"Minha gravidez sempre foi muito desejada, eu sonhava em ser mãe desde sempre, lutei muito para conseguir superar minha infertilidade, mas superei e quando finalmente olhei o exame de farmácia dando positivo, a alegria tomou conta de mim.
Como toda mãe de primeira viagem tive muitas dúvidas, incertezas, inseguranças, mas de uma coisa eu nunca tive dúvida, da importância da amamentação para o meu filho, e já tinha decidido, iria amamentar meu filho exclusivo e em livre demanda até os 6 meses, e depois o amamentaria até quando ele quisesse.
Mas...
Amamentei meu filho apenas 15 dias.
Pedro nasceu de uma cesárea (culpa de uma escolha errada) com 39 semanas, era uma quinta feira (02/02/2012) nasceu às 21h51, tudo tinha ocorrido como eu desejava até o momento em que ouvi o médico falar: Nossa como ele é pequeno! Só 2,400kg.
Minha família é craque em bebes pequenos, até aí tudo bem, ser pequeno não é tão ruim assim.
Saí da sala de cirurgia e em menos de 2horas estava no quarto recebendo o meu bebe, todo enrolado em cueiro, lindo como a lua, tão branquinho...
Nesse momento ninguém me falou que eu deveria coloca-lo no seio para estimular a sucção, simplesmente me deixaram com ele, eu ainda estava parcialmente anestesiada e tão cheia de emoção por ver meu filho pela primeira vez que não lembrei desse detalhe importante.
Levaram meu filho para o berçário, falaram para eu dormir um pouco que no dia seguinte eles trariam meu filho logo cedo para ficar comigo.
Eram 10h da manhã, todos os bebes já tinhas descido para suas mamães e o meu não vinha nunca, no lugar dele veio o pediatra, que falou q meu filho precisava ficar em observação pois estava nauseado, questionei o pq, queria entender o q estava acontecendo, mas ele não explicou, disse apenas que iria observar e depois falaria comigo.
E sexta-feira passou e nada do meu filho ficar comigo, ele desceu umas 2 vezes no dia por 10 minutos cada, só pra eu ver e pegar um pouco, pq o pediatra achava q ele estava com algum problema, mas não sabia explicar o pq de tanta náusea.
O meu leite não tinha descido, eu estava desesperada pra ficar com meu filho, meu médico não me atendia pq estava em cirurgia sempre que eu ligava pra ele, os médicos do hospital não queria me atender pq eu havia feito um plano totalmente particular, eu mãe de primeira viagem e meu marido que não sabia de nada sobre maternidade ficamos esperando sem nenhuma informação até sábado a tarde quando meu médico veio finalmente me ver e meu filho foi liberado.
Meu leite não tinha descido ainda, e eu achava que iria descer sozinho, o médico me deu Plasil e ocitocina sintética pra usar 10 minutos antes de colocar o bebe no seio, quando coloquei meu filho pela primeira vez no meu seio, veio uma fonoaudióloga do hospital, olhou pra mim e disse, vc não tem bico precisa de um intermediário de silicone, vou mandar buscar. Quando o intermediário chegou, me ensinou usar, colocou meu filho no meu peito e disso: Pronto é isso. Era sábado, 3h da tarde, quase 48 horas depois do parto.
Fiz o que me ensinaram, ele mamava, sugava um pouco e dormia, fui para casa no domingo com uma recomendação expressa do GO de comer muita cangica pra ter muito leite, segui a risca e foram 2 dias de cangica, que adoro, mas sempre me fez mal, meu filho começou a ter cólicas, super normal para um recém nascido, mas eu suspeitei q o leite da cangica estava dando gases em mim e nele, todo mundo dizendo q eu era louca, que não tinha nada haver, mas mesmo assim, eu decidi não tomar mais.
Nessa primeira semana, nos primeiros dias, além da cólica achava que o Pedro mamava demais, ficava 1h, 2 horas direto no peito, mas parecia que não estava satisfeito, eu sentia que tinha algo errado, mas não sabia o que era, então comecei a pirar, achando que eu não tinha leite, que ele sugava tanto pq não saia nada, todo mundo me dizendo que eu estava errada, que era assim mesmo, que o seio só produzia na hora q o bebe sugava, fui na GPM (grupo de apoio à maternidade ativa) do face e postei uma dúvida, as meninas diziam que era normal, minha família dizia que era normal, e que eu estava entrando em depressão, não era normal nada, mas eu não sabia o que era.
No sábado meu marido comprou uma bombinha manual e eu comecei a estimular, além de não sair leite, machucou meu seio e eu fiquei dando mama só de um lado, passando leite no outro para cicatrizar mais rápido.
Comprou também uma lata de Nan, pq eu achava q o Pedro passava fome e não sabia o que fazer para sair mais leite, mesmo assim, lendo o que as meninas da GPM escreviam continuei a estimular e não dei o Nan.
Mas meu filho emagrecia a olhos visto, meu peito doía horrores, uma dor que eu chorava para amamentar, já tinha 15 dias e nunca havia feito coco, só o mecomio que tinha saído no 4 dia, tinha algo de errado. Fui no pediatra com ele, o pediatra examinou e me madou para o PS, com a alegação de que meu filho estava desidratado, era fevereiro, um sol de rachar, fui tranquila, achando q era normal, quando cheguei no hospital fizeram exames de sangue e urina, e diagnostico foi: Desnutrição grau II.
DESNUTRIÇÃO???
Pirei né? Meu bebe sugava, mamava a cada 2 horas, ficava no peito por uma hora e estava desnutrido? Alguém me explica por favor?
Dr. falando o tempo todo: Vc não tem leite, seu filho está com 1,8kg, vc não complementou? Manda descer uma mamadeira agora! Soro glicosado urgente! Não coloca no peito pq ele vai gastar energia sugando e a glicose está muito baixa, se vc tivesse deixado para vir amanhã seu filho teria entrado em choque...
Eu nem vi o dia passar, não comi, não liguei pra ninguém, e achava que se era desnutrição mesmo, iria resolver com o complemento, fazer o que, naquele momento era a vida do meu filho, contra tudo o que me falaram sobre amamentação, eu não tinha escolha, tinha que tira-lo da desnutrição.
Pedro ficou internado 2 dias, tomando mamadeira de 2 em 2 horas, nem se cogitou coloca-lo no peito, ele tinha que engordar urgente, era feito exame de glicose a cada 2 horas, como a glicose se estabilizou e ele ganhou 200g, recebemos alta e uma receita médica escrito: Nan, 30mL a cada 2 horas.
Saí dos hospital sábado as 13h, cheguei em casa e dei a primeira mamadeira as 16h, vomitou na mesma hora, esperei um tempo e dei outra, vomitou outra vez e foi assim até as 22h, quando voltei para o hospital sem saber o q tinha acontecido.
Médicos sem saber o q fazer, vômitos em jatos, coloquei no peito pra ver se ele mamava, vomitou o leite do peito.
Mais exames, Ultrasson da cabeça, da barriga, cirurgião veio ver, disse que uma válvula do estomago poderia estar fechada, coloca no peito pra ver, vomita o leite, dá mamadeira, vomita, coloca no soro, exames normais, não precisa operar, vem uma mamadeira de leite diferente a cada 2 horas, vomita, peito, vomita, de repente um milagre vem um leite que fica, ufa, leite milagroso, leite pra bebes pré-maturos, R$ 60,00 a lata, quem liga pro preço, quero meu filho bem.
Voltei pra casa 8 dias depois da primeira internação, ficamos no hospital com esse leite mágico sendo oferecido de 2 em 2 horas, só receberia alta quando chegasse a quase 3kg, engordava 90, 100g por dia, em casa mesmo esquema até chegar no peso ideal.
Chegou logo em 1 mês foram 2 kg.
Todo mundo em casa me estimulando bastante: “eu amamentei, mas se fosse hoje eu daria só Nan, muito ruim amamentar”, “ Eu tinha tanto leite, que coloquei na mamadeira logo, pq ficava vazando e eu queria q secasse”.
Eu penando: Pq eu não tive leite???
Conversei com as meninas da GPM outra vez, relactação poderia ser a solução, vi o método, comprei o material e lá fui eu tentar, nossa, meu filho nunca chorou tanto, ficou nervoso, não conseguia sugar o peito, tentei com o intermediário, chorava mais ainda, eu chorava, ele gritava, e eu dei a mamadeira.
Tentei no dia seguinte, a mesma coisa, fui ficando nervosa e deprimida, mas eu tinha um filho pra cuidar, não tinha esse direito.
Todo mundo falando, como ele está ficando lindo agora que está gordinho, que bom que ele não entrou em choque, nossa que legal que no hospital experimentaram vários leites diferentes e agora seu filho está bem.
Eu ouvia tudo e guardava no meu coração, aquilo pra mim, ainda não era uma resposta, tinha algo errado, uma mulher não podia simplesmente não produzir leite, um bebe não podia vomitar o leite da mãe e aceitar uma fórmula artificial.
Comecei a pesquisar, e cheguei a conclusão de que meu filho teria alergia a leite ou intolerância a lactose, ele tinha 2 meses e meio já estava com 5,5kg, aparentemente estava bem, levei no pediatra e expus minha conclusão, o pediatra falou que não entendia nada de alergia e de intolerância, mas achava que eu poderia estar certa, disse que eu deveria procurar um gastro-pediatra e conversar com ele, mas que nessa idade o Pedro não deveria mais tomar leite pra pré-maturo, que iríamos trocar por um hidrolisado sem lactose, assim qualquer que fosse o problema, o novo leite iria resolver.
Marquei a consulta com o gastro para 15 dias, comprei o leite novo, Pedro tomou e ficou bem na primeira semana, na segunda, chorava sem parar, foi diminuindo as mamadas, começou ficar cheio de urticárias, e rouco, chegou na consulta com o gastro, que concluiu logo de cara: APLV (alergia a proteína do leite de vaca), vamos testar um hidrolisado mais forte e se não der certo, vai ter q tomar aminoácido livre.
Meu filho estava mal, conversei com as meninas da GPM, afinal agora eu tinha um diagnóstico, e sabia o que tinha q fazer: Dieta restritiva de leite e voltar a amamentar.
Eu sabia que existia um remédio para depressão que tinha como efeito colateral a produção de leite, se eu conseguisse voltar a produzir, eu tentaria de todas as formas a relactação, eu estava decidida, mas já tinha tentado uma vez e sabia que não conseguiria sozinha.
Eu sabia, que por mais forte que eu fosse, sozinha eu não iria conseguir, eu precisava de ajuda, conheci mulheres que tinham conseguido, que me ofereceram em empréstimo bombinhas elétricas.
Procurei o pediatra: Não aconselho, vai ser difícil para você e para ele.
Procurei o banco de leite: Vai demorar muito para produzir e quando vc conseguir ele nem vai querer mais mamar.
Falei com a família: Pra que isso? Ele está bem com a mamadeira.
E eu comecei a pirar, fiquei angustiada, estava sem dinheiro, pq precisei comprar a fórmula de aminoácidos que custava R$ 150,00 a lata e só durava 2 dias. Pensei em contratar uma consultora de amamentação, mas não tinha dinheiro, nem cabeça, quanto mais eu lia sobre a alergia, mais angustiada eu ficava.
Meu filho estava rouco, com chiadeira no peito, e o aminoácido parecia ser o milagre em forma de pó, fazendo ele melhorar cada dia mais.
Ninguém ao meu redor me apoiava, e eu desisti...
Acho que tinha q ser assim...
Mas talvez essa história tivesse outro final:
Teria se eu tivesse mais apoio, da família, dos amigos dos médicos.
Teria se os médicos não tivessem dado LA para o meu filho.
Hoje eu sei o que eram as náuseas: Resultado do LV dado logo ao nascer.
Sei também que as cólicas e o mamar sem parar eram resultado de uma inflamação causada pela alergia.
Sei que o refluxo nada mais era do que resultado de um organismo sensibilizado por um leite que nunca vai chegar aos pés do meu, e que por isso meu filho não mamava o suficiente, pq sentia dor.
Eu tinha leite, meu corpo estava produzindo quando ele sugava, mas com a dor, ele sugava só o suficiente para sobreviver, e mesmo assim quase morreu.
Hoje eu sei que a alergia é um fato na minha vida, se Deus me permitir outros filhos a chance de serem alérgicos é de 80%, então o parto vai ser diferente, não vai ser agendado, vou lutar por um VBAC (parto normal após cesárea), vou fazer dieta de leite antes do BB nascer, não vou comer cangica e nem nada que tenha leite, vou estimular o seio, vou esperar meu corpo se encher de ocitocina natural, vou amamentar meu próximo filho sem parar, ele vai ficar comigo 100% do tempo depois de nascer, eu vou gritar e brigar, mas não vou deixar que aconteça com ele o que aconteceu com o irmão mais velho.
E vou ler mais, cada dia mais vou me apoderar mais do meu corpo, da minha vida e da minha alma de mãe e mulher!"
2 comentários:
Ane, é a Ju da MFAL. Que relato tão triste e tão lindo! A tristeza é óbvia, e a beleza está em você não desistir, se reinventar... Você sabe que minhas duas meninas nasceram alérgicas, que fiz relactação com as duas, e posso te dizer que com a segunda não sofri - e nem ela - nem um milésimo que com a primeira.
Hoje você sabe onde conseguir apoio... Isso é fundamental.
Beijos
Compartilho sua dor, pela cesárea e pela alergia. O mesmo ocorreu comigo e me culpo todos os dias.
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