terça-feira, 10 de julho de 2012

A greve e as liberdades civis

Semana passada minha mãe, que é professora de federal, tinha me dito, mas eu não acreditei. Hoje eu acordei com a seguinte menssagem do ANDES:

Na hora eu liguei pra minha mãe e ela disse que saiu até no jornal nacional e nas outras mídias abertas (que eu não ví pois não temos mais TV em casa).

A educação pública está uma merda. Merda mesmo, completamente sucateada, e isso vai desde as creches às universidades. Faltam condições de trabalho, salários dignos, reajustes e planos de carreira melhores, falta material de trabalho, em alguns casos falta até GIZ pra escrever no quadro. Estou tremendo de raiva até agora. O governo do PT, que eu tanto apoiei e torci pra chegar ao poder, um governo grevista e sindicalista, justo eles, estão ameaçando os professores que estão em greve de cortar o salário. Muito me admira, muito mesmo, que por trás de todo aquele discurso de "nós somos do povo", esteja um governo notadamente autoritário, que manda dinheiro pra ajudar na crise da Europa enquanto os professores do nosso país se lascam pra tentar trabalhar.

Eu não quero mais viver num país em que as liberdades civís estão ameaçadas - porque greve é um direito do trabalhador garantido por lei, e se eles suspendem esses direitos, fere as liberdades civís e vai contra a constituição, e isso pra um autoritarismo maior é um pulo. Não quero mesmo. Esses dias atrás eu e o Lu estávamos até procurando Universidades pra fazer o nosso mestrado, mas decididamente não dá mais pra viver num país em que o cidadão não é respeitado e não é levado em consideração. Num país de miseráveis, com políticos corruptos, uma mídia extremamente comprada que nos faz de massa de manobra, condições precarissímas de saúde, escolas ruins, com muita violência e com as maiores taxas de impostos do mundo!

Fico pensando no tipo de vida que eu quero pra minha filha, e o ideal está bem longe daqui. Não quero que ela conviva com esse tanto de violência, com o descaso das autoridades pro sofrimento e necessidades das pessoas. Eu, como mãe, tenho o desejo que minha filha viva numa sociedade igualitária, de forma digna e respeitosa, que não tenha que matar um leão por dia pra ter seus direitos respeitados, que não sofra violência física, moral, obstétrica e discriminação de gênero, que possa exercer sua sexualidade sem que seja podada tanto pela sociedade quanto pelo estado, sem medo de ser estuprada ou passar por coisa pior. Quero que ela tenha acesso a boa educação, à saúde de qualidade, que tenha condição e acesso a boas bibliotecas, que possa contar com um governo que tenha preocupação em manter a equidade social e que não privilegia uma classe em detrimento da outra. Enfim, todas essas coisas que a gente não vê no Brasil, e não vai ver tão cedo.

Quando eu tinha lá meus 14 anos, eu queria mudar o mundo, e pra isso, mudei muita coisa em mim. Hoje eu vejo que não adianta dar murro em ponta de faca, que não vai adiantar ficar remando contra a maré se a própria sociedade civil não se mobiliza pra mudar a realidade do país, se as próprias pessoas são corruptas em todos os sentidos que a palavra corrupção pode ter. Desistí, com muito pesar e tristeza, eu sinceramente desisto de tentar viver aqui. Não quero viver mais sob a sombra do medo, da imoralidade e do desrespeito. Não quero mais sair nas ruas e ver a impunidade estampada na cara das pessoas, a falta de civilidade e de consideração ao próximo a cada esquina. Não quero que minha filha conviva com essas coisas todas e que ache isso normal. Cansei, cansei mesmo desse Brasil de ninguém, desse estado autoritário que não banca o cidadão nas coisas mais básicas.