quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Parto normal após 2 cesáreas - VBA2C da Priscila Teixeira

Minhas cesáreas






Minhas dores...Ainda choro quando me lembro delas...Considero que fui violada. Meus filhos foram violados. Fomos roubados; nos roubaram a experiência do nascimento!


Eu tinha vinte e poucos aninhos na primeira gravidez. Sempre quis parto normal. O meu GO daquela época, falou que acompanharia meu parto normal. No dia em que comecei a sentir as dores, fui para o hospital e me examinaram ao chegar, falaram que estava tudo bem, mas que ia demorar um pouco ainda, pois era o primeiro filho. Fui para o quarto e me deixaram sozinha.O pai do meu filho estava na Holanda e minha mãe não era autorizada a entrar. Estava tranqüila, fazendo exercícios. Quando as contrações ficaram espaçadas de 3 em 3 minutos, chamei a enfermeira e pedi para alguém vir me examinar só para ver se tudo estava ok. Ela falou que ia ligar para o meu médico e logo depois, veio para me levar para o centro cirúrgico.Eu falei: “mas ainda não está na hora!”, ela respondeu: “está sim”. Levaram-me ao centro cirúrgico, me amarraram, me deram anestesia e me fizeram uma “cesárea surpresa”. Não me examinaram, nem abriram minhas pernas, não me consultaram, não me respeitaram. Quando tomei a anestesia me dei conta do que estava acontecendo, mas era tarde demais. O médico chegou com uma cara de mau humor e de sono, arrancou o Tomás da minha barriga e só comentou: “as vezes o bebe está em perigo”. Eu chorei o tempo todo. Fui para a recuperação chorando, mal vi meu filho, mostraram sua carinha e o levaram embora. Fui para o quarto chorando e a mesma enfermeira veio me perguntar o por que eu estava chorando. “Porque me fizeram uma cesárea”. Ela respondeu ; “Mas você não queria uma cesárea?”


“É lógico que não!”


Aí ela falou


“Nossa que estranho, seu médico mandou fazer a cesárea por telefone!”


No meu segundo parto, queria que as coisas fossem diferentes. Me informei sobre parto humanizado, fui nos encontros de parto de cócoras na Unicamp e procurei um médico que se dizia humanizado. Fazia palestras, até trouxe o Michel Odent para Campinas...Tentaram me avisar que ele não era mais o mesmo, que andava fazendo cesáreas demais, principalmente quando o tp caía num dos dias “ocupados” dele. Não acreditei, não quis mudar, não ouvi. Entrei em tp, cheguei no hospital com 5 cm de dilatação as 8 horas da noite. Por volta das dez horas da noite, com 7 cm e tudo numa boa, eu estava com uma doula querida, fazendo exercícios, o tal médico começou a fazer terrorismo: “o bebe está alto, vou furar sua bolsa. O bebe não desceu, é cesárea agora ou ele vai estar em perigo”. As onze da noite Theo nascia de cesárea...Eu fiquei um bom tempo querendo acreditar que essa foi necessária, até levar um chacoalhão na lista do materna (yahoo groups). Vi várias mulheres com a mesma situação durante o tp que eu tendo lindos partos naturais...Além disso fiquei sabendo que o tal médico fazia igualzinho com várias mulheres, bastava entrar em tp a noite, ou no fim de semana/feriado...Me senti uma idiota. Não era possível que me deixei enganar pela segunda vez! Essa, talvez, foi a cesárea mais dolorida...






Peregrinação para encontrar a equipe certa na Bélgica






Em 2006, nos mudamos para a Bélgica. Engravidei pela terceira vez nas minhas férias de fim de ano no Brasil. Comecei a sentir os sintomas da gravidez já na Bélgica. Fiz o teste, deu positivo. Fiquei radiante...No entanto, tive um sangramento grande, parecia menstruação. Por isso, marquei consulta no hospital universitário de Leuven. Fiz ultra-som; tudo bem com o bebê, mas tive um pequeno descolamento de placenta. Tive que ficar de repouso absoluto por um mês. No hospital universitário, queriam me marcar uma cesárea: procedimento do hospital em mulheres que tiveram duas cesáreas prévias. Procedimento desse hospital e de vários outros para o meu desespero!!! Na Bélgica, fazem cesárea em último caso; uma mulher que teve duas é porque realmente teve problemas nos partos anteriores, geralmente desproporção cefalo- pélvica. Não era meu caso, como fazê-los entender? Dessa vez seria diferente. Eu tomaria as rédeas do meu parto, eu seria a protagonista, eu tomaria as decisões!!!Eu não aceitei a cesárea que quiseram me dar e depois que tive certeza, por meio dos ultra-sons seguintes, que o descolamento não aumentou, ao contrário, sumiu, comecei a procurar uma parteira para me acompanhar no parto. Fui procurar as parteiras independentes, estas é que acompanham partos humanizados na Bélgica sem os procedimentos amarrados dos hospitais e suas interferências. Queria em casa ou em casa de parto. As parteiras aqui acompanham apenas partos de baixo risco e embora eu explicasse que minhas cesáreas foram desnecessárias, elas não aceitavam me acompanhar.. 


Bati em várias portas.Não desanimei. Me indicaram as duas parteiras mais experientes parteiras da Bélgica. Uma delas, falou que havia a possibilidade de tentar um parto natural, mas no hospital com o médico. Eu não quis. A outra, a Kitty, aceitou acompanhar meu parto no hospital. Falou que em casa ou na casa de parto após duas cesáreas não era possível na Bélgica. A Kitty falou que tinha um hospital em Antwerpen em que havia a flexibilidade da parteira independente acompanhar o parto humanizado no quarto do hospital e que se tudo desse certo, poderia voltar para casa no mesmo dia com o bebê.O quarto teria bola, banheira, ela levaria a cadeirinha de cócoras eu poderia levar meu som. O médico que trabalha nesse hospital, o Shabam, é uma pessoa bem flexível e adepto do parto natural e humanizado. É um cara de confiança da Kitty. Eu faria as ecografias e alguns exames com ele e ela faria o resto, inclusive o pré-natal. Ele viria durante o parto uma vez para ver se estava tudo ok e entraria em cena apenas se fosse necessário. Simpatizei muito com o Shabam, na primeira consulta ele não titubeou quando falei a ele que queria parto natural após 2 cesáreas. Ele falou, “ok, você pode tentar, semana passada tivemos um caso assim e foi parto natural”. Expliquei a ele que eu ia ser acompanhada pela Kitty, e ele só falou: você está em boas mãos!






O parto






A partir das 38 semanas comecei a sentir as contrações cada vez mais, sem dor, mas vinham com mais freqüência. A Kitty passou a vir me atender em casa. O bebê não estava encaixado e estava alto, mas a Kitty nunca me fez terrorismo por causa disso. Por sinal, o bebê continuou assim até o dia do trabalho de parto, ele só encaixou na hora. Continuei minha vida normalmente para tentar não ficar ansiosa demais se passasse das 40 semanas. Me afastei do orkut , do e-mail, das listas, tudo que pudesse me deixar ansiosa... Minha mãe iria chegar no dia 20 de setembro e eu ficaria mais tranqüila, pois teria com quem deixar as crianças à noite se entrasse em tp durante a madrugada. Tenho uma amiga que se propôs a ficar com os meninos caso isso ocorresse antes da minha mãe chegar, mas mesmo assim, mãe é mãe... Peguei uma virose na escola dos meninos e tive tosse e diarréia e enxaqueca no dia 17 de setembro. Dia 18, fui fazer monitorização no hospital, um saco, mas é o procedimento depois de 40 semanas. Dia 19, comecei a tomar o chá de framboesa com vrouwenmanthel e tomei o banho de banheira com sharlei, ambos receitados pela Kitty. Não é que as contrações aumentaram? À noite tive um alarme falso, cheguei a pedir para o Ramon cronometrar. Pensei na minha mãe, quem iria buscá-la na Gare du Midi caso eu entrasse em tp? As contrações amenizaram e eu dormi.Sabia que estava perto. No dia 20, voltei a tomar chazinho. Minha mãe chegou com duas tias muito queridas as 2 da tarde e eu passei um dia super gostoso. Conversamos, matamos a saudade, rimos! E eu sentindo contração sem dor o dia inteiro. As 7 da noite comecei a sentir contração com uma dorzinha leve. Acho que Rebecca só estava esperando a avó chegar... As 8 da noite fui numa reunião na escola dos meninos. A dorzinha vinha de 15 em 15 minutos mais ou menos. “Será hoje?”, pensei. No fim da reunião, avisei a professora que se o Theo não viesse na escola amanhã é porque a Rebecca nasceu.


Voltei para casa, fiquei conversando mais um pouco com minha mãe e fui tomar o banho de banheira com sharlei novamente. Tão relaxante! Saí de lá sentindo mais dorzinhas...Eram 10 da noite quando liguei para a Kitty avisando que as contrações estavam vindo com uma certa freqüência e com dor. Ela falou para eu esperar uma hora, e que se continuasse, para ligar para ela novamente. Depois de uma hora elas continuaram e começaram a ficar cada vez mais fortes. Kitty falou para eu ir para o hospital quando as contrações viessem de 5 em 5 minutos. Avisei minha mãe, acabei de arrumar as coisas; fechei a mala, peguei as almofadas, o salsichão, só esqueci os CDs que tinha separado para levar. Sorte que o Ramon tinha um CD maravilhoso do Bread no carro, sonzinho que lembrava a época que nos conhecemos. Saí de casa a uma da manhã, xingando por que era um saco ter que ir para o hospital, e estava já bem dolorido, mas nada demais... Minha mãe viu que as contrações estavam próximas e ficou preocupada de eu não chegar a tempo em Antuérpia. Só falei, “mãe, sossega, se Rebecca nascer no carro é porque ela nasceu bem”, hehehe! Estava muito feliz e tranqüila.


No carro fui ouvindo Bread e a cada contração eu rebolava na cadeira e fazia respiração de yoga. Estava tudo muito bem.


A Kitty me avisou de tudo o que aconteceria no hospital. Ela me falou que o único procedimento chato seria uma monitorização que eu teria que fazer durante meia hora...deitada. No mais, não teria camisola do hospital, nem gente entrando no quarto, nem nada...Cheguei no hospital preparada para isso.Era por volta de uma hora da manhã. Fui a pé até o quarto e lá a enfermeira colocou o monitor. A Kitty ainda não tinha chego. Eu conseguia ver que as contrações estavam altas e próximas uma da outra, mas...Começaram a ficar mais baixas e espaçadas... É ...constatei pessoalmente que hospital brocha!!!Se eu pudesse não pensaria duas vezes em fazer em casa...A Kitty chegou e notou que o batimento que o aparelho estava pegando, não era o do bebe, e sim o meu...Ela ajeitou o aparelho e pegou o batimento do bebe.Que saco! Fiquei apreensiva em ter que ficar ali por mais meia hora. A Kitty falou que não me deixaria ali por mais meia hora, ela só esperaria mais duas contrações e me liberaria daquilo.As danadas demoraram a vir, estavam realmente espaçando... Ela notou isso na hora, e falou que era normal acontecer isso quando as mulheres chegam no hospital. Ela viu que estava tudo ok depois das duas contrações e tirou o aparelho de mim. “Agora acabou, você precisa voltar a se sentir em casa!”. Arrumamos o quarto de modo mais aconchegante, ligamos um som, ela trouxe uma bola. Eu fiquei na bola rebolando durante as contrações e ela me trouxe um chazinho gostoso. Estava feliz, dançava durante as contrações e Ramon só ria! Senti que as contrações voltavam a ser mais intensas. Kitty decidiu fazer o toque. Eram pra lá de duas horas da manhã. Surpresa negativa...1cm apenas! Poderia ter entrado em parafuso... Tentei manter a calma, mas comecei a pensar: vai demorar pra cacete, vai demorar dois dias!!!”To ferrada!!!”. Já estava doendo razoavelmente...Ramon falou então: isso não quer dizer nada, pode abrir tudo de repente. E a Kitty confirmou, isso mesmo! Voltei para a bola, respirei fundo para relaxar e pensei: vamos lá! A Kitty saia do quarto para me deixar mais à vontade e eu comecei a dançar durante as contrações que ficavam mais doídas. Comecei a chamá-las! Venham e tragam minha filha para meus braços! Ramon estava cochilando no sofá e eu falei para ele dormir na cama, eu chamava quando precisasse, não ia usar a cama para nada mesmo! A Kitty voltou e perguntou se eu não queria entrar na banheira. Eu disse que sim, e durante as contrações, cada vez mais fortes e próximas eu ficava de cócoras. Comecei a conversar com a Kitty nos intervalos: “Poxa, não entendo, como pode em casa estarem de 5 em 5 minutos, chegar aqui espaçarem e estar só 1 cm!!!”


A Kitty respondeu: “Para de pensar!!!Para de pensar agora! Chama a Rebecca, mentalize as contrações para baixo, para baixo, para baixo”.


E foi isso que fiz. Parei de pensar e me entreguei ao trabalho de parto. Deixei de notar as horas, parei de prestar atenção de quanto em quanto tempo as contrações vinham. A onda forte do trabalho de parto me pegou, e me deu um baita caixote!!! Aquele caixote que parece que você está dentro de um liquidificador, rola rola, aspira água, se rala e perde o controle do seu corpo, só se dá conta quando esta deitada na areia com o biquíni todo torto! Tomei vários caixotes na infância, quando passar as férias no Rio de Janeiro e adorava entrar no mar para pegar onda quando as estas estavam enooormes!É o melhor modo que posso explicar o que senti durante o trabalho de parto: um caixote!


A Kitty perguntou se eu não queria tomar um remedinho homeopático para ajudar nas contrações, eu aceitei e ela trouxe uma poção mágica misturada com água. Eu tomei aos pouquinhos. As contrações vinham cada vez mais e eu resolvi sair da banheira. O bicho estava pegando...Me deu vontade de ir no banheiro. Me fechei no banheiro e vomitei. Sabia que era normal vomitar, tinha lido nos relatos de parto que depois disso as mulheres se sentem melhor, e foi o que ocorreu comigo. Depois disso, perdi o tampão. Aiaiai, contrações fortes meeeesmo. Tive uma diarréia e coloquei tudo para fora. A natureza é sábia. Eu sabia que meu corpo estava se limpando para a chegada do bebê. Eu sabia que estava dando certo. Eu sabia! Mais contrações e comecei a subir pelas paredes. Dentro do banheiro andava para lá e para cá, muito rápido, tinha que andar, quase correr!Batia na parede e voltava, parecia o carrinho do meu filho...Comecei a gemer alto, precisava soltar aquilo dentro de mim, e gemia, gemia. 


Sai do banheiro e veio mais uma contração bem doída! Começou a doer as costas e eu andava muito rápido para lá e para cá o tempo todo, não sei de onde saiu aquela energia toda. Eu não parava quieta.Não imaginava que ia ter vontade de quase correr... Eu tinha que andar e colocar a pélvis para frente, deve ter sido uma cena engraçada, por isso a importância de nos sentirmos a vontade, sem ninguém estranho no local do trabalho de parto! Eu não me inibia com a presença daqueles que confiava, Kitty e Ramon. Falei para a Kitty: não tem mais posição boa, não tem!!!Não tem!!!


Ela notou que estava indo bem rápido, falou para eu voltar para a banheira e falou para o Ramon posicionar a ducha nas minhas costas na hora da contração. Eu berrava mesmo, sem dó. Lembro-me que teve horas que chamei por minha filha, vem Rebecca!Vem! Kitty fez o toque e...7 cm. Aí eu levantei , fiquei de pé na banheira segurando com uma mão, a mão do Ramon e a outra mão, a da Kitty. As contrações vinham entre intervalos muito pequenos...Eu comecei a gingar o corpo para lá e para cá e jogar a cabeça de um lado para o outro. Ramon falou que eu parecia em transe. Eu entrei na partolândia. O Dr Shaba entrou no quarto nesse momento (não o vi) e perguntou, tudo ok? Kitty respondeu: 7cm. Ele falou: ótimo! Virou as costas e saiu do quarto. Foi muito discreto. Quando eu gingava o corpo, a Kitty gingava o corpo dela junto com o meu. Aí comecei querer fazer força. Ela pediu para esperar mais um pouco. Durante mais uma contração eu gritava que precisava fazer força, e fazia realmente um pouco de força, era muito difícil de controlar! Ela fazia a respiração cachorrinho para eu fazer também, eu tentava, mas tinha que fazer força... Ouvi a Kitty falar para o Ramon que o bebê estava muito baixo e que já tinha passado pelo lugar mais difícil da pélvis. Veio mais uma contração e eu berrava e reclamava que estava doendo e que precisava fazer força. Aí ouvi a voz suave do Ramon lá longe, pois eu estava longe e a voz dele parecia que vinha do fundo de um poço : “Pri a bebê já passou por aquele lugar mais difícil, está perto, Pri, é o seu sonho, aquilo que você sempre sonhou, está perto! Calma, está pertinho, muito perto.”


As palavras do Ramon foram uma injeção de ânimo para mim. E durante um pequeno intervalo, abri os olhos e agradeci a Kitty, falei: Você é maravilhosa, obrigada, e você também Ramon, você é maravilhoso! E pumba, outra contração e voltei a partolândia! E comecei a falar que precisava ir ao banheiro AGORA!Kitty me falou: não você não pode ir ao banheiro, esse não é um bom lugar...Aí falei que precisava fazer cocô. Ouvi ela dizendo para o Ramon: não é cocô Ramon, é o bebê!!!


De repente, entrou uma fase de calmaria... A dor forte das contrações pararam. Eu sentei na banheira. A Kitty me falou que agora eu podia fazer força. Ela perguntou se eu queria sair, sentar na cadeirinha de cócoras, me perguntou o que eu queria fazer. Eu respondi: Aqui na banheira está bom. Quero ficar aqui!


Me encostei na banheira, respirei e esperei um pouco.Silêncio. Reuni minhas forças e comecei a fazer força. Kitty falou para eu olhar em direção a vagina e fazer a força de “soprar o balão”. E eu fiz. Aí parei, respirei, esperei mais um pouco. Ramon falava : “Lembra, tudo tem seu tempo”. Aí reunia minhas forças e empurrava!Comecei a sentir não exatamente uma dor, mas uma ardência na vagina. Era o círculo do fogo que tinha lido tantas vezes nos relatos. Fiz mais uma força e mais uma! A Kitty falou para eu sentir a cabeça da Rebecca. Eu pus a mão e senti sua cabecinha. Acho que fiz mais umas duas forças e a Rebecca saiu pluft, na água, minha peixinha! Veio direto deitar sobre meu peito. Eu não acreditei na hora. Ela veio tão pequenininha e chorando. Rebecca nasceu as 6:15 do dia 21 de setembro de 2007.A Kitty esquentou a água e colocou uma toalha para deixar a Rebecca quentinha.Ramon cortou o cordão quando este parou de pulsar. Fiquei abraçadinha com ela, e ouvia o Ramon vibrando ao lado.Ainda sentia uma cólica. Logo a placenta saiu. Dr Shaba veio me desejar os parabéns nessa hora.


Sai da água e fui deitar com a Rebecca na cama. Nos enrolamos nas cobertas e fiquei olhando minha filha. Ela não quis mamar naquele momento. Eu olhei seu corpinho, olhei se era mesmo uma menina...Aí a pior parte, tive que tomar uns pontinhos (no total três). Tomei uma anestesia local, a mesma do dentista, e tenho pavor de injeção. Engraçado...Tenho medo de injeção, mas não do parto, hahaha. Enquanto dava os pontinhos, a Kitty pensava alto: “como podem terem feito cesárea em você, você não tem problema nenhum para parir!”.Eu fiquei com uma sensação de prazer por dias. Era muita ocitosina junto com a felicidade por minha filha ter nascido.O prazer que senti é realmente algo a parte, algo além...Me senti completa, me senti no auge da minha feminilidade, algo ligado com meu instinto animal mesmo. Não chorei na hora em que a Rebecca nasceu. Mas chorei na hora em que a Kitty veio se despedir de mim no hospital, agradeci muito ela ter aceitado me acompanhar, e ela respondeu que ela gostava de acompanhar mulheres que acreditavam em si mesmas, e eu era uma delas.


Fui para o outro quarto andando e dei de mamar para minha filha. Apgar dela foi 9/10 no primeiro minuto e o resto tudo 10. A pediatra passou por lá, deu alta para a bebê e no mesmo dia, ao meio dia voltamos para nossa casa. Na manhã que fiquei no hospital, muitas enfermeiras vieram me dar os parabéns. Todas ficaram sabendo da minha história: duas desnecesáreas enterradas com um lindo parto natural.


No dia em que minha filha nasceu, escrevi aos amigos:


“Rebecca nasceu! Rebecca significa” a que une “. Chegou para unir a mulher dentro de mim, despedaçada por duas experiências roubadas. Minha filha veio continuar o ciclo de mulheres fortes na nossa família. Me sinto super mulher!Me sinto poderosa.Hoje, pari o Tomás, o Theo e a Rebecca!!!
Rebecca nasceu na água, sem anestesia, sem episio, sem interferências, num parto que veio novamente para testar a minha confiança no meu corpo de parir. Eu confiei na natureza, e me deixei levar assim como uma onda forte que te dá um caixote.Minha filha nasceu linda e veio ficar comigo o tempo todo! Nasceu hoje as seis da manhã e já estou em casa.”


Por Priscila Teixeira

Um comentário:

Anônimo disse...

estou em lagrimas, obrigado por compartilhar sua historia.
http://umdoistresbebezinhos.wordpress.com/