sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Sem açúcar, com afeto.

Essa semana saiu na internet um vídeo chocante e estarrecedor sobre a qualidade (a falta dela, na verdade) da alimentação das crianças brasileiras, quem curtiu a página do blog deve ter acompanhado a postagem do vídeo aqui. Quem é mãe um pouquinho mais cri cri já deve ter reparado tudo o que o vídeo fala, mas quem não reparou ainda ou não sabe interpretar tabelas complicas de composição de alimentos e ingredientes mil, vale muito a pena assistir. O vídeo está disponível nessa página e aqui embaixo eu vou colocar o trailler pra vocês ficarem com um gostinho de quero mais:

O documentário trata, com uma abordagem muito legal, algumas das coisas que tem dentro das comidas tradicionalmente "infantis", sobre como as crianças comem, o que comem e quais problemas uma alimentação recheada de salgadinhos do tipo "porcaritos" e coca-cola podem fazer com que a expectativa de vida da nova geração seja mais baixa do que a nossa. É chocante!

Há alguns meses atrás, eu e o Lu assistimos o "Food Revolution", um programa do chef inglês Jamie Oliver em que ele vai pra uma cidade com o maior índice de obesidade e morte em decorrência de complicações por excesso de comida dos EUA e tenta ensinar as pessoas a cozinharem comida melhor. Em várias partes a gente fica morrendo de nojo, porque ele mostra como são feitos os nuggets e a maior parte das comidas processadas que a gente come. Quando assistimos, ficou aquela imagem de que aquela realidade era muito longe da nossa e etc, mas ao assistir o documentário "Muito além do peso", fica claro pra gente que a globalização de junkie food já chegou até a comunidades indígenas. Se você quiser baixar a série "Food revolution", dá pra baixar o torrent aqui.

Um dos principais problemas associados com a obesidade é, sem dúvidas, o sedentarismo. As crianças não brincam mais na rua, não correm, ficam trancadas em cercadinhos, presas em andadores ou então na frente da TV e do PC. Eu mesma sou dessa geração: meus avós vira e mexe faziam as minhas vontades e compravam um caminhão de comida "de criança". Meu avô chegava ao cúmulo de adoçar a minha mamadeira com QUATRO dedos de açúcar. Muito da minha infância foi vendo He-man, Inspetor Buginganga, Punky a levada da breca, TV colosso e outros clássicos da Tv aberta, e pelo que eu noto, a geração seguinte à minha está deveras pior.

A gente que é pai e mãe sabe o quanto é complicado deixar o filho brincar na rua com assaltos, sequestros, pedófilos, acidentes de trânsito e a falta de segurança em geral, então acaba que nos rendemos aos programas de tv e jogos eletrônicos como forma de manter as crianças em casa. Em geral, os pais trabalham o dia inteiro, e o que eu vejo de muitas famílias que eu tenho contato próximo é que as crianças ficam em casa na frente da telinha umas 6h por dia. Quem já parou pra assistir os canais infantis ou mesmo a programação da tv aberta na hora "das crianças" já notou a quantidade absurdade propagandas! Eu ADORO desenho, mas pra mim é insuportável assistir 30min de discovery kids, por exemplo. Um dia eu tava assistindo um desenho e até eu fiquei com vontade de ter uma barbie e ir comer no Mc Donald's. Sério, é absurda a quantidade de propaganda. Eu contei 5min de desenho e e quase o dobro de propagandas. Fora que, durante o desenho, eles diminuem o som, o que faz com que vc tenha que aumentar o volume da TV, daí durante os comerciais eles voltam a aumentar o som e fica praticamente impossível ignorar o novo Max Steel faz-até-o-seu-dever-de-casa. Você não fala com o seu filho, porque tá ocupado trabalhando, mas a propaganda fala com ele, e ela fala o dia inteiro. No final do dia, com toda a energia acumulada durante horas com a bunda no sofá e frustrada, a criança vai descontar no mais óbvio e rápido, justamente naquilo que ela passou o dia inteiro ouvindo a TV falar que ía trazer uma sensação de bem-estare saciedade: consumo! Os alvos preferenciais são as comidas açucaradas, as bolachas recheadas e os embutidos, e isso faz tão mal que o documentário mostra crianças de 4 anos (isso mesmo, vc leu certo, quatro anos) com trombose, diabetes e problema no coração por causa de comida.

Aqui em casa percebemos isso acontecendo, em menores proporções, bem cedo: por volta de 1 ano, eu assistia o programa de culinária da Gazeta toda tarde, e notei que Aurora começou a brincar menos e subir no sofá pra ver comigo. Combinei com o Lu de só ligarmos a tv quando ela dormisse porque a programação é completamente inadequada pra idade dela. Chegou a um ponto em que nós nos demos conta de que não víamos mais tv e que ela só servia pra "fazer barulho". Como aqui em Lavras só pega os canais se vc tiver parabólica ou tv a cabo, cancelamos a tv a cabo e agora temos um aparelho na sala que serve de cama de gato e pra eventuais partidas de vídeo-game. Assim agente evita que Aurora vire um zumbí e que a gente morra alienado. Tem quase 1 ano que não assistimos tv em casa, só na casa de parentes, e olha, vou te dizer, quando eu tenho o desprazer de passar em algum lugar que esteja passando o jornal nacional ou coisa que o valha, tenho vontade de vomitar com a quantidade de mentiras e notícias importantes que eles omitem. Não que eu não assista mais besteiras (eu adoro seriados americanos, filmes trash e outras bobagens) e Aurora assiste sim alguns filmes, mas não como antes. O reflexo disso, pelo menos na minha casa, é uma criança muito mais desperta e que interage o tempo todo. Cansa pra caramba, mas vale muito a pena. Só de ir ao mercado e não ter que ouvir um escândalo em prol de algum doce com brinquedo, vale todo o esforço.

Eu super entendo que comprar uma latinha e esquentar no microondas seja muito mais fácil, principalmente quando você passa o dia inteiro na rua e não tem quem cozinhe pra você, acredito mesmo que muitas mães que dão processados pras crianças não sabem o que tem na maior parte daquelas caixinhas (eu não sabia) e que a gente dá essas coisas com a melhor das intenções, crente que tá fazendo um agrado pra criança (afinal, nenhuma pessoa normal faz mal ao próprio filho deliberadamente, mas no final das contas tá dando um alimento extremamente prejudicial e que muitas vezes pode até causar necrose intestinal (como é o caso das papinhas industrializadas, que levam uma substância chamada "fumarato ferroso" e que eu já comentei aqui). Então, o que eu vou tentar fazer se as 100mil matérias que eu tô fazendo na faculdade me permitirem, é tentar dar alternativas práticas e gostosas pra gente lidar com a falta de tempo e oferecer alimentos de qualidade pras crianças. :) Aguardem as cenas dos próximos capítulos!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O relato da Juliana - Parto normal após cesárea com troca de obstetra durante o trabalho de parto!


"Não imaginava que eu teria um segundo filho, não imaginava que eu teria um dia um parto normal, não imaginava que esse parto seria tão intenso e nem muito menos que a história teria tanta repercussão. Muito se comenta, muito se conta, muito se fala. Muitos comentários sem sentido, sem saber do que de fato aconteceu. Mas a minha história só eu sei.....e é essa:

Eu não planejava ter um segundo filho. Tomava anticoncepcional, mas quando a cartela do mês acabou e a menstruação não veio suspeitei imediatamente da gravidez. Descobri que estava grávida pela segunda vez no dia 18/08/2011, eu estava com apenas 3 semanas de gestação.  No início foi difícil aceitar que agora eu seria mãe de dois, pois eu larguei o emprego para cuidar do meu primeiro filho, que nessa época já tinha 3 anos e eu estava me reorganizando para retomar a vida profissional. E de repente, tudo mudou!
Com aproximadamente 15 semanas, já feliz com a gestação e fazendo planos para a chegada do bebê eu fui convidada pela minha irmã Luciana para ir a um grupo de gestantes, o Ishtar. Assim como a grande maioria das mulheres eu não tinha informação alguma sobre parto normal e natural e acreditava que cesárea era algo comum e perfeitamente aceitável. Meu primeiro filho nasceu através de uma cesareana eletiva, com 36 semanas de gestação, no dia 28/12/2007 (o motivo hoje eu sei: conveniência médica).
Bastou apenas um encontro para que o meu conceito mudasse. Cheguei caladinha, de mansinho, ouvindo e observando as conversas das meninas e os relatos das mães que tiveram e que desejavam ter um parto. Eu decidi: também quero isso para mim!! Ao final do encontro já comecei a buscar contatos de doulas e de médicos. Só havia um médico que atendia ao meu plano de saúde, mas era em outra cidade. Eu não tinha condições de pagar por um pré-natal e parto particular, pois em casa somente meu marido trabalhava. No início foi muito difícil convencer o meu marido de que seria necessário ir para Niterói para ter um parto. Tendo um plano de saúde considerado bom ele não compreendia porque eu não podia escolher um médico que atendesse o convenio na própria cidade. Depois de muitas conversas (e de passar por algumas consultas com médicos do convenio no Rio de Janeiro) ele finalmente entendeu que se eu realmente quisesse ter um parto normal eu precisaria de um médico topasse acompanhar. Afinal, eu já tinha uma cesárea anterior e a justificativa dos médicos era sempre a mesma: uma vez cesárea, sempre cesárea. Decidimos então marcar a consulta com o médico de Niterói. Segundo relatos ele tinha histórico de ter acompanhado alguns partos após cesárea então se ele topasse fazer meu pré-natal eu tinha chances maiores do que com qualquer outro médico de convênio. Durante todas as consultas de pré-natal ele não demonstrou nenhuma objeção ao parto. Sempre muito educado, respondia meus questionamentos e aceitava todas as condições propostas por mim.
Assim, tranquilamente, se passaram 38 semanas. Na última consulta, ele comentou durante os exames que o bebê ainda estava alto, por isso acreditava que o bebê nasceria somente próximo da minha DPP, que era dia 21/04/2012. O bebê estava bem e eu também. Porém, ele solicitou que eu fizesse uma utrassonografia com 39 semanas, alegando que “você tem como saber se está se sentindo bem, mas nós não temos como saber se o bebê está realmente bem aí dentro”.  Essas palavras me deixaram um pouco confusa, já que passei a gestação inteira estudando bastante e sabia que em gestação de baixo risco, nenhuma ultrassom era necessária após as 24 semanas. Além disso, ele me liberou da consulta da semana seguinte (39 semanas) justamente porque o bebê estava bem clinicamente e eu também. Então pensei: afinal, tem ou não tem como saber se o bebê está bem? Se houvesse alguma suspeita de problema eu deveria voltar na semana seguinte, não? Qual teria sido o motivo da ultrassom? Decidi marcar a ultrassom para o dia 24/04/2012, data em que eu já estaria com 40 semanas completas e sabia que a partir daí era realmente necessário um acompanhamento mais cuidadoso.
No dia 17/04/2012 por volta das 19hs da noite, comecei a ter pródromos. Eu já havia tido algumas noites anteriores de pródromos então acreditei que seria só mais uma noite como aquelas e que o trabalho de parto ainda não iria engrenar. Comi, tomei banho e fui dormir.
Por volta das 2hs da manhã eu já estava muito incomodada, ficar deitada era impossível. Levantei e fui ao banheiro, percebi na calcinha um pequeno sangramento e fiquei eufórica: AGORA VAI!!! Continuei sozinha, tentando relaxar e segurar a ansiedade, mas por volta das 4hs da manhã eu já sentia que precisava de companhia. Liguei para a minha irmã que também era minha doula, que veio imediatamente para a minha casa. Eu estava muito agitada e queria caminhar. Saímos então para caminhar ao ar livre no condomínio. A cena era até engraçada... duas “loucas” caminhando sem rumo em plena madrugada. Durante a gestação eu havia decidido contratar uma “segunda doula”, pois a minha irmã poderia ficar muito envolvida emocionalmente (por ser o nascimento do sobrinho). Por volta de 7hs da manhã, decidi então ligar a para a doula Ana. Enquanto aguardava a chegada dela a minha irmã foi comprar pão para tomarmos café, afinal eu precisava me alimentar, ainda havia muito trabalho a ser feito! A Ana chegou por volta das 8hs e tomamos café todas juntas, entre as contrações, que nessa altura ainda vinham bastante espaçadas (cerca de 15 minutos de intervalo).
Meu marido foi trabalhar normalmente. E assim ficamos durante todo o dia, almoçamos, caminhamos mais. Relaxei, ouvi musicas (eu havia gravado um CD para o momento da chegada do meu bebê)... Chorei ao ouvir a musica de Chico Cesár – Quando eu fecho os olhos. Eu não podia acreditar que tudo estava dando certo e que em breve eu conheceria o rostinho do meu bebê.
O tampão saiu por volta das 15hs.
Meu marido chegou em casa por volta das 16hs e começamos a discutir a ida para o hospital, já que morávamos longe e pegaríamos muito transito na ponte Rio-Niterói (a hora de rush estava próxima). Tomamos banho e nos preparamos. Decidimos sair de casa às 17:30 hs. As contrações vinham em intervalos menores, mas eu ainda estava bem. Eu sabia que ainda não estava em estado avançado de trabalho de parto, mas me senti mais segura e confortável indo para o hospital naquele momento. O principal motivo dessa decisão foi o fato de que ficar horas praticamente imóvel dentro de um carro e parada no transito me parecia algo terrível para uma mulher em trabalho de parto, quanto antes eu fizesse isso melhor seria para mim! Chegamos ao hospital pouco mais de 19hs. O médico ainda não havia chegado. Esperamos na recepção e ele logo chegou. Fomos para uma salinha onde eu seria examinada. Após um exame rápido ele me falou “eu não queria te desanimar, mas você está somente com 1 dedinho de dilatação e o bebê ainda está no plano 0 da pelve.” Eu não acreditei que após um dia inteiro de contrações eu só havia evoluído 1 cm. Fiquei muito frustrada naquele momento, mas respirei fundo e segui em frente. Eu queria muito aquele parto. Os batimentos do bebê estavam OK e isso me deixou tranqüila para continuar. Comentamos sobre a hipótese de voltar para a casa. O médico disse que de fato recomendaria isso se eu morasse na mesma cidade, mas como morávamos no Rio de Janeiro talvez fosse mais confortável ficarmos hospedados no hospital enquanto aguardávamos a evolução do trabalho de parto.  Eu concordei prontamente, pois não desejava passar horas carro novamente, foi muito incômodo (eu tinha dado graças a Deus por ter chegado...rsrs).
Meu marido foi junto com o médico dar entrada na internação. Havíamos feito um acordo de que o parto seria feito  no próprio quarto do hospital, mas não sabíamos se de fato o médico conseguiria essa liberação. Fiquei ainda na recepção com a Ana e a minha irmã, aguardando. O desconforto aumentava cada vez mais e meu marido demorou muito para voltar. Tudo que eu queria era ir para o quarto, o chuveiro, o conforto. Pedi então que a minha irmã fosse atrás dele, para saber o motivo da demora. Quando ela voltou eu percebi que ela estava com uma cara um pouco estranha. Pensei que havia tido algum problema com a liberação de fazer o parto no quarto e falei logo “ me fala o que aconteceu, não me esconda nada”. De inicio ela relutou a me contar, pois não queria me chatear, eu insisti que não queria ficar ali fazendo papel de boba e ela então me contou: “mana, o médico conversou com o Marcelo, por isso a demora. Ele disse que se essa dilatação não evoluir em 2 horas vai ser feita uma cesareana. Por isso o Marcelo nem soube me informar nada a respeito do parto no quarto, ele na verdade já está pensando em como vai te tranqüilizar a respeito da cesárea. Ele ta um pouco assustado”. Fiquei um pouco confusa com isso tudo, pois o médico desde o inicio me pareceu tão confiável. Eu falei pra minha irmã “me ajuda, eu não quero essa cesárea”. Mal terminei de falar e vi no final do corredor o meu marido, ao lado do médico, me chamando para irmos para o quarto. Já que eu estava ali, o jeito era torcer e seguir em frente. Subimos e eu fui logo tirar a minha roupa e me dirigi ao banheiro, fui para o chuveiro e fiquei lá tentando me acalmar. Algum tempo depois minha irmã entrou no banheiro e me perguntou “ mana, você já sabe qual é a situação. Temos 2 horas para tomar uma decisão. Você quer ficar no hospital ou quer ir embora?Quer aguardar ele voltar e esperar um novo exame para saber se evoluiu?”  eu respondi “eu não quero ir de novo para aquele carro”. Ela continuou calmamente me falando “tudo bem, mas se o médico voltar e estiver tudo do mesmo jeito ele irá te operar. Você quer tentar uma segunda desopção ou você prefere fazer a cesárea?” Fiquei irritada por ela cogitar essa possibilidade de cesárea e respondi até com um tom um pouco alto “claro que não, eu não quero cesárea, ele não vai fazer cesárea, ele vai ter que esperar, eu vou mandar ele esperar. 2 horas não é nada!” 
O tempo passou... mas as contrações ao invés de ficarem mais fortes foram ficando mais espaçadas e fracas. Cheguei a ficar 30 minutos sem ter uma contração!!Entrei em desespero, a cesárea era certa se eu continuasse ali. Estava se aproximando a hora do médico voltar e eu já estava cogitando a possibilidade de pedir para que ele me liberasse para ir para casa. Por outro lado, eu estava me sentindo muito insegura e desamparada pelo médico e se eu fosse embora para o Rio de Janeiro novamente eu definitivamente não queria voltar para Niterói de encontro com uma possível cesárea. Eu estava assustada, insegura. Minha irmã repetia a todo momento “você não está desamparada, estamos todos contigo!”. Isso me confortava, mas não me acalmava. Pedi que a minha irmã ligasse para uma amiga nossa muito querida e engajada na causa do parto e nascimento, para saber se a essa altura do campeonato ainda havia alguma outra possibilidade de médico caso eu resolvesse ir embora. Aí começou uma movimentação de telefonemas, entra e saí do quarto. Meu marido, minha irmã (e doula querida!) e a minha doula..correndo contra o relógio para tentarmos tomar uma decisão que me deixasse mais segura. Infelizmente, enquanto eu continuasse ali naquele hospital eu estava já assistida por um médico e sob hipótese alguma outro médico poderia pegar o meu caso. Dividida entre continuar ali e brigar com o médico para que ele me desse mais um tempo ou largar tudo sem rumo e sem assistência e o pior..entrar de novo naquele carro!Muitas coisas passavam pela minha cabeça, Falei com a minha amiga ao telefone, que repetiu tudo aquilo que a minha irmã já havia me falado (em outras palavras). Enquanto eu continuasse ali ela não tinha como me ajudar, a decisão era minha. Eram essas as minhas duas opções. Sair de lá e tentar, ficar lá e aceitar. Mas eu ainda não conseguia acreditar que o médico em que eu tanto confiei não levaria até o final essa história. Foi quando ouvi a voz dele no corredor. Eu ainda tinha esperança de convencê-lo, pedi para que a minha irmã fosse conversar com ele para sentir em que ritmo ele estava. Ela voltou desanimada, ele vinha logo atrás dela. Não deu tempo de que ela me contasse a conversa que teve com ele (só fiquei sabendo depois do nascimento do Pedro)..ela apenas me falou “ele ta vindo, vai te examinar e vai te falar da cesárea!”. Agora era a hora, não tinha mais volta. Respirei fundo!
Deitei e fui examinada de novo. Disse que eu permanecia com apenas 1 cm e que queria avaliar o batimento do bebê durante uma contração..mas a contração não vinha!!!Enquanto isso, fora do quarto, meu marido ainda estava se acalmando e conversando com a nossa amiga Ingrid a respeito da nossa saída do hospital, quais eram as nossas possibilidades? Tínhamos 3: hospital publico, plantonista de convenio, medico particular. Naquele momento eu só pensava em uma coisa: quero parir. O médico chegou a brincar dizendo que a contração não vinha porque ele tava lá, o bebê devia estar com vergonha ou com medo dele (e acho que ele estava mesmo certo, viu!!rs). Ele saiu do quarto alguns segundos, voltou, ficou bastante tempo no quarto, conversamos sobre novelas, etc....e nada da contração. Fora das contrações os batimentos estavam OK, mas a dilatação não tinha evoluído como ele desejava. Meu marido voltou para o quarto, minha irmã e minha doula também estavam comigo. Ficamos todos em silêncio e então eu falei “Dr, eu quero voltar para casa, ficar em casa e esperar a dilatação evoluir e ai eu decido o que fazer. Se for preciso vir de novo para Niterói eu venho!!”. A resposta que eu queria ouvir (sim, pode ir) não veio (como eu imaginava que não viria). Ao contrário, ele começou a falar e falar e falar... coisas cada vez mais assustadoras. Eu queria sumir!!
- Infelizmente eu não posso te deixar ir. Eu até havia comentado com o seu marido ali embaixo. Não quis te falar para não te deixar preocupada, mas quando te examinei pela primeira vez eu vi um sinal que me deixou muito preocupado. Há uma reentança no seu útero que indica um risco elevado de ruptura uterina. Esse sinal é conhecido como Anel de Bandl. É o primeiro sinal que a gente detecta de que provavelmente o útero vai romper.
Enquanto ele falava isso meu coração disparava, meu bebê mexia sem parar, eu rezava e pedia que Deus me ajudasse a tomar a decisão certa.  Eu tava ali deitada, me sentindo impotente.
Eu olhava nos olhos dele enquanto ele falava aquelas palavras...e Deus...eu não conseguia ver sinceridade. Aquela sinceridade e segurança que me passou durante todo o pré-natal, EU NÃO VIA, EU NÃO SENTIA! Para onde foi aquele medico que conheci?Porque ele estava me aterrorizando? Porque ele não me deixava ir?porque ele queria me operar? Aquilo só podia ser um pesadelo!!
Minha irmã estava aflita, junto comigo (temos uma conexão muito forte uma com a outra). Ela comentou com ele que a minha cicatriz tinha mesmo aquela “ reentrança” desde sempre. Mas ele respondeu
- Ah, mas agora ta tudo perfeito, só aparece quando contrai!
Perguntei para a minha irmã
- Lu, você ta vendo alguma coisa?não mente para mim, me fala!
Finalmente veio uma contração, ele não auscultou o bebê mas avaliou a cicatriz. Em meio a dor eu pedi para a minha irmã “ olha Lu, ve se ta tudo bem”. Tudo que ela queria era me manter calma, segurando na minha mão ela respondeu com um sorriso “ta tudo otimo na sua cicatriz e na sua barriga e com seu bebe, vai dar tudo certo, relaxa.” O médico respondeu “ realmente agora está melhor, quando olhei na primeira vez o sinal estava muito mais evidente” .
Eu havia lido durante a gestação sobre os sinais de ruptura. Sabia que a chance era muito baixa mas de qualquer forma eu estudei sobre os sinais: dores que não passam mesmo entre as contrações, anel de bandl. Nesses casos a cirurgia deveria ser emergencial, pois mãe e bebe poderiam morrer. Eu estava super bem, tava feliz, o bebe tava ótimo e o medico apesar de todo o terror parecia super tranqüilo. Ué, será que eu esqueci de estudar alguma coisa?será que existia algum outro sinal mais primitivo que somente ele poderia ter observado?sera que havia um “sinal de um sinal” ???
Perguntei para ele mais uma vez
- Então, se está tudo bem e eu não evolui, posso ir embora???
Mas não teve jeito. Ele continuou
- Olha, eu não posso te deixar ir. Eu realmente fiquei preocupado, eu sou uma pessoa muito difícil de se preocupar e que tem um limite que demora a chegar e você sabe bem disso!Mas dessa vez eu realmente estou preocupado e por mim você não vai sair daqui. Eu não sei se estou traumatizado porque duas semanas atrás tivemos um caso de ruptura e eu não quero passar por isso de novo. Eu vi o sinal igual ao seu e fizemos uma cesárea...quando abrimos tinha realmente ruptura!
Era a hora de tomar uma decisão. Realizar o meu sonho ou fazer a cesárea?Todos os meus medos vieram a tona. Eu não queria de forma alguma colocar a minha vida e a vida do meu filho em risco. Esse foi o momento de maior desespero que passei em todo o meu trabalho de parto, para não dizer em toda a minha vida. Entrei em pânico, chorei desesperadamente como um bebezinho. O medico em pé na minha frente aguardando uma decisão. Eu sentada na cama, meu marido e minha irmã ao meu lado me fazendo carinho. Apesar da convicção de que eu e meu bebê estávamos bem eu pensava “mas e se daqui a pouco não estivermos?e se ele estiver certo?” no fundo eu sentia que as palavras dele não eram verdadeiras, eu via no olhar dele. Mas ELE É MEDICO, se eu não podia confiar nele, em quem confiar?Chorei por vários minutos, encostei ainda chorando no ombro do meu marido e desabafei
- Eu não consigo decidir!!!
Então aconteceu a maior reviravolta. Foi o momento de maior participação do meu marido. Ele tomou para si o meu parto, ele bancou o meu parto e a minha decisão. Ele fez a coisa acontecer. Em meio ao meu choro e minha indecisão meu marido se levantou e falou em voz alta
- Então é isso aí Dr. Vamos embora.
Deu um tapinha no meu ombro e continuou
- Bora mulher, para de chorar. Não é isso que você quer??Então pega suas coisas e vamos embora!Levanta!
Eu ainda não conseguia acreditar que meu marido estava abraçando aquilo junto comigo. Minha confiança voltou, eu era eu mesma novamente. Eu era a Juliana Fernandes Monteiro Duarte que queria E IA parir!!
Meu marido justificou para o médico
- Dr. É o seguinte, nós vamos embora porque ela quer um parto normal entende??
O médico respondeu
- Eu entendo. Eu sei o quanto ela quer isso, eu torci muito por ela. Mas infelizmente eu não posso ignorar um sinal que eu estou vendo. Se você quiser pode levantar agora, pegar suas coisas e ir embora. Mas EU não vou te dar alta.
-  Eu entendo. (meu marido e minha irmã responderam juntos)
Meu marido continuou
- Mas é isso aí, conforme for se precisar, se acontecer alguma coisa pelo caminho...a gente volta. Beleza?
- Vocês vão mesmo embora?
- Vamos!
- Então preciso que você assine um termo de responsabilidade.
Com minha confiança retomada respondi sem medo
- EU ASSINO!Precisa que meu marido assine também??
- Não.
Pegamos as malas, e quando já estávamos com tudo decidido e saindo do quarto ele voltou e com um sorriso leve no rosto comentou
- Olha só como a vida é engraçada. Às vezes prega umas peças na gente só para tornar tudo ainda mais difícil.
Não era possível, o que mais poderia acontecer??Perguntei
- O que foi??
- Acabei de verificar com a recepcionista. Esse é o ultimo quarto do hospital. Se vocês saírem agora e por acaso acontecer alguma emergência e precisarem retornar não sei se vou conseguir interná-la novamente, pois pode não ter mais nenhuma vaga.
Para mim não fazia a menor diferença. Então eu disse: Ok, tudo bem!
Seguimos até a recepção. Assinei o termo. Era um termo comum de responsabilidade. Dizendo que eu tinha chegado com contrações regulares mas não estava mais em trabalho de parto e tinha solicitado a alta, bla bla bla (não me lembro exatamente o que mais, eu nem olhei direito, eu so queria ir embora!). Lembro-me bem de um detalhe, nesse termo não havia nenhuma menção ao tal risco de ruptura uterina que ele havia observado. O que me tranqüilizou, pois se fosse algo realmente sério ele teria escrito.
Fomos até o elevador. Apesar de tudo o medico foi muito educado, nos levou até o elevador, se despediu e me desejou sorte. Disse que ficaria torcendo por mim.
Descemos e seguimos até o carro. No caminho eu comentei com a minha irmã que queria que alguém (outro profissional) avaliasse a minha cicatriz.
A minha doula Ana ligou então para a nossa amiga e contou que estávamos indo embora e eu desejava ser reavaliada por alguém que não fosse ele. Seguimos em direção ao Rio de Janeiro e a Ingrid (nossa amiga querida, anjo, linda!) telefonou para o celular da minha irmã dizendo que poderíamos passar na casa da Maíra, uma outra amiga linda e querida que é enfermeira obstétrica, para conversamos um pouco, acalmar, tomar uma água..e ela daria uma avaliada na minha cicatriz para me tranqüilizar e poderia auscultar o bebê também. Algum tempo depois ela ligou novamente falando que tinha conseguido um médico que estava disponível para atender o parto em um hospital qualquer do convenio, mas o parto seria particular. Fiquei preocupada com o dinheiro inicialmente, mas tudo que eu queria naquele momento era parir, parir, parir, parir. Daríamos um jeito depois! Seguimos até a casa da Maíra, a Ingrid foi até lá me ver e me dar um abraço pessoalmente. Eu estava feliz, entre amigos, segura, abraçada e agora com muito mais certeza de que tudo terminaria bem.  Meu marido pegou com o contato do médico e telefonou para ele, para ver como poderíamos fazer, qual hospital iríamos, qual valor ele cobraria, quais as formas de pagamento. A Maíra me avaliou entre as contrações e também durante uma delas e me tranqüilizou em relação ao bebê. Falou que eu poderia ficar tranqüila que tudo estava aparentemente bem com o meu útero também. Respirei aliviada, meu filho ia nascer..,meu parto ia acontecer!Me senti livre e segura para me focar no parto novamente...e foi incrível como as contrações voltaram com força total naquele momento. Comecei a ficar irritada na casa da Maíra (tadinha, tão boa anfitriã rsrsrs) eu queria ir embora, queria a minha casa, meu chuveiro. Como sabíamos que eu ainda estava na fase inicial de TP, viemos para casa. E aí a coisa pegou fooooooooogo. No carro eu já estava com dores muito fortes, comecei a ficar fora de mim. Eu queria ver a minha mãe, dar um abraço nela e ouvir ela dizer que tudo iria dar certo..minha mãezinha guerreira que teve 3 partos normais. Chegando em casa a minha mãe já me aguardava em frente a porta, me deu um abraço forte!! As contrações já vinham praticamente a cada 3 minutos. Corri direto para o chuveiro, vi na minha calcinha um pouco de sangramento. A Ana me explicou que aquilo era provavelmente pela dilatação do colo.
Fui para o chuveiro loucamente, eu nunca desejei tanto o meu banheiro e o meu chuveiro rsrsrs. Naquele momento, dentro do banho, senti que eu realmente agora estava em TP, parto ativo!!Agora definitivamente a coisa iria andar. Respira, rebola, relaxa, contração...contração..contração. Já estavam quase sem intervalo. Eu senti durante todo o trabalho de parto (desde o inicio) uma dor forte na região lombar (depois descobri que era por causa da posição do bebê, que tava posterior) por isso passei o dia inteiro em pé, sentar me incomodava. Naquela hora dentro do chuveiro essa tal dor ficou INSUPORTÁVEL. Eu precisava de massagem nas costas e precisava JÁ. Falei para a minha irmã tirar a roupa e entrar comigo no chuveiro (Box minúsculo do nosso apartamento) e me ajudar. Ela atendeu prontamente (rsrsrs). Pensei e falei tanta coisa que eu não me lembro mais...reclamei de tudo e todos, eu só queria a minha irmã. Comecei a sentir um calor muito grande e resolvi sair do banheiro. Minha mãe nos aguardava com um mingauzinho carinhosamente preparado. De inicio eu não quis comer, mas ela me deu colherada por colherada na boca, eu já estava muitas horas sem comer (desde que fomos para o hospital eu n tinha comido nada). Depois que sai do chuveiro comecei a sentir uma vontade muito forte de empurrar. Pensei “não é possível, já???” Como eu queria a minha irmã ao meu lado todo momento, a parte mais “burocrática” ficou por conta da outra doula, Ana. Que ligou para o medico avisando que eu já estava com vontade de empurrar. Meu marido nessa hora estava dormindo. Foi decidido que iríamos para o hospital pan-americano, na tijuca...bairro relativamente próximo de casa.
Minha irmã acordou meu marido. Me vesti e fomos de novo para o carro (de novoooooo!!). Foi mais um péssimo momento do meu trabalho de parto. Seguir naquele carro apertado, sem movimentação e com contrações quase sem intervalos..foi terrível!o hospital tão próximo me pareceu muito longe. Eu olhava pela janela do carro e não conseguia identificar onde eu estava, será que faltava muito para chegar?eu estava fora de mim...acho que estava quase em outra dimensão. Eu só pensava “ hospital, hospital, hospital”.  Chegando no hospital o “novo médico” estava nos esperando. Um anjo chamado Marcos Nakamura, que aceitou me atender no meio da madrugada (devia ser por volta de 1h da manhã quando nos encontramos). Ele estava tranqüilo e me passou muita paz e segurança. Agora sim eu sentia que podia ir em frente.  Entramos no hospital e ele solicitou uma sala para me examinar. Minha irmã conta que foi muita bucocracia mas eu não me lembro de naaada, so sei que ele me examinou e ouvi a grande noticia, a melhor que poderia ouvir 7 CM!!!!!!!!!
Uau, e não é que tudo que eu precisava mesmo era estar com uma equipe que me passasse segurança? Tudo evoluiu muito rápido.
Fomos dar entrada na internação. Foi quando tivemos mais uma péssima noticia: não havia vagas. A recepcionista antipática disse que o medico deveria ter solicitado com antecedência. Como solicitar um quarto com antecedência para um parto que pode acontecer a qualquer momento? Irritadíssima com o meu plano de saúde, com o sistema de saúde do Brasil, com a máfia dos médicos e hospitais pela cesárea, irritada com tudo. Eu senti na pele tudo que uma mulher não merece sentir, passei tudo que dizem nos jornais que as mulheres passam. Eu sabia que era real, que isso acontecia todos os dias, mas não imaginei que aconteceria comigo. Estávamos sem rumo. Meu marido começou a entrar em contato com todos os hospitais do plano de saúde. Ele telefonava para alguns e a minha irmã para outros. Só tapa na cara. Ninguém tinha vaga!!O que fazer?? Eu bati o pé e me recusei a sair de lá sem rumo novamente, eu queria ir para um hospital certo, eu queria ir para um lugar onde fosse ficar até meu filho nascer. Me bateu um certo desespero de que a qualquer momento ele poderia nascer e nós ainda não tínhamos nada concreto. Eu senti que estava chegando ao meu limite, eu estava desgastada emocionalmente e também cansada fisicamente. Minha irmã decidiu ligar para a minha mãe e contar a situação. Minha mãe disse que poderíamos seguir para qualquer hospital da cidade que tivesse vaga, que daríamos um jeito para pagar o hospital mesmo que fosse particular, ela faria um empréstimo no banco. Era a nossa única opção. As outras eram ir para o SUS ou ir para o plantonista de algum hospital, opções inviáveis para mim naquele momento. Eu queria estar SEGURA.
Pela ultima vez entrei dentro do carro, dessa vez com rumo certo: perinatal de laranjeiras.
Lembro-me vagamente que xinguei todo mundo, culpei a minha irmã por ter me convencido a ter um parto normal (tadinha!), culpei o médico dizendo que eu não gostava dele (pobre Dr, foi um anjo comigo), culpei a minha outra doula dizendo que ela não estava ajudando em nada (que injusta eu!) e pior de tudo...culpei meu marido por ter aceitado sair de Niterói, falei que ele era um irresponsável que ele gostava de me ver sofrer que eu queria voltar JÁ para Niterói, que eu queria uma cesárea imediatamente (kkkkkkkk), eu tava em outro planeta, sem noção. Eu gritei VOCES TODOS SÃO CULPADOS DISSO, VOCES TODOS!.
Chegamos ao hospital pouco mais de 3 horas da manhã e aí foi só alegria. Subimos para a suíte de parto e pedi para ir para o chuveiro. Não tinha chuveiro naquela porcariiiaaaa...então o jeito era encher a banheira que tinha lá. Mas a água era gelada e eu detestei. Alem disso eu não conseguia ficar sentada, pois ainda sentia muita dor na lombar. Nada mais funcionava. Eu não conseguia sentar, tava cansada e estressada ao extremo, não tinha chuveiro, não via mais outra opção. Eu precisava relaxar. Solicitei analgesia. Depois da analgesia eu consegui deitar e relaxar por algum tempo, não sei quanto tempo...deve ter sido uns 40 minutos. O médico comentou que o bebê ainda estava muito alto e que eu precisaria trabalhar para faze-lo descer. Ele falou que aguardaríamos até as 6h e então tentaríamos algumas técnicas para ajuda-lo a descer. Mas eu não agüentei ficar parada tanto tempo. Quando me senti recuperada resolvi levantar, caminhar, caminhar, ficar de cócoras. O médico voltou e ficou animado com a minha disposição. Examinou e viu que o bebê estava bem, batimentos bem, mas ainda alto. Ele me olhou e disse “ta tudo perfeito, agora só depende de você” . Então a cada contração eu ficava de cócoras e fazia força, força, força. Isso foi durante quase 1h. Eu não sei bem sobre o tempo, para mim o tempo tinha parado, eu tava parada ali naquele momento. Bom, o medico veio auscultar novamente e tivemos a ótima noticia de que ele já tinha descido um pouco mais!!Me animei e fazia ainda mais força quando vinha a contração. A analgesia já tava perdendo efeito e eu sentia tudo muito mais intenso. Força, força, força. A bolsa estourou (será?). Eu pensei que eu tinha feito xixi rs. Algum tempo depois novo exame, bebê ok, o médico decidiu fazer o toque. Aí de fato a bolsa estourou..ploft! molhou o medico todo..que vergonha kkkkkkk!!
Nessa altura do campeonato eu estava muito cansada e comecei a achar que não conseguiria levar isso até o fim. Me senti um pouco tonta como se fosse desmaiar. Vomitei bastante...e comecei a ter uma espécie de fobia do quarto onde estávamos. Eu precisava sair do quarto, ver Sol, ver luz, ter liberdade!!Já eram por volta de 7 ou 8 horas da manhã. Comecei a falar que eu não queria mais, que eu ia desistir, que eu não era capaz. A minha irmã saiu do quarto e foi conversar com o médico. Voltou junto com ele e com a Ana Fialho, médica assistente... outro anjo de Deus em minha vida que deu um gás novo ao trabalho de parto, sangue novo, energia nova. Ela pediu para me examinar novamente e eu permiti. Me falou que eu estava quase com dilatação completa e o bebê não estava mais posterior, ele já tinha virado e estava pronto para nascer. Nesse momento eu pensei “ótimo, falta pouco, eu consigo sim!ufa!”. Esses momentos finais ficaram um pouco confusos na minha cabeça, não me lembro de absolutamente nada que foi falado, nada do que aconteceu, tudo que eu pensava era eu, bebê, força, nascer. Vamos, vamos, vamos!Meu marido (que estava dormindo na sala ao lado) foi chamado para acompanhar o nascimento. Lembro de alguns momentos onde eu achava que não ia conseguir mais fazer força, que eu já tinha feito toda a força possível, mas o Dr Marcos, a Dra Ana e a minha irmã Luciana me davam força e coragem dizendo que eu era sim capaz e que meu filho já estava quase nascendo. Senti muita vontade de fazer cocô, muito calor e muita sede. A Dra Ana me explicou que tudo aquilo era sinal de que estava muito próximo de ter meu filho nos braços. Que alegria, nova injeção de animo e coragem...força, força, força. Tentei muuuitas posições: de joelhos, de quatro, de cócoras, deitada de lado. A única que me senti confortável foi semi-sentada em cima da cama. Mais ou menos de 1 hora de expulsivo, enfim tive o Pedro em meus braços e o sentimento que eu tive foi: CONSEGUI! Vitória, superação, garra, conquista...nem sei direito tudo que passou, todos os sentimentos maravilhosos. Olhei para o meu marido e falei “amor, eu consegui” olhei para a minha irmã e disse “ Lu, você viu isso?eu consegui” abracei forte o meu filho e falei “filho, NÓS CONSEGUIMOS!eu não sei como, mas nós conseguimos!!”. Eu estava realizada. Completa. Nunca imaginei que tudo isso aconteceria, mas não me arrependo de nada nem por um segundo. Toda a equipe me parabenizou. Mesmo com todas as dificuldades foi um parto incrível e inesquecível. Não me arrependo de ter saído de Niterói, de ter me recusado a ser operada novamente, de ter corrido atrás do meu sonho. Eu faria tudo outra vez!!!
Meu filho ficou comigo o tempo todo, foi amamentado logo ao nascer, não foi aspirado, não recebeu colírio de prata nos olhos. Nasceu pesando 3.180 kg e medindo 50 cm. Lindo, chorando forte, muito saudável. Fiz o melhor para mim e para ele, não tenho dúvidas.

EU CONSEGUIIIIIIIIIIIII." Nota: o Anel de Bandl é um sintoma bem comum de que o útero está na iminência de romper e é indicação absoluta de cesariana, entretanto, é um sinal muito fácil de perceber pois forma uma espécie de "S" bem visível na barriga da gestante, onde dá pra ver um "vale" bem delineado. No caso da Juliana, como ela estava acompanhada de doula e tudo o mais, ela só saiu do hospital porque tinha certeza de que estava sendo enrrolada pelo médico, pois ninguém além dele viu o suposto "sinal", que inclusive também não foi visto pelo médico que a atendeu em seguida e a prova cabal de que o anel foi inventado é que o útero não rompeu.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Sandálias da humildade (alergia à proteína do leite de vaca e outras reflexões)


Então, resolví escrever esse post porque eu acho que anda carecendo...

2012 foi um ano de muitas mudanças pra mim, e a principal foi descobrir que minha filha é APLV (alérgica à proteína do leite de vaca). A gente nunca consumiu muito leite aqui em casa, eram mais os derivados, mas descobrir isso acarretou toda uma série de mudanças nas nossas vidas. O diagnóstico, no nosso caso, foi muito difícil. Aurora tinha diarréias mensalmente que duravam 10 dias. Ela passava 10 dias do mês com uma diarréia monstra, e isso a impedia de ganhar peso. Além da diarréia, ela tinha diversas manchas pelo corpo e uma falta de apetite preocupante. No começo eu achei tudo normal: diarréia pra mim era de alguma virose que ela tinha pego na creche, as manchas eram brotoeja ou algo do gênero e a falta de apetite era comum à idade. Depois de passar em vários pediatras, alergista e dermatologista e todos serem categóricos em afirmar que tudo oq ela tinha era normal e ver minha filha descer cada vez mais nas curvas de crescimento até chegar a um ponto de ela não ter ganho nem 100g em 1 ano, uma amiga minha me cantou a bola de que ela podia ter alergia. Eu era alérgica quando criança (ainda sou um pouco) e tenho uma família inteira de alérgicos (lá temos alérgicos à proteína do leite de vaca, produtos de limpeza, medicamentos, enfim, tem todo tipo de alergia) e eu simplesmente deletei essa informação da minha cabeça por um tempo enorme. Começamos a dieta de restrição e mesmo assim ela não melhorava. Com a ajuda de grupos especializados em alergia, descobrí que ela não melhorava pq além da comida não poder ter leite diretamente, ela não poderia ser processada em mesmo equipamento que comidas que levam leite pq sempre fica um pedaço de proteína do leite, ou um pedacinho de queijo, que podem provocar reações nos alérgicos. Foi mais uma luta,  pq além de Aurora não poder consumir, eu também não posso consumir nada que tenha traços de leite (esses pequenos pedaços de proteínas), e pra dieta ser efetiva, teríamos que separar panelas, talheres, pratos e até a esponja que lavamos a louça dela. Optamos aqui em casa por não mais consumir nenhum produto que não seja limpo de leite e conseguimos estabilizar o quadro dela, depois de muito choro e dor de cabeça. Ela ganhou 300g em 10 dias e passou a comer um pouco melhor, o que deixou claro pra nós que estamos no caminho certo.

Como eu disse, da gente descobrir que ela era alérgica e conserguirmos estabilizar o quadro foram 4 meses. 4 meses de loucura total, de preocupações pq a dieta não estaria dando certo, pq a gente tava no escuro sem saber o que ela tinha, pq se não fosse APLV eu não teria idéia do que ela podia ter, enfim, foi caótico e desesperador! E esses 4 meses me ensinaram muita coisa, e a principal delas foi parar de ser arrogante.

Já tinha um tempo que eu andava tomando umas porradas da vida, uns tapas na cara, e acho que essa alergia foi definitiva pra eu passar a enxergar algumas coisas de um modo diferente. Recebí muito apoio de gente que eu sempre julguei e falei mal. Pra dizer a verdade, essas foram as pessoas que mais respeitaram as nossas suspeitas e ajudaram na questão alimentar da Aurora. Gente que eu sempre taxei de "mãe de merda" e que foram as primeiras e correr em meu auxílio, a me acalmar e me fazer enxergar uma série de coisas que eu não conseguia enxergar porque simplesmente me coloquei num pedastal, me julgava boa demais pra compreender certas atitudes e arrotar por aí que eu "nunca faria isso". Além da alergia, eu comecei a trabalhar, e isso também foi crucial pra me fazer ficar um pouco mais humilde e parar de apontar o dedo na cara dos outros. A gente sempre gosta de pensar e criticar as atitudes das pessoas, e eu em particular sou bem ácida nas minhas críticas, mas ver as outras coisas por outro prisma foi muito importante pro meu amadurecimento pessoal. Pude entender todas as mães que dão uma mamadeira com mucilon pra criança dormir a noite toda, entender as mães que ligam um desenho de manhã só pra poderem dormir mais um pouquinho porque estão podres de cansaço, enfim, foi uma mudança e um choque de realidade radicais.

Então o que eu quero dizer com isso tudo é que eu parei de julgar. Tá, isso é impossível porque a gente sempre julga um pouquinho, mas acho que eu passei a ter empatia. É tão fácil julgar os outros do alto da pedra do rei! Bater no peito e dizer "eu não faria isso" sendo que você não conhece aquela mãe, não sabe a história de vida dela nem o que ela passou pra chegar até alí, não sabe que tipo de informação ela tem acesso, nem que relações familiares ela estabeleceu. Quando você está de fora, tomar decisões é muito mais racional e fácil do que quando você está no olho do furacão. Todas nós somos humanas, e mães, apesar de na maioria das vezes quererem sempre o melhor pros filhos, erram, e erram feio. Tem muita mãe por aí que, apesar de não querer amamentar, é uma mãe muito melhor do que várias que ficam por aí arrotando o quanto são perfeitas. Tem muita mãe que, apesar de infelizmente precisar terceirizar o filho porque precisa garantir a sobrevivência, é melhor mãe do que quem fica em casa de saco cheio da criança e doida pra sair correndo. Enfim, nós não temos a mínima idéia do que é a vida do outro até estar na pele dele, com todas as angústias e vivências que ele tem. Claro que eu vou sempre continuar falando a quem me perguntar o que eu acho melhor, o que vai de acordo com as minhas crenças e o que eu acho mais embasado cientificamente, mas acho importante ter auto-crítica e saber que a gente não é a última coca-cola do deserto e que estamos sim sujeitos a falhas.

E se eu pudesse dar um conselho, seria por favor, mas por favor mesmo, não seja estúpida como eu e pare de julgar as outras pessoas, pare de julgar as decisões delas como se fossem certas ou erradas e como se você fosse deus. Você não tem esse poder. Ninguém te deu o direito de falar se a decisão de A, B ou C foi correta. E, principalmente e baseado na minha própria experiência de vida, cuidado, porque quando a gente cospe pra cima invariavelmente o cuspe cai na nossa testa.