domingo, 20 de janeiro de 2013

Sandálias da humildade (alergia à proteína do leite de vaca e outras reflexões)


Então, resolví escrever esse post porque eu acho que anda carecendo...

2012 foi um ano de muitas mudanças pra mim, e a principal foi descobrir que minha filha é APLV (alérgica à proteína do leite de vaca). A gente nunca consumiu muito leite aqui em casa, eram mais os derivados, mas descobrir isso acarretou toda uma série de mudanças nas nossas vidas. O diagnóstico, no nosso caso, foi muito difícil. Aurora tinha diarréias mensalmente que duravam 10 dias. Ela passava 10 dias do mês com uma diarréia monstra, e isso a impedia de ganhar peso. Além da diarréia, ela tinha diversas manchas pelo corpo e uma falta de apetite preocupante. No começo eu achei tudo normal: diarréia pra mim era de alguma virose que ela tinha pego na creche, as manchas eram brotoeja ou algo do gênero e a falta de apetite era comum à idade. Depois de passar em vários pediatras, alergista e dermatologista e todos serem categóricos em afirmar que tudo oq ela tinha era normal e ver minha filha descer cada vez mais nas curvas de crescimento até chegar a um ponto de ela não ter ganho nem 100g em 1 ano, uma amiga minha me cantou a bola de que ela podia ter alergia. Eu era alérgica quando criança (ainda sou um pouco) e tenho uma família inteira de alérgicos (lá temos alérgicos à proteína do leite de vaca, produtos de limpeza, medicamentos, enfim, tem todo tipo de alergia) e eu simplesmente deletei essa informação da minha cabeça por um tempo enorme. Começamos a dieta de restrição e mesmo assim ela não melhorava. Com a ajuda de grupos especializados em alergia, descobrí que ela não melhorava pq além da comida não poder ter leite diretamente, ela não poderia ser processada em mesmo equipamento que comidas que levam leite pq sempre fica um pedaço de proteína do leite, ou um pedacinho de queijo, que podem provocar reações nos alérgicos. Foi mais uma luta,  pq além de Aurora não poder consumir, eu também não posso consumir nada que tenha traços de leite (esses pequenos pedaços de proteínas), e pra dieta ser efetiva, teríamos que separar panelas, talheres, pratos e até a esponja que lavamos a louça dela. Optamos aqui em casa por não mais consumir nenhum produto que não seja limpo de leite e conseguimos estabilizar o quadro dela, depois de muito choro e dor de cabeça. Ela ganhou 300g em 10 dias e passou a comer um pouco melhor, o que deixou claro pra nós que estamos no caminho certo.

Como eu disse, da gente descobrir que ela era alérgica e conserguirmos estabilizar o quadro foram 4 meses. 4 meses de loucura total, de preocupações pq a dieta não estaria dando certo, pq a gente tava no escuro sem saber o que ela tinha, pq se não fosse APLV eu não teria idéia do que ela podia ter, enfim, foi caótico e desesperador! E esses 4 meses me ensinaram muita coisa, e a principal delas foi parar de ser arrogante.

Já tinha um tempo que eu andava tomando umas porradas da vida, uns tapas na cara, e acho que essa alergia foi definitiva pra eu passar a enxergar algumas coisas de um modo diferente. Recebí muito apoio de gente que eu sempre julguei e falei mal. Pra dizer a verdade, essas foram as pessoas que mais respeitaram as nossas suspeitas e ajudaram na questão alimentar da Aurora. Gente que eu sempre taxei de "mãe de merda" e que foram as primeiras e correr em meu auxílio, a me acalmar e me fazer enxergar uma série de coisas que eu não conseguia enxergar porque simplesmente me coloquei num pedastal, me julgava boa demais pra compreender certas atitudes e arrotar por aí que eu "nunca faria isso". Além da alergia, eu comecei a trabalhar, e isso também foi crucial pra me fazer ficar um pouco mais humilde e parar de apontar o dedo na cara dos outros. A gente sempre gosta de pensar e criticar as atitudes das pessoas, e eu em particular sou bem ácida nas minhas críticas, mas ver as outras coisas por outro prisma foi muito importante pro meu amadurecimento pessoal. Pude entender todas as mães que dão uma mamadeira com mucilon pra criança dormir a noite toda, entender as mães que ligam um desenho de manhã só pra poderem dormir mais um pouquinho porque estão podres de cansaço, enfim, foi uma mudança e um choque de realidade radicais.

Então o que eu quero dizer com isso tudo é que eu parei de julgar. Tá, isso é impossível porque a gente sempre julga um pouquinho, mas acho que eu passei a ter empatia. É tão fácil julgar os outros do alto da pedra do rei! Bater no peito e dizer "eu não faria isso" sendo que você não conhece aquela mãe, não sabe a história de vida dela nem o que ela passou pra chegar até alí, não sabe que tipo de informação ela tem acesso, nem que relações familiares ela estabeleceu. Quando você está de fora, tomar decisões é muito mais racional e fácil do que quando você está no olho do furacão. Todas nós somos humanas, e mães, apesar de na maioria das vezes quererem sempre o melhor pros filhos, erram, e erram feio. Tem muita mãe por aí que, apesar de não querer amamentar, é uma mãe muito melhor do que várias que ficam por aí arrotando o quanto são perfeitas. Tem muita mãe que, apesar de infelizmente precisar terceirizar o filho porque precisa garantir a sobrevivência, é melhor mãe do que quem fica em casa de saco cheio da criança e doida pra sair correndo. Enfim, nós não temos a mínima idéia do que é a vida do outro até estar na pele dele, com todas as angústias e vivências que ele tem. Claro que eu vou sempre continuar falando a quem me perguntar o que eu acho melhor, o que vai de acordo com as minhas crenças e o que eu acho mais embasado cientificamente, mas acho importante ter auto-crítica e saber que a gente não é a última coca-cola do deserto e que estamos sim sujeitos a falhas.

E se eu pudesse dar um conselho, seria por favor, mas por favor mesmo, não seja estúpida como eu e pare de julgar as outras pessoas, pare de julgar as decisões delas como se fossem certas ou erradas e como se você fosse deus. Você não tem esse poder. Ninguém te deu o direito de falar se a decisão de A, B ou C foi correta. E, principalmente e baseado na minha própria experiência de vida, cuidado, porque quando a gente cospe pra cima invariavelmente o cuspe cai na nossa testa.

Um comentário:

Maíra disse...

Bacana esse seu post, Aretha. Sabe, eu ainda me considero radical sobre minhas ideologias, porém mudei bastante minha forma de lidar com certos assuntos, especialmente relacionados a maternidade, amamentação, parto, etc. Primeiro porque eu ainda ñ vivenciei nada disso, apenas defendo o que acho certo e, segundo, porque, como vc mesma disse, acho que cada pessoa tem sua vivência, sua carga emocional, e não dá pra querer que ela simplesmente enxergue as coisas da mesma forma que eu. Empatia, essa é a palavra. Mas, nunca deixarei de defender as minhas ideologias e nem nada do tipo.
Que bom que vocês descobriram esse problema da Aurora e resolveram mudar a alimentação de todos! Nossa, vejo tantas crianças doentes por aí e os pais simplesmente se NEGAM a mudar qualquer coisa! Isso me revolta, sabe? Tenho um parente (menino de 16 anos) que descobriu ter a Doença de Chron recentemente... eu falei com a família dele sobre a alimentação dele que, preferencialmente, deveria ser de alimentos de origem vegetal e tudo o mais. E sabe o que aconteceu? Nada! A médica disse que ele pode continuar comendo de tudo! Ou seja, o menino agora se entope de remédios (inclsive um carésimo que ele consegue de graça pelo SUS) e continuará tendo uma porcaria de alimentação. Bom, né?! Enfim, não tenho paciência com essas coisas, faço minha parte em falar, orientar e alertar mas resolvi ligar o foda-se e fazer o que eu acho melhor para a minha família, e o resto, bem, o resto que faça o que bem quiser.

Beijão querida!