O parto do Dante começou lá em 2010 com o nascimento da irmã Aurora. Contei AQUI sobre o nascimento dela, da nossa busca por um parto humanizado e sobre toda violência obstétrica que sofremos. Foram 5 longos anos gestando mágoas e angústias, chorando escondido quando o aniversário dela se aproximava e eu relembrava tudo o que nos tinha acontecido.
Engravidei pela segunda vez Julho de 2015, naquele turbilhão de zika vírus e microcefalia que deixou todo mundo em pânico. Foi uma gravidez muito tranquila apesar do alarde por conta do vírus, e desde o momento em que eu peguei meu positivo no laboratório entrei em contato com a minha doula Rebeca Charchar pra saber o que faríamos. No nascimento da Aurora fiquei os 9 meses em contato com Rebeca, mas na hora do parto não quis chama-la e me arrependi amargamente. Dessa vez eu estava preparada e já fui logo acionando ela. Eu e o Luciano havíamos decido lá no nascimento de Aurora que, se tivesse um outro bebê, ele nasceria em casa. Depois do desastre que foi o parto de Aurora, nunca mais cogitamos um parto hospitalar. Dessa vez eu fiz uma poupança e guardei o dinheiro que recebia da minha bolsa de iniciação científica da graduação que ficou na "poupança parto". Quem recebe bolsa sabe que não é muito, mas fui juntando durante anos pra ter um valor bacana pro parto, caso eu engravidasse de novo.
Rebeca me falou que estava trabalhando com uma equipe legal e nova em Divinópolis, cidade vizinha a minha, e eu topei conhecer. Uma amiga muito querida engravidou na mesma época que eu, então consultávamos juntas e rachavamos o valor do deslocamento da equipe até Lavras, que é onde moramos. Fiz pré-natal com um médico que está se humanizando aqui na minha cidade e com a equipe que atenderia meu parto domiciliar. Aqui foi a primeira diferença que eu notei: as consultas com a equipe do PD (parto domiciliar) eram demoradas e tomavam a tarde inteira; elas conversavam não só comigo, mas com o Lu e com Aurora, tiravam dúvidas, conversavam sobre os meus medos, sobre o que eu queria pra mim e pro meu bebê. Era o tipo de consulta que eu gostaria de ter tido lá em 2010 quando tive Aurora e que a gente não encontra num pré-natal tradicional. Aurora media minha barriga junto com a Fabi (enfermeira obstetra, mas que eu vou chamar de parteira pq não consigo chamar de outro jeito), ouvia os batimentos do bebê, media minha pressão, enfim, ela participava de todo o processo da consulta e também tirava as dúvidas dela. Foi um pré-natal muito gostoso.
Resolvemos não saber o sexo do bebê e fazer o mínimo possível de ultrassons. Fizemos apenas 4 e o pré-natal foi totalmente não-invasivo, o oposto do pré-natal da primeira gravidez.
Conversei muito com a minha equipe sobre protocolos e procedimentos, pois conversando com amigas, minha mãe e minha avó, percebi um padrão sobre a bolsa rota (quem teve uma vez, em geral tem na segunda, terceira e etc), que foi o motivo que me levou pra cesárea na primeira gravidez, e ficou combinado que, caso a bolsa rompesse sem trabalho de parto, esperaríamos o que fosse necessário. Me lembrei da Alessandra, uma querida amiga minha que teve um VBAC depois de 150h de bolsa rota. Me lembrei das aulas de embriologia da graduação, onde a gente aprende que a bolsa serve pra proteger contra choques mecânicos e infecção. Procurei as evidências científicas atuais sobre bolsa rota e o que fazer em termos de procedimentos e etc. E tive me mente os relatos de pessoas cuja bolsa rompei com 20 semanas de gestação e que levaram a gravidez até o final e tiveram bebês saudáveis. Superei completamente meu medo de acontecer novamente uma bolsa rota através de informação e relatos. Fiz terapia e yoga antes e depois do parto pra me ajudar a trabalhar medos também. Meu único medo nessa gravidez foi acabar numa segunda cesárea desnecessária.
No dia que eu completei 40 semanas de gravidez, já estava de saco cheio de estar pesada, grande e sem mobilidade. Fim de gravidez é um porre, e só quem chegou a 40 semanas sem nenhum sinal de trabalho de parto sabe o sentimento de frustração que dá. No final de semana que completei as benditas 40 semanas, decidi dar uma desligada e fui num restaurante com amigos e no dia seguinte fui na casa de uma outra amiga almoçar e passar a tarde. De madrugada eu acordei molhada, fui no banheiro e troquei de pijama. Ainda pensei "porra Aretha, tu com essa idade e se mijando? Ainda bem que o Luciano tá dormindo" e voltei pra cama. O processo aconteceu mais umas 3 vezes até eu me tocar de que era a bolsa que havia rompido. Voltei a dormir e de manhã contei pro Lu, que abriu um puta sorriso. Eu já estava com contrações esquizofrênicas que nunca engrenavam desde as 37 semanas, e foi um alívio a bolsa estourar. Nesse dia eu tinha consulta com meu obstetra, que ia viajar no feriado de 21 de Abril e ía me deixar com uma GO de backup (o que tinha me causado muito estress na semana anterior, em que eu cogitei até ir pro RJ pra parir, mas como tava sem dinheiro decidimos manter o plano). Fui lá e não falei da bolsa, pq eu sabia que se falasse ele iria contar pra GO de backup e ela ía pressionar pra ir na maternidade. Impressionante como foi só pisar no consultório médico que minhas contrações pararam totalmente. Meu corpo rejeita 100% o ambiente hospitalar. Depois da consulta entrei em contato com a minha equipe e deixei elas de sobreaviso. Elas perguntaram se queriam que eu fosse, e eu disse que não e que ligaria quando as contrações ganhassem rítimo.
De noite eu e o Lu arrumamos a bolsa da maternidade (elas pedem pra deixar arrumado em caso de precisar transferir pro hospital), separei a roupinha que minha mãe havia comprado pro nascimento e fomos dormir. Dessa vez, diferente da primeira gravidez, eu menti descaradamente a minha data provável pra evitar parente ligando e pressionando, e também não contei sobre os planos de parto domiciliar. Eu tinha medo de dar errado de novo e de ter toda aquela pressão das pessoas em cima da gente. Querendo ou não, no final das contas eu acho que muita gente sempre torce pra dar errado só pra dizer o sonoro "eu avisei", então pra evitar a fadiga não contamos, e foi a melhor decisão que tomamos.
Acordei de madrugada com contrações dolorosas e de 5 em 5min. Às 5:30 da manhã, com 24h de bolsa rota, liguei pra equipe vir pq tava doendo muito e eu achei que tinha engrenado. Elas chegaram às 11h, e assim que amanheceu o dia as contrações ficaram completamente sem rítimo. Elas me examinaram e ficou decidido que elas ficariam aqui em Lavras pra me monitorar por causa da bolsa. A cada 6h lá vinha a Fabi ou a Larissa (obstetriz) com o sonar ouvir o coração do bebê, medir minha pressão e monitorar a temperatura (infecção geralmente causa febre). Era irritante esse monitoramento, mas foi legal receber esse cuidado, conversar e tê-las em casa. Lu fez um yakssoba e jantamos todos juntos. De madrugada voltei a sentir contrações regulares e fui pro chuveiro sozinha. Chorei muito nessa hora, achando que não conseguiria, que não iria dar certo. Rebeca e Fabi ouviram e foram lá conversar comigo. Saí do banho e tomei uma taça de vinho (pode me julgar, mas entre tomar um vinho suave a 7% e uma anestesia cavalar cheia de coisa e depois uma morfina no pós-operatório, optei pelo vinho), conversei com as meninas e relaxei. Tentei dormir de novo, pois já era o terceiro dia dormindo picado por contra das contrações. Fiquei puta com Fabi porque ela vinha olhar as contrações e me dizia pra ficar calma e tentar levar a vida normalmente pq, apesar da dor, ainda não era o trabalho de parto, e sim pródromos (contrações de treino). Eu quis matá-la nessa hora e pensava: "jesus, se isso é o treino, imagina quando engrenar?".
Amanheceu e de novo tudo ficou sem ritimo. Dessa vez as meninas resolveram ir pra um hotel que fica perto da minha casa pra nos dar privacidade, e voltariam pra monitorar a cada 6h. Rebeca me sugeriu fazer uma acupuntura pra ajudar e engrenar. Consegui uma consulta de última hora e dormi na sessão e depois dela, o que me ajudou a recarregar um pouco as baterias e melhorar meu ânimo. Ha essa altura eu tava com medo de ser vencida pelo cansaço. Entramos em contato com uma amiga da Rebeca que trabalha com homeopatia, e ela me sugeriu um remédio e algumas visualizações pra ajudar a engrenar o parto. Ligamos em todas as farmácias homeopáticas e conseguimos uma que fizesse o remédio pro mesmo dia, pois era véspera de feriado e tudo ía fechar.
Às 17h lá fomos eu e Rebeca buscar o remédio e já começei a tomar assim que peguei. Fomos caminhar na universidade (é o único lugar que dá pra andar aqui em Lavras) e lá tiramos fotos, conversamos e encontrei minha amiga professora de yoga, que me deu um abraço ótimo e mandou muitas boas energias.
Voltei pra casa com contrações a cada 10min. A Fabi e a Larissa vieram me monitorar de novo. Jantamos e fomos tentar dormir. Foi só todo mundo sair que o trem começou a pegar fogo! 1:30 da madrugada e eu liguei pra Rebeca pedindo ÇOCORRO MEL DELS MIM AJUDA que tava doendo PRA CARALHO. Não quis acordar o Lu pq queria que ele descansasse pra cuidar da Aurora no dia seguinte. Ela chegou aqui e eu tava estatelada no chão da sala, chorando de dor e a cada contração me desesperava. Aquelas contrações eram muito diferentes das de pródromos, e eu queria sair correndo de mim mesma pra escapar da dor. Rebeca me acalmou e me ensinou a respirar entre as contrações. Me lembrei das mentalizações e respirações da yôga, e lembrei também de um vídeo que minha professora tinha me passado que ensinava algumas vocalizações pra ajudar a dilatar. Fui vocalizando o "ahhhhhhhh" do início ao fim do parto. Rebeca sentou no sofá e eu no chão, e entre as contrações nós duas cochilávamos e ela me fazia cafuné.
De manhã, ainda com raiva da Fabi por me dizer que não era trabalho de parto ainda (como se a culpa fosse dela, coitada hahahaha), pedi pra Larissa vir monitorar. Ela monitorou às 6h. Lembro só de ter visto o dia clarear da janela da minha sala e do Lu e Aurora acordarem e fazerem o café. Depois disso o que eu vou relatar ficou meio borrado, pq eu fiquei LOUCONA.
Às 9h e pouca a Fabi veio monitorar de novo. Segundo ela, assim que ela entrou na porta me ouviu dando uns urros e falou "agora sim começou o trabalho de parto". Eu só lembro delas colocando a touquinha de parto, pois ficou bem marcado pra mim como "agora o parto começou e esse trem vai nascer". Eu tomei a homeopatia diluída na água das 17h do dia 20/4 até a hora em que o bebê nasceu. O Lu pediu pra minha amiga colega de barriga (e filha dela já havia nascido) levar Aurora pra casa dela pra brincar, pois eu já tava gritando loucamentchy. Apesar de ter preparado Aurora os nove meses da gravidez pra assistir o parto (vimos MUITOS vídeos de parto juntas, principalmente os com gritos. Mostrei e expliquei pra ela sobre bolsa, placenta, sangue e tudo o mais), o pouco de racionalidade que me restava dizia que era muito pra uma criança de 5 anos ficar sabe lá deus quantas horas em casa ouvindo a mãe gritar (pq eu não gritei pouco não minha gente!). Lá foi ela.
Me desliguei totalmente depois que Aurora foi pra casa das amigas. Não lembro do dia passar, só lembro de flashs. Uns dias antes do trabalho de parto, minha mãe me falou pra "desligar de tudo e não pensar" quando a contração viesse, e foi isso que eu fiz. A contração vinha e eu não pensava na dor, não pensava no bebê, não pensava em nada, só em respirar. Me concentrei 100% em respirar. Fui pro chuveiro, pra bola, pro quarto. Deitei e tentei dormir entre as contrações. Lembro de me darem comida na boca e de alguém aparecer com um canudinho pra eu tomar água e suco. Lembro de abraçar Lu e Rebeca. Minha contagem de horas morreu, pq eu esqueci o relógio completamente. Só lembro de me darem almoço e comida ao longo do dia. Depois o Lu me contou que eu, além de berrar igual uma louca, chamei muito o bebê e disse que queria conhecê-lo. Me contou também que eu chorei e em alguns momentos me confundi, achando que quem iria nascer era Aurora. Desse momento a única coisa que eu me lembro foi de pedir desculpas a ela por não ter conseguido protege-la e dar a ela o nascimento que ela merecia.
Eu tinha pedido pra não ter exame de toque e pra só enxerem a banheira no final, então quando ouvi o barulho da maquina enchendo a banheira sabia que o negócio tava acabando. Fabi colocou as pétalas de rosa (tiveram que ser artificiais e esterelizadas por conta do risco de infecção) e trouxeram Aurora de volta pra ver o irmão nascer.
Lembro da Fabi me falar que se eu quizesse, podia fazer força. Fiz força um tempão e nada. Elas até colocaram o espelho pra ver se conseguiam ver a cabeça do bebê, mas não rolou. Elas acharam que eu estava no expulsivo, mas eu não senti puxos nem nada. Saí da banheira PUTA PRA CARALHO pensando "sáporra não acaba". Pedi o primeiro toque do trabalho de parto e estava com 8 cm de dilatação (vai até 10 cm). Perguntei que horas eram (eram 17h e poucas) e falei pro Lu ligar pra minha mãe vir que ainda dava tempo dela chegar aqui no dia seguinte (ela não sabia q eu estava em trabalho de parto).
Nessa altura eu não aguentava mais. Lembro de olhar o celular do Lu e as contrações estarem a cada 1min, durando uns 40s. Fui pro chuveiro de novo e chorei. Já era de noite e tomei um banho pelando pq eu curto água quente. Sentei na banqueta embaixo do chuveiro e queria morrer. Lembro de conversar com a Rebeca e dela me falar pra perdoar todas as mulheres que optam pela cesárea, que agora eu entendia a dor. Falei pra ela que eu já tinha calçado as chinelas da humildade há 5 anos atrás, e que desde então eu tinha decidido não julgar a maternidade das outras.
Pedi pelo amor de deus pra aquilo acabar. Não aguentava mais. Eu tinha combinado com todo mundo que eles só me levariam pro hospital se eu ou o bebê estivessem em risco, mesmo que eu pedisse por analgesia. Rebeca novamente me ajudou com sua sabedoria e me falou que eu já tinha superado o parto de Aurora, que já tinham passado as 36h de bolsa rota do nascimento dela, e que eu estava construindo uma ponte para as mulheres com aquele parto. Que meu parto era o primeiro em 26 anos na minha família e na do Lu, que ía ser o primeiro parto domiciliar planejado de Lavras e que serviria de inspiração pra outras pessoas. Lembro de falar pra ela que eu não queria ser inspiração pra ninguém, que eu só queria que a roda do carma girasse em meu favor porque eu merecia aquele parto. Eu conquistei cada momento daquele parto, e eu merecia que o universo dessa vez me deixasse ser feliz.
Lembro do Lu me apoiar deitada na cama e cantar a "nossa música" no meu ouvido pra eu me acalmar, e foi muito gostoso poder viver esse momento com ele. Foi um momento muito feliz do meu trabalho de parto.
Tomei mais um pouco de vinho nessa hora, pois tava doendo muito e eu precisava de algo que me ajudasse a relaxar. Rebeca sugeriu fazer um toque e descolar as membranas, caso houvesse algum restinho ainda. Estava com 9 cm e a Fabi descolou o restante das membranas e falou que o colo tava quase completamente dilatado, e que se eu quizesse podia empurrar que o colo ía ceder e o bebê ía nascer. Não senti nenhum puxo. Nessa hora conversei grosso com o bebê e chamei ele na xinxa dizendo que ele precisava nascer, que nós queríamos conhecê-lo e estávamos prontos pra recebê-lo. Eu sabia o que fazer e como expulsar o bebê porque tinha treinado usando um aparelho que chama Epi-no, então agachei e exatamente no mesmo lugar e na mesma posição que eu usava o aparelho, resolvi quemeu filho ía nascer. Segurei no berço que tava do lado da minha cama, dei a mão pro Luciano e começei a fazer força. Fiz força e segurei, pro bebê não voltar a subir, e fui fazendo isso em todas as contrações. A Fabi colocou uma toalha e um espelho, e na hora que eu vi o cabelinho dele finalmente eu acreditei que meu bebê ía nascer de parto, na minha casa, e que tudo tinha dado certo. Foram 4 contrações e ele nasceu. Não deu tempo de Fabi colocar as luvas e de Luciano e Aurora trocarem de lugar pra ver o bebê nascer de outro ângulo. Fabi pegou o bebê e tirou a meia laçada que tinha de cordão,e em menos de 1 segundo eu já tinha puxado a criança da mão dela e tava lá conferindo os documentos pra ver se era menino ou menina. :)
Aurora acompanhou parte do trabalho de parto, o nascimento do bebê e da placenta e os três pontinhos na laceração que eu tive (ela quis ver dar os pontos, desconfio que vá seguir alguma profissão na área de saúde :). Deixei ela ver porque ela tava muito tranquila e confortável com a situação, e na segunda-feira foi lá contar pros amiguinhos da escola como tinha sido legal ver o irmãozinho nascer, a placenta sair.
Da placenta foi feito um desenho e ela está no meu congelador, aguardando ser plantada.
Alguns dias depois, minha filha me perguntou aonde a placenta dela tinha sido plantada. Me deu um nó no estômago e falei pra ela que no hospital onde ela tinha nascido, o médico não guardou a placenta e eu não tinha podido vê-la, ela tinha sido jogada fora. Ela me falou "que pena mamãe. Que bom que o Dante nasceu em casa e que não jogaram a placenta dele, senão você teria ficado muito triste de novo". Tive certeza de que ela, apesar de ser tão pequena, compreendeu que o problema não havia sido o nascimento dela, e sim o tratamento que tivemos.
Dante nasceu no dia 21 de Abril, dia de Tiradentes, contrariando sua mãe e nascendo no primeiro dia de touro (eu queria um ariano hahahaha), também no primeiro dia de lua cheia e em lua de Ogum. Nasceu com 3,530kg e 49cm, após uma cesariana e depois de 86h de bolsa rota, na minha casa, ao lado da cama em que foi feito, na presença da irmã e do pai. Foram 11h de trabalho de parto. Curei minhas feridas e consegui fechar um ciclo com esse parto. Renasci como mulher e como mãe, e encontrei a força que eu sabia que tinha dentro de mim. Nunca vou esquecer de minha amiga Simone me falando que não fui eu quem falhei no nascimento da Aurora, e sim o sistema que falhou comigo. Essa frase ficou marcada na minha memória e sou muito grata por você tê-la dito, minha amiga querida.
Se meu obstetra tivesse na cidade provavelmente ele teria se agoniado com o tempo de bolsa rota e iria querer induzir meu parto. Se meu parto fosse no hospital, eu teria tido outra cesariana por conta dos protocolos hospitalares pra bolsa rota.
Apesar de doer muito, a dor de um trabalho de parto nem se compara a um pós-operatório de uma cesárea. Eu tive os dois e posso falar com a boca cheia que dói muito menos ter um bebê em casa do que num hospital com anestesia e etc. Após a cesárea eu me senti quebrada, inútil e arrebentada. Depois de parir eu me senti eu, inteira, sem pedaços e sem ter que juntar os caquinhos. Isso fez toda diferença pra eu passar um pós-parto tranquilo.
Agradeço ao meu marido e minha mãe, pelo apoio incondicional. À minha filha, por me ajudar, me amar e me ensinar a ser um ser humano melhor todos os dias. À minha equipe fantástica pelo esforço, por topar comigo esperar e quebrar todos os protocolos hospitalares. À Rebeca Charchar por me auxiliar nesse parto que durou cinco anos. E às minhas amigas por me ajudarem a ter uma gravidez tranquila e feliz. :)