quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Alergia a proteína do leite de vaca


Sumi mas revivi. Ando morta com farofa com as coisas da faculdade e da vida e não tem rolado muita inspiração pra postar aqui no blog, mas pretendo mudar isso de alguma forma. Dadas as devidas explicações, vamos ao texto.



Não sei se eu cheguei a comentar aqui, mas no final do ano passado descobrimos que Aurora tem alergia a proteína do leite de vaca. Não é intolerância a lactose, nem alergia ao leite, que são coisas completamente distintas. Vou falar um pouquinho de cada coisa baseada no conhecimento que eu adquiri nesse 1 ano de mãe de alérgica e que fui acumulando através de leitura de grupos especializados no tema no facebook, artigos científicos e rotina.

A intolerância à lactose é a dificuldade ou a incapacidade de digerir o açúcar do leite (essa parte eu copiei igualzinho a minha amiga Ane Aguiar me explicou). Em geral pessoas intolerantes tem reações mais brandas quando entram em contato com o leite, que podem variar de desconforto abdominal e diarréia a vômitos e outros sintomas mais "amenos". Costuma ser mais comum em adultos, sendo poucas as crianças de fato intolerantes.

A alergia a proteína do leite de vaca é uma coisa um pouco mais complexa. Em geral aparece no primeiro ano de vida e costuma curar (se tomados os devidos cuidados) por volta dos 6 ou 7 anos. Segundo o gastropediatra da Aurora, se depois dessa idade de vida a criança continuar a manifestar os sintomas da alergia, provavelmente ela será alérgica pro resto da vida. Esse tipo de alergia consiste numa reação do sistema imunológico, em que o corpo vê aquela proteína como um organismo estranho, liberando anticorpos. É muitissímo comum em crianças (estima-se que aproximadamente 60% das crianças tenham esse tipo de alergia) e tem cura.

Existem dois tipos de alergia a proteína do leite de vaca: a alergia mediada e a não-mediada. Em crianças com alergia do tipo mediada, o diagnóstico é mais fácil, pois em geral esse tipo de alergia pode ser rastreada através de exames de sangue. A criança com alergia mediada, quando em contato com os produtos que provocam as reações, manifestam sintomas como vermelhidão no local que foi tocado, pontinhos vermelhos tipo picada de mosquito no corpo, inchaço, vômito, diarréia e até choque anafilático. É muito importante fazer essa diferenciação, pois os alérgicos tem um problema muito maior com o leite do que os intolerantes, visto que esse tipo de alergia pode provocar choque. Se um intolerante entra em contato com o leite, ele vai passar mal por um tempo e em geral fica tudo bem, mas se um alérgico entrar em contato com esse tipo de alimento, pode ter um choque e necessitar de cuidados médicos urgentes. Conheço inúmeras mães de alérgicos mediados que, dentre todas as coisas que a gente carrega quando sai de casa com uma criança pequena, precisa andar com adrenalina dentro da bolsa pro caso da criança entrar em choque e não acontecer algo mais grave.

A alergia não-mediada, que é a que Aurora tem, é a mais chata de todas no sentido do diagnóstico, pois não é possível rastrear com exames comuns. A criança não-mediada apresenta sintomas brandos, porém persistentes, que vão debilitando a longo prazo devido à dificuldade em se fechar o diagnóstico. No caso de Aurora, o sintoma recorrente foi o não ganho de peso. Aurora passou 1 ano sem engordar e crescendo pouco. Ela sempre foi uma criança pequena e magra, mas chegamos ao ponto em que ela estava abaixo da curva vermelha de ganho de peso (e eu já arrancando os cabelos) e graças a minha anjo Ane, conseguimos fechar o diagnóstico. Aurora, além de não ganhar peso, tinha diarréias frequentes que duravam 10 dias, todos os meses. No começo achamos que era virose da creche, mas com o passar do tempo e depois de rodar 6 pediatras e um alergista sem diagnóstico, começei a fuçar o que poderia ser isso e finalmente descobrimos.

Os sintomas da alergia são muito inespecíficos. Tem criança que faz cocô com sangue e/ou muco, algumas apresentam sintomas semelhantes ao refluxo, inchaço, catarro frequente, vômitos, diarréia, vômitos com sangue, irritação cutânea, assadura persistente e que vai se agravando ao longo do tempo e mais uma série de coisas peculiares que deixam os pais malucos. É importante salientar que no caso de sintomas gástricos o alergista não vai resolver o problema, e que o ideal é o trabalho conjunto dos dois.

As chances de cura são grandes se a família (e aí tem que ser todo mundo!) entrar no jogo e excluir definitivamente os produtos com leite e derivados da casa. Também é necessário fazer o controle de traços da proteína do leite. Os traços são pequenos "restos" de proteínas que ficam nos alimentos e utensílios utilizados pra preparar a comida. Nesses casos, o recomendável é trocar as panelas da casa ou separar uma panela nova para cozinhar apenas os alimentos que a criança vai poder comer. Até o pão da padaria pode ser o vilão, pois a gente nunca sabe se a bancada estava limpa quando o padeiro foi fazer a receita, se a moça utilizou o pegador no pão doce com leite e depois foi pegar o pão normal, enfim. Aqui tivemos que trocar tudo, até a bucha da pia pra não contaminar as coisas de Aurora. Compramos uma máquina de pão e fazemos pão em casa e dificilmente comemos na rua. O sacrifício é grande, mas ver seu filho ficar só pele e osso é pior ainda.

As chances de cura também aumentam muito se a mãe amamenta (nesse caso a mãe também tem que fazer dieta de restrição de leites e derivados) pois o leite materno tem efeito similar a um cicatrizante no organismo da criança. Outro fator que o gastropediatra da Aurora falou e que eu desconhecia é que ter parto normal é extremamente benéfico pra criança pois, ao passar pelo canal vaginal, o bebê entra em contato com as bactérias da vagina da mãe e isso faz com que a criança receba "up" no sistema imune. Outra coisa que me chamou a atenção foi quando o gastro tocou no assunto das cesarianas, principalmente porque, segundo ele, os pediatras brasileiros estão sendo cobrados em congressos internacionais a responder sobre os números abusivos de partos cirúrgicos no Brasil, que levariam a um aumento considerável na taxa de nascimentos prematuro e... TCHARAM, aumenta o número de alérgicos! Não conseguí checar essa informação pois o meu acesso ao publimed e outros periódicos especializados em medicina é restrito, mas sinceramente? Pra mim essa informação faz todo sentido do mundo.

É importante lembrar que crianças alérgicas não podem consumir produtos do tipo "sem lactose" ou "lactose free", pois esses produtos ainda contém as proteínas do leite que provoca reações. Produtos sem lactose não contém o açúcar do leite, que provoca reações em pessoas intolerantes. Alérgicos não devem consumir esses produtos de forma alguma!

Vou deixar abaixo um vídeo bastante completo sobre o tema com uma entrevista que eu dei pro jornal local daqui de Lavras.



abaixo alguns links de grupos de apoio a mães de alérgicos que eu participo no facebook e que me ajudaram muito a manter a sanidade mental, indicando profissionais, dando colo quando eu achava que a coisa tava feia, passando receitas fantásticas pra substituir as coisas que eu tinha vontade de comer e, principalmente, que passam um tipo de informação tão específica que pouquissímos médicos tem pra passar pra quem vive essa realidade de alergia.

Meu Filho é Alérgico a Leite: https://www.facebook.com/groups/mfal1/?fref=ts
Amigas da Alergia: https://www.facebook.com/groups/200704536609856/?fref=ts
Grupo Virtual de Amamentação (lá tem muita mãe de alérgico e é indispensável que as mães que queiram amamentar entrem nesse grupo!): https://www.facebook.com/groups/266812223435061/?fref=ts

Peço desculpas se houver alguma informação equivocada ou coisa do gênero, então por favor, se você ver algum erro conceitual nesse texto, me avisa que eu corrijo ok?

3 comentários:

Daniela disse...

Parabéns pelo texto!!!! Assim como a sua filha, a minha também não é mediada! !! A minha determinação em resolver os provlemas dela é que nos levaram ao diagnóstico. Tive a sensação de que vários pediatras não estão preparados para fazer esse diagnóstico. ..o que acarreta muito sofrimebto desnecessário! !! Costumo dizer que eles deveriam fazer parte dos grupos de mães da Internet! Rsrsrs

Cíntia disse...

Oi Aretha, tudo bem? Em abril de 2012 fiz um post sobre "Infância e Consumismo" no meu antigo blog Minha Aquarela. Parei de escrever por quatro meses e voltei com um novo endereco. Vou reblogar esse mesmo texto essa semana e de repente, achei seu comentário lá. Queria te dizer que voltei a escrever e eu espero ter o prazer reencontrá-la pelo mundo virtual. Bom saber que você também tem blog! Abraços, Cintia

Cíntia disse...

Oi Aretha. Eu publiquei um texto e incluí um da viagem que fiz em fevereiro e tem um comentário seu. Eu estive internada e felizmente estou melhor. Espero te ver novamente lá pelo minha aquarela. beijos, saudades