domingo, 24 de fevereiro de 2013

Parto normal após cesárea com 13 meses de intervalo! (VBAC da Thais Costa)

Lembram da Thais, que eu coloquei o relato aqui? A Thais sofreu violência obstétrica no nascimento da primeira filha e estava tentando um VBAC (parto normal após cesárea). Aqui vai o relato:






Desde o nascimento da Cecília nós usávamos camisinha e coito interrompido quando dava tempo de fazer alguma coisa,  dia  11/09/11 tivemos um “acidente de percurso com a camisinha” teoricamente eu não estava no período fértil, mas como só havia menstruado uma vez após o nascimento da Cecília,  eu tomei a pílula do dia seguinte para desencargo de consciência, ela tinha menos de 5 meses e engravidar de novo era algo inimaginável por vários fatores:  idade da Cecília, financeiro, profissional, psicológico e o que mais pesava era a forma como a Cecília havia nascido. Gravidez pra mim era algo ameaçador, era correr o risco de passar todo aquele horror de novo, de ser cortada e agredida novamente. 
Porém, só dia 24/09 fazendo lista de supermercado me dei conta de que não havia usado o pacote de absorventes do mês anterior. Quando fiz as contas senti um gelo na espinha... Estava com 4 dias de atraso, como seria meu 2º ciclo menstrual após a Cecília, eu pensei que pudesse ser um descontrole fisiológico e me acalmei, comprei um teste de farmácia só por desencargo de consciência e fui pro banheiro. Fiz xixi no palitinho e quando trouxe pra perto dos olhos já estava lá a 2ª listra aparecendo tímida e ficando cada vez mais forte.
Gritei meu marido  do banheiro e comecei a chorar desesperadamente.
Eu estava grávida de novo! 
Meu marido com seu otimismo irritante se agarrava ao 0,01% de margem de erro do teste de farmácia, fiz de outra marca e deu positivo também.  O dia amanheceu e fui pro laboratório, quando puncionaram minha veia percebi o sangue mais ralo por causa da hemodiluição fisiológica da gravidez... Antes mesmo do resultado comecei a me conformar com a minha nova condição de puerpera grávida.
Diferente da primeira gravidez que demorei para aceitar, eu não desejava que aquele bebê não existisse, de certa forma  me sentia  feliz  em saber que  teria outro filho, mas a possibilidade eminente de outra cesariana me atordoava, eu não podia passar por essa vida sem parir um filho, esse sempre foi  um desejo muito vivo em mim, e a falta de grana e o intervalo da cesárea da Cecília me faziam sentir esse desejo escapar entre os dedos.
Por volta de meio dia eu acessei o site do laboratório e já não existiam mais dúvidas, estava lá meu positivo! Gritei meu marido que estava no quintal brincando com os cachorros e quando ele me viu chorando na sala abriu um sorriso enorme e disse que daria tudo certo, que faríamos tudo que estivesse ao nosso alcance para que esse bebê nascesse com respeito.
Eu não tinha muitas opções aqui no Vale do Paraíba, me sentia insegura em tentar novamente um parto domiciliar, precisar de hospitalização e cair nas mãos de outro plantonista infeliz, então saí procurando uma saída para conseguir parir esse bebê.
A Kal que foi minha companheira de barriga na gestação da  Cecília me disse que conhecia um médico  aqui da região que já havia feito alguns partos leboyer , pesquisei na internet e descobri que ele participou do primeiro parto leboyer realizado no Brasil na década de 70. E lá fui eu atrás dele. ..
As consultas eram bem mais caras que o valor praticado aqui na região, a nossa situação já estava  mega apertada, eu ainda recebia a licença maternidade, mas sabia que não voltaria a trabalhar quando ela terminasse,  pagamos aluguel, temos 5 animais em casa e um bebê de pouco mais de 4 meses, mas,  estávamos dispostos a qualquer sacrifício. 
Fui a primeira consulta por volta das 4 semanas de gestação, gostamos dele, era atencioso, trabalhava com evidências e disse que o intervalo não dizia muita coisa, que só diminuía minimamente o risco de ruptura uterina, e que pra ele via de nascimento só se definia em trabalho de parto. Perguntei o valor do parto já na primeira consulta e ele disse que mais pra frente falaríamos disso
 Me pediu uma  USG para a 7ª semana de gestação para termos certeza da idade gestacional dessa gravidez, já que a da Cecília havia chego a 42 + 3 e o capurro dela foi de 39 semanas.
Exame feito, IG batia exatamente com DPP pela DUM e o pré-natal  corria tranqüilo, não sentia com o GO aquela afinidade que se sente com alguém que veste a camisa da militância pela humanização do parto, mas ele era infinitamente mais agradável que os cesaristas que conhecia.
Então, lá pela 22ª semana, sentamos após a consulta para discutirmos os valores do parto.
Ele mais a equipe da qual ele não abria mão ficariam em R$11.000,00. Tentei argumentar  e dizer que os demais membros (anestesista, pediatra e “cirurgião auxiliar”) eu usaria os plantonistas do hospital pelo meu convênio, mas ele disse que era imprescindível um anestesista e um neonatologista de confiança, mesmo eu dizendo que queria um parto natural sem anestesista.
Saímos de lá bem perdidos, nem vendendo nosso  carro daria para pagar tudo, mas como ficaríamos sem carro com 2 bebês? Enfim, meu desespero era tamanho que eu estava disposta a me endividar até a alma caso fosse necessário, mas por mais que eu gostasse da postura do GO não sentia aquela segurança de que ele vestia a camisa do meu parto, de que ele acreditava no protagonismo da mulher, apesar de trabalhar com evidências eu percebia que para ele, o parto era um evento médico!
 Trocando em miúdos, meu parto não era meu, era um acontecimento que dependia dele e da equipe caríssima que ele exigia.
Eu já estava com umas 23 semanas, havia descoberto que quem habitava minha barriga era o Francisco, um menininho que nos deixou muito feliz, comecei a pensar que não era só um parto, eu teria 2 bebês pra cuidar depois e como seria se eu fizesse uma divida tão grande e ainda fosse submetida a uma cesárea desnecessária? Com que finanças e estado psicológico eu receberia essa criança e continuaria a cuidar da que já estava no meu colo?
Eu tinha a opção de parto domiciliar aqui na região, mas eu não me sentia segura, tinha medo de mais uma vez precisar de hospitalização e cair na mão de outro açougueiro, se fosse pra ser assim, eu preferia uma cesa limpinha com acompanhante e sendo tratada como gente. Mas isso me feria mortalmente, não teria outros filhos, logo nunca saberia o que é por um filho no mundo por minha conta, eu me sentia extremamente mutilada só de pensar em ir para uma cesárea eletiva.
Nessa fase eu tive a sorte de poder contar com a amizade, carinho e torcida ferrenha de pessoas que mesmo de longe conseguiram se fazer tão presentes na minha vida, mulheres incríveis que eu  conhecei na GPM do Orkut e se tornaram uma grande parte do meu alicerce nessa gravidez   e as meninas no grupo de mães de março de 2011, irmãs que acompanharem o meu sofrimento com a cesárea da Cecília e torciam muito para que Francisco viesse de forma muito diferente.  Caçaram por todos os cantos contatos de parteiras e obstetras pra mim, Jamila me ofereceu até sua casa, caso eu quisesse um PD com alguma equipe de SP. Sentia de todo o coração que elas torciam como se fosse pelo parto delas e isso foi importante demais pra mim.
Então conversei com meu marido e chegamos a conclusão de que buscaríamos um GO humanizado em SP ou São Carlos, cheguei a fazer alguns contatos, até que me lembrei que li certa vez( não me lembro onde) que existia uma parteira no litoral norte de SP. Não sabia qual cidade era, nem se era GO, EO , obstetriz ou parteira tradicional, na esperança que fosse uma obstetra, já que eu desejava um parto hospitalar,eu perguntei para Flávia Penido, e ela me  disse que era uma obstetra que atendia em São Sebastião-SP e passou o contato da Drª Bernadette, isso foi a noite e na mesma hora e ansiedade me fez procurá-la pelo face e perguntar se ela aceitava acompanhar VBAC com esse intervalo curto, prontamente ela me respondeu e lá estava a minha tão desejada luz no fim do túnel :
” Não faço restrição para VBAC por conta do intervalo, se pode com intervalo grande, pode com pequeno né?”
Senti um ímpeto de esperança imenso  e no dia seguinte eu já liguei no consultório e agendei uma consulta para  a mesma semana, antes da consulta mandei um e-mail explicando como ia a gravidez e contanto todo horror que passei no nascimento da Cecília.
Finalmente chegou o dia da consulta, foram 2 horas de viagem até São Sebastião, eu, marido e Cecília chegamos lá no finzinho da tarde e  fomos direto pro consultório.
Bernadette foi além das nossas expectativas para uma obstetra, ela não só era favorável ao parto normal, ela era uma militante da humanização, eu me senti tão acolhida e segura, apesar de não conhecer ninguém que tivesse parido com ela rolou uma empatia enorme e ela me passou muita segurança. Combinamos que eu terminaria meu pré-natal aqui em Taubaté e voltaria lá na ultimas semanas e depois só iria quando começasse o trabalho de parto.
Optei por terminar o pré-natal pelo SUS, na gravidez da Cecília eu já havia rodado todos os GOs do convênio e todos eram cesaristas insuportáveis, apesar de saber que teria meu parto com nenhum deles, eu quis evitar o stress das ultimas semanas com pérolas de útero explosivo e etc.
Por volta da 30ª semana eu percebi que quando eu auscultava o BCF do Francisco com o Doppler em casa, o foco estava sempre abaixo do meu umbigo, comecei a suspeitar que ele ainda estivesse pélvico, e com 33 semanas passei por consulta no postinho e de fato ele ainda estava pélvico, fiquei super frustrada! Agora que eu havia conseguido uma assistência legal o menino está sentado, foi um  imenso balde de água fria. Comecei imediatamente a fazer os exercícios para versão expontânea.
Teoricamente eu sabia que ele ainda tinha tempo e espaço para virar, mas não conseguia ficar calma, eu sabia que a minha obstetra acompanhava parto pélvico e era experiente nisso, mas o problema era comigo, eu tinha medo do parto pélvico, medo que só não era maior que o de ter outra cesariana.
Com todo esse stress tive alguns episódios  de hipertensão, mas que sempre normalizavam sem medicação, havia dias em que eu chegava para aula de pilates com a PA 160X110mmHg e só com exercícios de respiração ela voltava para 120X80mmHg,  logo concluí que era emocional, e isso me doeu profundamente, porque a PA alta que me levou ao hospital na gestação da Cecília possivelmente também era emocional já que a pressão pelo pós datismo me massacrava, só que eu não tive chance de me acalmar e ver se a PA normalizava, fui enviada para o hospital e meu sonho de parto domiciliar naufragou.
Mas, não era mais hora de chorar pelo parto que não tive, era hora de tentar me acalmar e ir firme em direção ao parto que eu queria ter.
  Com 34 semanas eu comecei a pensar em versão externa, fiz alguns contatos, acabei chegando até a Drª Carla Polido e quando estava prestes agendar a versão, porque a essa altura eu iria sem problemas até São Carlos desvirar esse menino, fui fazer uma USG para confirmar a posição do Francisco, quando o médico colocou o transdutor na região do fundo do útero eu já com a voz embargada perguntei se era a cabeça dele, e o médico me responde: “A não ser que o piu-piu do seu filho esteja no lugar errado, isso aqui é a bunda dele.”
Eu quase saí pulando da mesa de exame, não coube em mim tanta felicidade, da sala de USG mesmo eu avisei as meninas pelo face de que ele estava cefálico, elas estavam torcendo tanto e tão aflitas quanto eu e mereciam receber a notícia o quanto antes.
A partir daí a calmaria se instalou e consegui relaxar o finzinho da minha gestação, fomos mais uma vez a São Sebastião e acertamos com a Bernadette os últimos detalhes, levamos Cecília a praia e em casa eu fui acertando as coisas que ainda estavam pendentes para a chegada do Francisco, com 36 semanas comecei a perder o tampão bem aos poucos. Eu confesso que esperava passar da DPP, mas, quando bateram as 40 semanas e eu ainda não sentia muita coisa, fiquei ansiosa... Nesse mesmo dia perdi um pouco de tampão com sangue e comecei a sentir contrações irregulares, a essa altura a arrumação do ninho estava ferrenha aqui, eu faxinava a casa todos os dias, arrumava as gavetas, lavava pano dos cachorros e inventava coisas para fazer com a Cecília, tudo pra tentar arejar a cabeça e não ficar caçando sinais de trabalho de parto.
Com 40 e um dia comecei a sentir contrações mais doloridas, então pedi ao marido que fizesse o toque e descrevesse o que ele conseguia, expliquei para ele o que ele poderia encontrar e tomei as medidas básicas de assepsia ( lavagem das mãos e luvas) ele fez e me disse:
“Não tem mais boquinha nenhuma aqui, só uma geleia mole e um buraco”
Nesse buraco ele introduziu 2 dedos e abriu até eu sentir que tava no limite. Medimos essa abertura de dedo e deu 4,5 cm.
Levei um susto, como assim 4,5 cm e eu não sentia nada além de  modestas contraçõezinhas ?
Liguei para a Bernadette e ela achou prudente que eu pedisse para a Patrícia EO de São José dos Campos viesse me avaliar em casa, e ela veio. Na verdade eram quase 4 cm de dilatação e colo estava apagando, mas com bebê ainda alto e poderia demorar um dias.
Aquietamos-nos e continuávamos esperando, assim seguiram mais 4 dias, pintamos barriga, levamos Cecília ao shopping e no domingo, dia em que eu completava 40s + 3 dias fiquei bem nervosa, chegue a chorar com medo do pós datismo outra vez, conversei com a Hellen que havia conseguido um VBAC lindo há poucos dias, foi bom desabafar um pouco e no fim da tarde eu tentei fazer coisas que me tranqüilizavam e fui dormir. Segunda feira eu acordei mega disposta, faxinei tudo de novo, meu marido chegou do trabalho e eu quis ir bater perna na rua, Cecília ia ficar em um hotel com a moça que nos ajuda em casa e eu precisava de uma jarra de vidro para esquentar a água do mamá dela no microondas do hotel.
Comprei a jarra, bati mta perna em lojas e comprei uns brinquedinhos pra Cecília levar, comprei ração para os bichos de casa, deixei a chave com a moça que viria tratar deles na minha ausência, cheguei em casa tomei banho correndo e fui pra aula de pilates, voltamos para a casa por volta de 21:30 e Cecília estava com sono, como ela havia adormecido, e eu estava DOIDA de vontade de comer um sashimi de agulhão de um restaurante japonês perto de casa, colocamos ela no carrinho e fomos. Não faltava  mais nada para arrumar, estávamos apenas esperando o Francisco dar o sinal de que estava vindo.
Entramos no restaurante e fizemos o pedido, assim que chegou à mesa eu ataquei o sashimi, quando ia colocar o segundo pedaço na boca senti um tranco no colo do útero, parecia um encaixe daqueles botões de pressão de jaqueta. Achei mto estranho e tentei me mexer na cadeira, e então foi água para todo lado.  A sensação de Felicidade e euforia que senti é inexplicável. Olhei espantada para o meu marido e disse: “A bolsa estourou!!” Ele riu e disse: Deixa de ser pentelha vai, mas já com os olhos estalados, então ele olhou embaixo da mesa e já levantou desesperado RS..rs.. Não sabia pra onde correr, eu o acalmei, chamei o garçom e pedi a conta, quando se deram conta do que estava acontecendo o restaurante todo se alvoroçou,  parecia que ia nascer ali dentro mesmo.
Saímos e liguei para a Bernadette, ela perguntou como estava o liquido e eu disse que estava abundante, clarinho e sem grumos, então ela disse  para eu ficar calma que o Francisco estava vindo,  que nos esperava lá e era para telefonar de novo quando estivéssemos chegando.
Fomos para casa, colocamos as coisas no carro e Cecília ainda dormia, a colocamos na cadeira e fomos buscar a Carol, que tomaria conta dela no hotel. Por volta de meia noite saímos de Taubaté, eu estava abismada com a quantidade líquido amniótico que eu ainda tinha, lavei o chão do restaurante e estava molhando uma toalha de banho que forrei o banco do carro.
Pegamos uma ventania e uma chuva horrível na estrada, eu estava super tranqüila, mas meu marido por mais preparado que parecia estar, ficou uma pilha. Durante a viagem  eu fui enviando sms para as meninas e comecei a sentir umas contrações bem doloridas, mas espaçadas. Chegamos em São Sebastião 02h:30, fui pro hotel acomodar a Cecília e liguei avisando a Drª Bernadette que eu havia chego, ela disse que estava indo pro hospital me esperar.
Fizemos o check-in, eu tomei um banho e arrumei as coisinhas da Cecília fiz minhas recomendações à Carol, deixei a listinha das atividades dela durante o dia e chegou o momento mais difícil, Cecília estava acordada e eu precisava sair para ir para o hospital, pois meu marido estava quase parindo 2 filhos de ansiedade.
Cecília tava sentadinha na cama brincando com um livrinho de banho, eu olhei para ela e meu coração doeu tanto, era a ultima vez que a via como meu único bebê, segurei a mãozinha dela e enchi ela de beijos, pedi perdão por tudo o que viria depois, por  todas as vezes em que ela sentiria falta da minha atenção exclusiva.  Meu Deus...Como doeu sair daquele quarto e deixar ela para trás, em 1 ano, 2 meses e 23 dias eu nunca havia dormido longe dela.
Ela parecia entender o que acontecia, meu deu um beijo e nem chorou quando sai, eu fiz o trajeto todo sem conseguir dar uma palavra, só conseguia chorar pela saudade que eu sentiria dela.
Chegamos no hospital junto com a Bernadette, meu marido só se acalmou quando a viu, eram mais de 03h:00 uma chuva gelada caindo e ela estava esbanjando bom humor e super entusiasmada com a chegada do Francisco.  Fui para dentro com ela e meu marido ficou na recepção fazendo minha ficha. Ela me examinou e estava tudo tranqüilo, quase 5 cm de dilatação, BCF ok e líquido claro. Fomos para o quarto e eu e Raphael fomos dormir.  Por volta de 05h:00 Acordei com um pouco de dor, meu marido foi tomar um café na padaria próxima ao hospital com a Bernadette e eu fui tomar um banho quente.
Eles voltaram um tempo depois e me trouxeram um lanche, Raphael ficou mais um tempo comigo e eu pedi que ele fosse pro hotel ficar com a Cecília, ajudar a dar café da manhã pra ela e essas coisas e mais tarde voltaria trazendo minha bola e meu radinho com as músicas que selecionei para o parto, Bernadette me disse que estaria o tempo todo no hospital e se eu precisasse era só mandar chamar.
Eu dormi novamente e só acordei por volta das 09:00 com a verificação dos sinais vitais de rotina do setor, tomei café da manhã e não dormi mais, logo meu marido chegou com as coisas que eu pedi. As contrações iam e vinham e a dor delas era absolutamente suportáveis, eu comecei a pedir que meu marido fosse fazer coisas fora do hospital, pedi sorvete, pedi uma revista, pedi pra ir ver Cecília de novo, então percebi que o que eu desejava era ficar sozinha, eu precisava do meu momento de introspecção, algo incrível aconteceria comigo naquele dia e eu precisava me preparar para isso. Expliquei isso à ele e pedi que fosse pro hotel.
Com luzes apagadas eu fiquei sentada na bola, com os braços e a cabeça apoiados na cama ouvindo as músicas que eu levei, algumas me remetiam ao desejo de ver meu filho e ter o meu parto, outras me remetiam a momentos distantes da minha vida, momentos felizes, outros tristes... Alí fui exorcizando todos os meus medos, fui encerrando ciclos antigos os quais a anos eu me recusava a mexer, chorei bastante, senti saudade da minha mãe, lamentei estar morando longe do meu pai e não poder ter ele por perto participando do crescimento dos meus filhos, questionei Deus sobre os gêmeos que havia perdido há anos atrás, mas por incrível que pareça em momento algum senti medo da ruptura uterina que me assombrou durante toda a gestação e logo as contrações começaram a ficar mais próximas e doloridas, mas nada que se parecesse com trabalho de parto ativo. Por volta de 12h:00 Bernadette auscultou o BCF e conversamos um pouco, ela ia dar uma passada no consultório e voltaria logo, então eu pedi que fizesse o toque pra ter uma noção de como estava a dilatação, estávamos em 7 cm e eu espantada porque imaginei que sentiria muita dor até alcançar essa dilatação e no entanto eram só contrações suportáveis e espaçadas.
Voltei a meu momento de introspecção e as dores começaram a vir com mais força, quando percebi que estava brigando com a dor da contração fui pro chuveiro, nisso veio o almoço eu sai, comi, entrei no face pelo celular e dei um alô para as meninas que estavam eufóricas com o meu trabalho de parto e fui ficar mais um tempo na bola.
Por volta de 13h:30 as dores foram apertando eu fui pro chuveiro e não sai mais, liguei pro meu marido e disse que ele podia voltar porque eu não queria mais ficar sozinha, acho que em 15 minutos ele chegou, eu já estava sentindo contrações a cada 5 minutos, levei a bola pra baixo do chuveiro e lá fiquei, Bernadette chegou em seguida e ficaram os 2 conversando comigo da porta do banheiro e eu no chuveiro. Conversávamos sobre várias coisas, entre uma contração e outra eu ria muito, falamos sobre pérolas dos cesaristas, sobre os cachorros de casa, sobre filhos que vieram um atrás do outro enfim...
Por volta de 14:40 as contrações chegaram ao que eu chamaria de insuportável, eu agachava e respirava quando elas vinham e isso ajudava muito, nessa altura eu já estava chorando de dor,
Conseguia juntar na mesma frase puta que o pariu, meu Deus do céu, Nossa Senhora e “Caralho como isso dói!!”
Tentava sair do chuveiro para auscultarmos o BFC mas não conseguia, chegava até a porta do banheiro e vinha outra contração que me fazia correr pro chuveiro de novo. Com muito custo e concentração eu consegui sair, BCF ok e Bernadette fizeram o toque de novo e disse: Já está quase na hora, você decide se quer que nasça aqui ou se quer ir pro centro de parto.
Fiquei ali por mais um tempo e comecei a ficar cansada, o chuveiro do centro de parto tinha barras e era mais espaçoso então fui pra lá. Subi andando de camisola aberta e gritando palavrão RS..rs.. Passamos por outras gestante em trabalho de parto que estavam no leito e entrei no banheiro, liguei meu radinho e mergulhei de cabeça nas contrações, doía demais, mas eu soltava o corpo segurava na barra que estava atrás de mim e me agachava a cada contração que vinha, por dentro eu agradecia muito a Deus por estar conseguindo passar por tudo aquilo, agradecia por tudo ter dado certo e por estar muito perto de ter meu filho nos braços.  Eu já estava gritando bem alto nessa altura, meu marido de olhos arregalados não dizia muita coisa, Bernadette foi vestir a roupa privativa e logo eu pedi para chamá-la porque começou a cair muito sangue no chão, nisso eu já dizia que não agüentava mais, que se demorasse muito mais para ele nascer que eu não suportaria. Então ela muito calma me pediu para ver se eu sentia o Francisco, mal coloquei a mão na vagina e senti a cabeça dele muito baixa, estava quase saindo mesmo. Uffa que injeção de animo, meu cansaço deu um trégua e eu parei de reclama, mas estava muito cansada, quis sair do chuveiro e me sentar no vaso sanitário, também não estava bom assim e pedi pra ir para a mesa de parto, eu queria me sentar, já não conseguia mais ficar em pé. Sai do banheiro sem nem notar que tinham mais mulheres ali em trabalho de parto, fui pelada e gritando palavrão de novo para a mesa de parto, lá pude sentar meio acocorada e segurar nas barras quando vinha a dor.
Meu marido tentando me acalmar e colocar a mão na barriga e eu gritava para ele calar a boca e tirar  mão, eu não queria ninguém com a mão em mim, e assim aconteceu. Bernadette, meu marido e a pediatra assistiam ao que eu mais desejei, eu mesma estava trazendo Francisco pro mundo. Derrepente a dor parou, acho que fiquei uns 5 minutos assim e veio o primeiro puxo, eu não acreditava que estava passando por aquilo, nisso meu marido disse que estava vendo os cabelos dele, eu senti mais uns três puxos desses e comecei a sentir dor de novo, era uma contração que doía e também o círculo de fogo, doía demais e eu acho que por duas vezes gritei que queria anestesia, que queria ir embora dalí e eles me diziam ele está nascendo, ajude o Francisco a sair por que ele está nascendo, mas me bateu um cansaço tão grande que sai do ar, ouvia a voz deles de longe e enxergava tudo embaçado, comecei a vocalizar sem qualquer controle e dessa parte não me lembro, nisso o circulo de fogo veio com tudo comecei a fazer força, mas cheguei a pensar que ele não sairia, olhei para a Bernadette e disse doutoura eu vou parir, ela sorriu dizendo vai sim! Vai parir o Francisco e a Cecília Thaís, força mulher trás o seu filho pro mundo! Nisso fiz uma força que nem eu sabia existia em mim e senti o Francisco escorregando para fora, Bernadette pegou ele com um campo e me entregou. Ele nasceu sem chorar, só deu um resmungo e me olhou com dois olhos tão vivos que me fizeram sentir minúscula diante da grandeza daquele olhar.
Foi o momento mais feliz da minha vida, eu não acreditava que estava passando por tudo aqui, era tão perfeito que chegava a ser surreal.
Francisco dormiu no meu colo e logo senti a placenta saindo, não doía mais nada, só uma sensação boa e quente de parir a raiz que sustentou o meu filho por todos esses meses.
Francisco foi avaliado bem rapidinho com o pai dele junto e já voltou pro meu colo.
Tive uma laceração porque fiz força fora dos puxos, mas nada que tirasse o brilho daquele momento maravilhoso. Sai da mesa de parto andando e fui pro leito do centro de parto e ali fiquei com Francisco até irmos pro quarto.
Pela primeira vez eu não amaldiçoei a cesárea desnecessária que sofri, graças a ela eu pude enxergar toda  a grandeza de parir um filho após uma cesariana recente nesse pais que conta um sistema obstétrico podre e mentiroso.
Existem sim muitas maçãs podres, mas cada obstetra de fato humanizado que tenha proporcionado a uma mulher a felicidade que a doutora Bernadette Bousada me proporcionou quando acreditou na minha capacidade de parir meu filho vale por centenas dessas maçãs podres.
Serei eternamente grata a Deus por ter tido a dádiva de parir um filho com respeito!

6 comentários:

Anônimo disse...

"quando puncionaram minha veia percebi o sangue mais ralo por causa da hemodiluição fisiológica"


Ok, rolou um exagero.

Unknown disse...

Me emocionei demais com esse relato. Estava pesquisando sobre VBAC com intervalo curto e cheguei aqui. Eu tive uma cesarea necessária e, 11 meses depois eu engravidei. Estou com 7 semanas e foi uma injeção de ânimo ver um caso de sucesso como o seu, depois de um intervalo tão curto!

Agência Facilyta disse...

Exagero é comentar como anonimo.
Ela é formada em enfermagem e sabe muito bem do que ta falando.

Renata disse...

Encantada com seu relato tão cheio de emoções e regado de detalhes tão difíceis de serem descritos! Me identifiquei e me emocionei! Parabéns!

Vitória disse...

Que coisa linda! Sou de Fortaleza-CE e tive minha primeira filha por cesárea. Estou grávida novamente e a data provável de parto é para 13 meses após essa cesárea! Quero muito o parto normal, sempre quis! Dessa vez, não vou deixar que o medo, a inexperiência, as energias negativas, os desestímulos me impeçam novamente de passar por essa experiência incrível. Fui extremamente atormentada, desde por familiares até por pessoas do próprio hospital. Mas dessa vez, vai dar certo, se Deus quiser!! :D

Thaís disse...

Vá estudar fisiogia antes de bostejar pelos dedos!