, é grande ou não é grande, é boa ou não a famosa papinha. E se você não quer chegar a esse destino , o melhor é não empreender esse caminho, e portanto do que venho falar hoje é de uma alimentação complementar livre de papinhas, uma alimentação complementar à demanda em que a criança possa comer o que quiser, exatamente como fazemos nós os adultos e a maioria de nós não temos problemas.

O problema é que na Espanha, costumam-se dar umas normas sobre alimentação complementar que são obsessivas, beirando a paranóia. Uma mãe me mostrou o típico papel impresso que recebeu. Um xerox do xerox do xerox, às vezes você encontra xerox de coisas escritas a máquina, coisas da era paleolítica. Ela havia recebido do posto de saúde, imagino que vocês já viram muitas coisas parecidas: aos não sei quantos meses, às 9 da manhã 120ml de leite com não sei quantas colheradas de não sei que cereal sem glúten. Às 13h, 50g de batata com 50g de cenoura com 50g de ervilha com não sei o que. À tarde, meia pera e meia maçã. As peras e as maçãs curiosamente sempre vão por metade, não sei porque não te dizem os gramos, já que o tamanho da pera e da maçã são muito distintos, essa é uma falha do sistema. A partir de não sei quantos meses às 2ªf e 4ªf, 50g de frango.

Conheci um pobre senhor que, não sei se seu filho já era grandinho, eu sei que o pediatra disse 85g de frango. O que acontece é que, claro, você pega 100g de frango e tenta tirar 85g, você pode errar então ele começou a ir todos os dias ao açougue para comprar 85g de frango. Imaginem a cena: ponha por favor 85g de peito de frango picado, então o açougueiro diz: melhor ponho 100g né? Não! 85! Que são para o menino.

Às 3ªf e 6ª f, 50g de carne e a partir de não sei quantos meses, meia gema de ovo em dias alternados que a partir de não sei quantos meses vai merecer uma gema de ovo inteira. A fruta è às 5 da tarde, como os touros. As mães me perguntam quanto tempo duram as frutas sem perder suas propriedades, as propriedades da fruta, que agora já estamos em crise, ninguém tem propriedades mais!

Vejamos, se quer triturar a fruta, que não recomendo, mas se quiser, o que importa o quanto duram se com o mixer num instante já estão trituradas? “Mas é que a fruta è às 5 e nessa hora tenho que buscar o mais velho que sai da creche, então tenho que levar a fruta no tupperware para dar ao bebê às 5.

Mas ela não pensou que a fruta pode ser às 4:30 ou às 5:30? Mas ela não pensou que se está tão afim de dar alguma coisa às 5 que pode dar uma bolacha, que é mais fácil de transportar e a fruta, ela pode dar de manhã ou à noite? Pois não, porque o médico ou a enfeimeira disseram que era às 5: meia pera, meia maçã, meia banana e o suco de meia laranja. Se a avó estiver por perto, temos que acrecentar meia bolacha Maria.

Tem gente que diz: são mães obssessivas! Não, por favor, são mães normais! Eu acredito que são pediatras obsessivos. Porque se você vai ao médico e te dizem: você tem que tomar 12 unidades de insulina, você não vai tomar 11 nem 13, e sim 12 porque assim disse o médico e se ele disse assim é porque esse é o tratamento correto. Você tem o direito de esperar que quando um médico te diz 12 é porque são 12 e quando um médico te diz que a fruta é às 5, é porque a fruta è às 5.

O papel esse que lhes eu estou contando são 4 páginas contínuas de calendários, horários, gramas e minutos, ao final punha: atenção, as horas são aproximadas. Mas se são aproximadas, melhor não por! Como mínimo, mínimo, melhor por café da manhã, almoço, lanche e jantar e assim teria evitado muitas angústias. E que importa que a fruta seja no café da manhã ou no lanche? Eu acabo de tomar o café da manhã num hotel e comi fruta, paella, frios...A capacidade do homem tomar café da manhã é ilimitada porque temos que acreditar que sempre temos que tomar cereais no café da manhã?

Àquela mãe eu respondi: se a senhora em lugar de ter um filho normal tivesse um marido diabético (que Deus não permita!), um endocrinologista não teria dado este tipo de instruções. A um diabético não se diz se são 50g de frango, a um diabético não se diz que a fruta é às 5 da tarde. Inclusive, uma pessoa que realmente necessita uma dieta medicamente controlada não se dá esse nível de detalhe. E, no entanto, com a alimentação infantil nos encontramos com isso, provavelmente porque com a alimentação infantil continua-se recomendando mais ou menos da mesma maneira, talvez por tradição, que há 80 anos provavelmente porque naquela época, os bebês se não mamavam no peito e os bebês ricos não tomavam peito, porque isso era coisa de pobre, também não tomavam o leite nós temos na farmácia, fabricado por uma multinacional. Em seu lugar, o leite se preparava em casa, ainda em inglês esse leite se chama fórmula, tantos ml de leite fervido em casa, porque também não se vendia o leite pasteurizado, com tantos ml de água, com tantos gramas de açúcar e você já tem a fórmula do menino. Sem vitamina c, sem ferro, sem vitamina d, as crianças pegavam escorbuto. Então era necessário dar-lhes alimentos muito preparados, o suquinho de laranja, porque a fruta fazia com que suas gengivas sangrassem por causa do escorbuto, era preciso dar-lhes o fígado, que tem vitamina d, principalmente o fígado de bacalhau. E assim se chegou a dar as primeiras papinhas com menos de 1 mês, a única maneira de dar a alguém tão pequeno a comida é metendo dentro da sua boca, não tem outro jeito.

Agora sabemos que não é necessário começar tão cedo, entre outras coisas porque os senhores fabricantes de leite já acrescentaram essas vitaminas aos seus produtos e porque os bebês já não tomam a mesma mamadeira de antes. E aprendemos que os que são amamentados nunca precisaram dessas coisas e agora se recomenda começar aos 6 meses. Só que estamos começando aos seus meses da mesma maneira que quando se começava às 4 ou 5 semanas, tomando muitas precauções, com um estrito controle médico, medindo os gramas e os mililitros e enfiando a comida na boca do bebê, que é a coisa mais angustiante do mundo.

E é curioso como que tantos bebês, que enfiam tudo na boca, enfiam as canetas, as chaves do carro, os papéis, não tem mães que não tenha tido que tirar papel da boca do filho. Enfiam tudo na boca menos a comida. Ao ver a colher, começam a chorar. Qual experiência teve que viver um bebê, para ser capaz de meter na boca qualquer porcaria, menos o que se come?

É preciso entender qual o objetivo da alimentação infantil, ou seja, por que damos aos bebês outras coisas além do peito? Por quê não podemos dar o peito a vida inteira. “Ah, mas é que eu adoro amamentar, eu lhe daria o peito a vida inteira!” Mas, não é possível porque se você amamentar a vida inteira, a sua mãe vai ter que vir te amamentar e a sua avó vai ter que amamentar a sua mãe. E algum momento a corrente se rompe, além de que amamentar a vida inteira quer dizer a sua vida inteira ou a vida inteira dele?

E com a mamadeira, não poderíamos dar mamadeira a vida inteira? Bom, na mamadeira não porque fica feio, quem quiser que beba num copo. Vamos um pouco por esse caminho, ou seja, existe o leite número 2, depois o leite de crescimento, depois tem um período que a indústria ainda está procurando o que enfiar, mas já existe leite para mulheres com menopausa, e temo leite com pouca lactose, sem lactose, leite meio vegetal...Essa coisa do leite é como um câncer no supermercado, que vai se espalhando e fagocitando o resto dos alimentos. E vai se deslocando, cada vez existem mais leites e mais tipos. Esses leites de crescimento, leites com cálcio extra, leite de soja, não estão desenhadas para que uma pessoa só tome leite, estão desenhadas para que coma outras coisas e também leite. Sempre se pode comer outras coisas e não tomar leite, não tem problema.

É possível fabricar um leite que não seja necessário nada mais? Um leite para crianças de 5 anos, de 10 anos, para senhores de 50 anos? Sim, por que não? Por que a partir dos 5 anos, sei lá, não tem suficiente cálcio. Põe mais cálcio. É que a partir dos 20 anos, precisa de mais fósforo. Então põe mais fósforo. Isso são coisas baratas. Não custaria nada que houvesse um comitê internacional de especialistas de nutrição que diria o que tem que comer exatamente cada um segundo sua condição física, segundo sua idade, segundo seu estado. Existiria um leite para mineradores, um leite para esportistas, um leite para caminhoneiros, um leite para grávidas, um leite para mães que amamentam. Eu iri ao supermercado e diria: escuta, vocês tem um leite para pediatras entre 50 e 60 anos? “Xi, esse acabou! Se o senhor quiser, temos o leite para ginecologistas” Ah, mas os ginecologistas fazem mais esforço físico para tirar o bebê, não pode ser o mesmo leite! “Na semana que vem recebemos o leite para pediatras, com certeza!” Com um leite assim que tivesse tudo, as pessoas tomariam sempre a quantidade exata de colesterol que necessitam, a quantidade exata de sal, de açúcar,. Não existiriam pessoas com problemas de colesterol, de pressão alta, de diabetes, poderíamos viver 100 anos. Por que não fazemos isso? Por quê se é para comer assim, se é para comer um copo de leite de café da manhã, dois no almoço, um de lanche e um na janta, e de repente, no Natal eu me permito meio copo de leite com sabor turrón (doce típico de natal espanhol). Se é pra viver assim, 100 anos comendo merda, não quero viver 100 anos.

Preferimos comer comida normal, preferimos comer paella ou coelho com agliolio ou tortilla de batatas, ainda que às vezes isso nos leva as equivocarmos. E isso faça com que às vezes alguns tenham obesidade, outros hipertensão, outros tenham colesterol e outros açúcar. Mas, que caramba, nós que vamos viver nesse vale de lágrimas que desfrutemos um pouco. E queremos ter esse privilégio de comer comida normal e tomar nossas decisões e queremos o mesmo para os nossos filhos. Não queremos que nossos filhos mais velhos tomem o leite multimedia nem a pílula os astronautas que já tem de tudo. Queremos que possam comer comida decente.

Então o objetivo da alimentação infantil não é nutricional, não se trata dar ao bebê coisas que o leite materno não tem. A única coisa que teríamos que acrescentar, em todos os casos, a partir de certas idades, seria o ferro. A maneira mais fácil de dar ferro a um bebê não é dando frango, que tem ferro sim. Mas se o problema fosse ferro, o pediatra não diria: a partir de agora, comece a dar frango, comece a dar carne. O pediatra diria: a partir de agora, além do leite materno, dê algumas gotinhas de ferro por dia. Porque o frango, sabe Deus se come, se não come, se faz uma bolo e depois cospe. O mais seguro é dar as gotas, você está segura que engoliu. Com o peito e ferro já lhe basta por toda a vida.

E com a mamadeira, não custa nada fazer um leite com mais ferro, é facílimo. Portanto, o objetivo, quando você dá comida aos bebês não é nutricional é educacional. Nós lhe damos outros alimentos porque tem que ir aprendendo a comer normal. É preciso pensar no objetivo a médio e a longo prazo: o quê eu quero que coma meu filho quando tiver 2, 3, 5, 7 anos. Quero que ele coma comida triturada, e que eu tenha que lhe dar e que tenha que tapar o seu nariz para abrir a boca e que tenha que fazer o aviãozinho com a colher e por os Teletubbies para que se distraia? Conheci uma mãe que lhe punha o Baby Einstein. Já tinha entendido que não lhe tornava mais inteligente, mas para comer funcionava de maravilha.

Se você não quer chegar a isso, não se meta por esse caminho. A criança para aprender a comer normal precisa que lhe demos comida normal. E o que poderia ser muito simples, muito fácil de aprender aos 6, aos 8 ou aos 10 meses se converte em algo muito difícil aos 2, aos 3 ou aos 4 anos. Que, ao fim, aprendem todos, isso com certeza. Todos, ao final, comem. Quando me encontro com as mães que se meteram nesse caminho, que já tem crianças de 3 anos que não mastigam nada, que quando encontram um pedaço sem triturar na papinha, vomitam tudo, que começam a chorar e já não comem mais o resto do dia, então eu lhes digo: não se preocupe que isso se vai ajeitar por si mesmo. “Meu filho vai terminar o ensino médio?” Não sei, tem gente que não termina o ensino médio. “Meu filho vai entrar na universidade?” Mais difícil ainda. Meu filho vai mastigar algum dia? Claro que sim, por favor, isso todo mundo faz! Então, aconteça o que acontecer eu sei que seu filho vai mastigar um dia. Vai mastigar se a senhora fizer tudo certo e vai mastigar se fizer tudo errado. Assim que se, só por via de dúvidas, não faça nada, e assim não se arrisca a fazer tudo errado. O que eu chamo de fazer errado: criticar a criança, zombar dela, por de castigo, dar bronca, ridiculizá-lo. Existem coisas não só faz a mãe, mas que contribui toda a família, que vem para o Natal e sempre tem um engraçadinho que diz: menos mal que o fulaninho não come presunto porque assim sobra mais para os outros. Por favor, não é para humilhar a criança dessa maneira. Se ninguém diz nada para a criança, não há problema. A pergunta não é: com que idade vai mastigar meu filho, o problema é o que vamos fazer de agora até que ele mastigue, se vamos fazer nós todos, principalmente a criança, felizes ou infelizes.

Agora, quando ainda você está a tempo não se meter por esse enrosco, o que eu digo às mães é: ofereça comida comum e corrente. Não estou dizendo: que coma a papinha que tem que comer e depois pode fazer bagunça com a comida. É que não tem que comer nenhuma papinha. É que simplesmente você tem que deixar a comida ao seu alcance. Você tem a criança no seu colo enquanto você come, basicamente porque senão é assim ele não te deixa comer, porque começa a chorar. A criança está nos seu colo, você está comendo, as coisas que por sua idade ainda não pode comer, você deixa longe, as coisas que pode comer, ficam perto. E cedo ou tarde, ele vai tentar pegar alguma coisa e vai por na boca. Essa criança que pega uma ervilha e a leva à boca está aprendendo. Aprende a pegar com a mão, parece uma bobagem, mas chama-se psicomotricidade fina e me parece mais importante. Aprende a por na boca, que é preciso acertar o buraco, aprende a notar os distintos sabores e texturas dos distintos alimentos, aprende a tomar decisões: cenoura, ah, não gosto, frango, sim, engulo. Isso espanta os pais: ui, mas então só vai comer o que gostar! Pois claro que sim! Quem come o que não gosta é tonto! Mais tarde, você vai ao restaurante, pega o menu e pede o que gosta. “Ei, traga-me o bacalhau que me dá muito nojo”. Não, você pede o que você gosta! E é importante que a criança aprenda a comer o que gosta porque quando tiver 15 anos e vá por primeira vez com seus amigos a comer por aí, vão entrar numa pizzaria e se te ligar para perguntar: mamãe, de que eu peço a pizza vai ficar ridículo. Tem que ser capaz de dizer: quero de presunto. Aprende a tomar decisões, aprende a mastigar mesmo que não tenha dentes, um pedaço de pão, uma ervilha, um pedaço de cenoura fervida, aprende a deglutir sólidos e aprende, sobretudo que comer é algo agradável, que tinha vontade de comer e sua mãe, que era muito legal lhe deixou.

Por outro lado, a criança a qual lhe metem uma colher enorme de papinha de verduras na boca enquanto fazem o avião, ou enganando com a chupeta, sabem: “Toma a chupeta, ele tem um reflexo, colher, oops, engoli, chupeta, oops, colher, engoli de novo.” Até que a criança aprende a deixar de engolir no momento que lhe tiram a chupeta da boca. Essa criança que come a papinha inteira não aprendeu nem a comer com a mão, nem a abrir a boca nem a mastigar nem a engolir, nem a tomar decisões, porque vão enfiar goela abaixo tanto faz se ele quer ou não quer, nem a deglutir nem absolutamente nada. E ainda por cima, como comeu uma quantidade absolutamente enorme, estará pior alimentado porque essa papinha só de verduras não tem proteínas, não tem gordura, apenas tem vitaminas, essa é uma água suja, por favor, isso é operação biquíni, menos leite e mais verdura. Por outro lado, uma criança que apenas vai come um par de ervilhas, um pedaço de frango e uns dois macarrões, como depois vai tomar muito leite estará muito mais alimentado."
Por Carloz González, pediatra


Tradução de Bel Kock-Allaman
Fonte: http://www.facebook.com/pages/Meu-filho-n%C3%A3o-quer-comer/163970140355077
O Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=vKioOmhIfGU

sábado, 17 de março de 2012

Para Aurora, no futuro



Você nunca verá um elefante se apoiando pela cabeça
Mas verá incríveis acrobatas e palhaços em cena

Você nunca verá ovos coloridos para a páscoa ou um Lanche Feliz
Mas acariciará a barriga de porquinhos e saberá fazer a galinha sorrir

O caminhão de sorvetes não será para você uma lembrança mágica
Mas saberá que o sorvete de soja não causou sofrimento ou lágrima

Você ouvirá o gentil gluglu do peru ao afagar suas asas
E agradecerá que ele está vivo no dia de ação de graças

Enquanto outras crianças compram tênis de couro e comem na churrascaria
Você beijará vacas, alimentará ovelhas e comerá soja com alegria

Ser diferente pode ser difícil, eu sei – O mundo pode ser amarga lembrança
E talvez você seja debochada pelas outras crianças

Mas compaixão é um dom que poucos compartilham
E ao contrário da mamãe, seu coração será sempre tranquilo

Então, nunca sinta-se envergonhada por se importar
Pois terá beleza e empatia difíceis de se achar

E quando ver um carneirinho resgatado e em sua lã tocar
Não sentirá tristeza ou remorso, mas uma paz no ar

O que demorou muito para eu aprender, ensinarei desde quando você nascer
E sua pegada na Terra será a de um pequeno e lindo ser!

(Heather Leughmyer)

sexta-feira, 16 de março de 2012

Limpando por dentro e por fora

Bora limpar a vida mulherada?

Meu ap é pequeno e o povo ADORA mandar uma tranqueira pra cá. Sabe aquele secador de cabelo quebrado que a fulana não quer jogar fora? O pregador do casamento o filho do beltrano que a sicrana não quer mais? Pois então, o povo manda tudo pra cá, e geralmente é coisa velha, quebrada e que não funciona. Outro dia minha mãe e minha sogra se juntaram e insistiram que eu precisava enfiar um microondas aqui, que nem tem espaço pra gente na cozinha, que dirá pra um lixo desses. Daí que esses dias eu me irritei e tô mandando tudo pro lixo (algumas coisas eu vou guardar, principalmente as quebradas, e doar de volta pra quem mandou pra minha casa). Tirei umas 4 caixas de coisas que eu não gostava, ou não usava há mais de 1 ano e doei pra quem precisava. Ainda acho que minha casa tá entulhada, mas já melhorou um pouco! A minha meta é só ter em casa aquilo que realmente precisamos, sem excessos, sem luxos e sem consumismo, pois isso não cabe mais na nossa vida (não temos grana, espaço físico e o mundo não comporta mais esse modo de vida de "comprar, comprar e comprar").

Isso de me limpar de coisas (e sentimentos) me fez tão bem, mas tão bem que eu queria lançar um desafio:

Sabe aqueles sentimentos que não te fazem mais bem? Aqueles hábitos que vc quer mudar há séculos? Aquela roupa que tá guardada há anos? Os kilos há mais que estão estacionados?
Então, bora pegar isso tudo e jogar no lixo?

Estou há uns meses sem fumar, fazendo exercícios, parei o remédio e tirei 4 caixas de coisas que não tinham mais utilidade em casa, e isso me fez sentir tão, mas TÃO leve!!!!

Tenta você também colega! Syjoga no desapego e abre espaço na sua vida pra coisas novas e emoções renovadas!

segunda-feira, 12 de março de 2012

La Loba

La Loba, resumidamente, é a história de uma velha feiticeira que trazia vida a partir de ossos. Pra quem tiver interessem em saber mais, é só ler o livro "Mulheres que correm com os lobos".

E daí que eu tive depressão pós-parto. Foi tenso, foi tipo a pior tristeza que eu já senti na minha vida, um misto de sentimentos antagônicos que até hoje eu sinto vergonha de falar e, pra intensificar tudo, eu ficava o dia inteiro sozinha com a Aurora, pois o Luciano tinha que ir pra faculdade. Tomei remédio, melhorou, mas não passou, e começei a fazer terapia uns meses atrás.

O remédio estava me fazendo ficar dócil, muito dócil, como eu nunca fui na vida. Recentemente eu passei por situações absurdas, nas quais minha dignidade e moral ficaram profundamente afetadas, e eu simplesmente não conseguí reagir. Fiquei quieta, emudecida. Voltando à minha terapia e conversas diárias com minhas amigas, reparei na quantidade de absurdos que aconteceram ao longo desse 1 ano em que eu tomei o remédio e me dei conta de que era hora de parar (o psiquiatra já tinha me dado alta havia uns 2 meses, mas me deu receita pro caso de eu precisar), principalmente porque a minha filha foi muito afetada em uma série de situações e ao invés de contar com a mãe dela, contou com um espantalho mudo e apático. 

Acho que eu acabei confundindo as coisas e atribuí à depressão pós-parto. Tentei calar com remédios algo que ardia dentro de mim, que berrava desesperadamente por liberdade. Tomei remédio pra suportar coisas que eu não deveria, que eu não queria. Tudo em prol de um ideal que no final das contas não valeu a pena. Achei que agindo desse jeito, estaria ajudando a Aurora, mas percebí que foi justamente o contrário:  minha filha só saiu perdendo com isso. 

Agora eu tô aqui, juntando os ossos e tentando dar vida ao que antes era a minha carne. Aprendendo a usar toda a minha raiva de volta, a ficar mais brava, menos polida e menos contida. Estou dando vazão aos sentimentos, aos uivos loucos e à intolerância com quem ousar ferir a mim e à minha cria novamente. Isso é como eu nunca deveria ter deixado de ser, é o grito que eu me arrependo amargamente de ter calado e que não vou mais permitir que censurem.

domingo, 11 de março de 2012

Do Bem


Daí que outro dia na casa dos Gringos ofereceram um suco de caixinha pra Aurora. Eu logo torci o nariz e ví o Lu dando a caixinha pra Aurora. Já ía começar com o "mimimi" quando eles me mostraram: uma caixinha simples, com uns dizeres engraçadinhos e o que mais me chamou a atenção: suco de fruta integral, sem água e sem açúcar. AMAY! Não conhecia, e depois de ler a embalagem - e provar o suco - virei fã! Fiquei feliz por saber que vende aqui em Lavras.

Aí em cima tem um stop motion engraçadinho de propaganda do suco. É uma ótima alternativa pra quem não quer enxer os filhos de açúcar e tb não tem muito tempo pra preparar.
Também achei esse comunicado deles e adorei:


E não, ninguém tá me pagando pra fazer propaganda nem me ofereceram nada em troca. Pra falar a verdade, nem conheço os caras, mas só deles fazerem um produto pra um público diferenciado - e que ocupa grande fatia do mercado, uma pena que as outras empresas não pensem que nós somos relevantes o suficiente pra elas fazerem produtos diferenciados - já me cativou. :) Ademais, são cariocas né? Preciso falar mais alguma coisa? hehehehehe

sexta-feira, 9 de março de 2012

o tal do 8 de março e o grito


Daí que eu ando puta, mas puta mesmo.

Começou com uma irritação sabe-se-lá-deus com o que. Achei que fosse TPM, finalmente depois de 2 anos sem menstruar. Não era e continuou a crescer, como um monstro dentro do meu peito, uma sensação de náusea, vômito e impotência. Aí começei a enxergar as coisas de um outro jeito e, pra meu desgosto, além de só ver, começei a olhar pras coisas e enxergar o que elas eram de fato. Sabe aquele almoço de domingo que a sua avó cozinha enquanto todos os homens da casa estão bebendo cerveja? Pois é, aquilo pra mim passou a ser insuportável, beirando o absurdo.

Aí eu casei. Casei e o meu marido tem uma família muito tradicional mesmo. A maior parte das mulheres ainda fica em casa com os filhos enquanto os homens trabalham. Ok, se funciona pra eles, eu não tenho nada haver com isso, mas sempre me entristeceu saber que algumas mulheres (não é o caso delas) são obrigadas à isso, não tem escolha (é só ir em qualquer interior do Brasil pra constatar), ou quanto tem "opção", depois tem que enfrentar uma jornada tripla: trabalho + cuidados com a casa + cuidar dos filhos, enquanto o homem lá, com o bundão sentado no sofá e bebendo cerveja. Eu não queria isso pra mim, nunca quis. Mesmo o Luciano tendo veias feministas, as vezes ele ainda se esquece de como as coisas são e se pauta no sistema vigente: o patriarcado que impera. Acho que isso melhorou bastante desde que tivemos a Aurora (imagino que ele queira dar o exemplo pra ela de uma família em que há divisão de tarefas), mas ainda está longe do ideal.

Parei pra pensar e ví que da mesma forma que o sistema é opressor comigo, é opressor com ele: homens não choram, homens precisam sustentar toda a família, homens tem que fazer todo o trabalho duro, carregar coisas pesadas e não podem ser emotivos. Homens tem que ser poços de força bruta, sem direito à fraquezas. Homem não fica em casa pra cuidar dos filhos (por mais que alguns queiram desesperadamente essa função), aliás, homem nem cuida dos filhos (já viu a licença paternidade? CINCO dias! como é que alguém espera que se conheça o próprio filho em cinco dias?).

Hoje eu decidi que pra mim chega! Não, isso não funciona pra mim. Não, não tenho saco pra isso e não, não vou mais compactuar e sim, estou aprendendo a ser leoa. Por muito tempo a loba em mim esteve adormecida, submissa embora sentido-se injustiçada, cativa e dócil. Mas hoje não. Hoje eu acordei com uma vontade louca de gritar aos quatro ventos que sou livre! Sou livre e tão boa e capaz quanto qualquer homem. Que não mais aceitarei convenções sociais que de nada me favorecem! Não aceitarei o cabresto que tentam me colocar desde sempre. Não me curvarei diante de nenhum homem, não aceitarei piadas sexistas e vou comprar briga sim, doa a quem doer.

A loba em mim uiva, como que num chamado interior de algo que se encontrava profundamente adormecido. Uiva cada vez mais alto, e cada vez mais indignada. Uiva, convidando as outras lobas a fazerem parte da matilha e lutarem, lutarem com as armas das mulheres e ajudar a cada uma de nós a se libertar.