sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Sem açúcar, com afeto.

Essa semana saiu na internet um vídeo chocante e estarrecedor sobre a qualidade (a falta dela, na verdade) da alimentação das crianças brasileiras, quem curtiu a página do blog deve ter acompanhado a postagem do vídeo aqui. Quem é mãe um pouquinho mais cri cri já deve ter reparado tudo o que o vídeo fala, mas quem não reparou ainda ou não sabe interpretar tabelas complicas de composição de alimentos e ingredientes mil, vale muito a pena assistir. O vídeo está disponível nessa página e aqui embaixo eu vou colocar o trailler pra vocês ficarem com um gostinho de quero mais:

O documentário trata, com uma abordagem muito legal, algumas das coisas que tem dentro das comidas tradicionalmente "infantis", sobre como as crianças comem, o que comem e quais problemas uma alimentação recheada de salgadinhos do tipo "porcaritos" e coca-cola podem fazer com que a expectativa de vida da nova geração seja mais baixa do que a nossa. É chocante!

Há alguns meses atrás, eu e o Lu assistimos o "Food Revolution", um programa do chef inglês Jamie Oliver em que ele vai pra uma cidade com o maior índice de obesidade e morte em decorrência de complicações por excesso de comida dos EUA e tenta ensinar as pessoas a cozinharem comida melhor. Em várias partes a gente fica morrendo de nojo, porque ele mostra como são feitos os nuggets e a maior parte das comidas processadas que a gente come. Quando assistimos, ficou aquela imagem de que aquela realidade era muito longe da nossa e etc, mas ao assistir o documentário "Muito além do peso", fica claro pra gente que a globalização de junkie food já chegou até a comunidades indígenas. Se você quiser baixar a série "Food revolution", dá pra baixar o torrent aqui.

Um dos principais problemas associados com a obesidade é, sem dúvidas, o sedentarismo. As crianças não brincam mais na rua, não correm, ficam trancadas em cercadinhos, presas em andadores ou então na frente da TV e do PC. Eu mesma sou dessa geração: meus avós vira e mexe faziam as minhas vontades e compravam um caminhão de comida "de criança". Meu avô chegava ao cúmulo de adoçar a minha mamadeira com QUATRO dedos de açúcar. Muito da minha infância foi vendo He-man, Inspetor Buginganga, Punky a levada da breca, TV colosso e outros clássicos da Tv aberta, e pelo que eu noto, a geração seguinte à minha está deveras pior.

A gente que é pai e mãe sabe o quanto é complicado deixar o filho brincar na rua com assaltos, sequestros, pedófilos, acidentes de trânsito e a falta de segurança em geral, então acaba que nos rendemos aos programas de tv e jogos eletrônicos como forma de manter as crianças em casa. Em geral, os pais trabalham o dia inteiro, e o que eu vejo de muitas famílias que eu tenho contato próximo é que as crianças ficam em casa na frente da telinha umas 6h por dia. Quem já parou pra assistir os canais infantis ou mesmo a programação da tv aberta na hora "das crianças" já notou a quantidade absurdade propagandas! Eu ADORO desenho, mas pra mim é insuportável assistir 30min de discovery kids, por exemplo. Um dia eu tava assistindo um desenho e até eu fiquei com vontade de ter uma barbie e ir comer no Mc Donald's. Sério, é absurda a quantidade de propaganda. Eu contei 5min de desenho e e quase o dobro de propagandas. Fora que, durante o desenho, eles diminuem o som, o que faz com que vc tenha que aumentar o volume da TV, daí durante os comerciais eles voltam a aumentar o som e fica praticamente impossível ignorar o novo Max Steel faz-até-o-seu-dever-de-casa. Você não fala com o seu filho, porque tá ocupado trabalhando, mas a propaganda fala com ele, e ela fala o dia inteiro. No final do dia, com toda a energia acumulada durante horas com a bunda no sofá e frustrada, a criança vai descontar no mais óbvio e rápido, justamente naquilo que ela passou o dia inteiro ouvindo a TV falar que ía trazer uma sensação de bem-estare saciedade: consumo! Os alvos preferenciais são as comidas açucaradas, as bolachas recheadas e os embutidos, e isso faz tão mal que o documentário mostra crianças de 4 anos (isso mesmo, vc leu certo, quatro anos) com trombose, diabetes e problema no coração por causa de comida.

Aqui em casa percebemos isso acontecendo, em menores proporções, bem cedo: por volta de 1 ano, eu assistia o programa de culinária da Gazeta toda tarde, e notei que Aurora começou a brincar menos e subir no sofá pra ver comigo. Combinei com o Lu de só ligarmos a tv quando ela dormisse porque a programação é completamente inadequada pra idade dela. Chegou a um ponto em que nós nos demos conta de que não víamos mais tv e que ela só servia pra "fazer barulho". Como aqui em Lavras só pega os canais se vc tiver parabólica ou tv a cabo, cancelamos a tv a cabo e agora temos um aparelho na sala que serve de cama de gato e pra eventuais partidas de vídeo-game. Assim agente evita que Aurora vire um zumbí e que a gente morra alienado. Tem quase 1 ano que não assistimos tv em casa, só na casa de parentes, e olha, vou te dizer, quando eu tenho o desprazer de passar em algum lugar que esteja passando o jornal nacional ou coisa que o valha, tenho vontade de vomitar com a quantidade de mentiras e notícias importantes que eles omitem. Não que eu não assista mais besteiras (eu adoro seriados americanos, filmes trash e outras bobagens) e Aurora assiste sim alguns filmes, mas não como antes. O reflexo disso, pelo menos na minha casa, é uma criança muito mais desperta e que interage o tempo todo. Cansa pra caramba, mas vale muito a pena. Só de ir ao mercado e não ter que ouvir um escândalo em prol de algum doce com brinquedo, vale todo o esforço.

Eu super entendo que comprar uma latinha e esquentar no microondas seja muito mais fácil, principalmente quando você passa o dia inteiro na rua e não tem quem cozinhe pra você, acredito mesmo que muitas mães que dão processados pras crianças não sabem o que tem na maior parte daquelas caixinhas (eu não sabia) e que a gente dá essas coisas com a melhor das intenções, crente que tá fazendo um agrado pra criança (afinal, nenhuma pessoa normal faz mal ao próprio filho deliberadamente, mas no final das contas tá dando um alimento extremamente prejudicial e que muitas vezes pode até causar necrose intestinal (como é o caso das papinhas industrializadas, que levam uma substância chamada "fumarato ferroso" e que eu já comentei aqui). Então, o que eu vou tentar fazer se as 100mil matérias que eu tô fazendo na faculdade me permitirem, é tentar dar alternativas práticas e gostosas pra gente lidar com a falta de tempo e oferecer alimentos de qualidade pras crianças. :) Aguardem as cenas dos próximos capítulos!

Um comentário:

Juliana disse...

Eu assisti o documentário essa semana e fiquei chocada também. No começo teve até um cara que falou que em alguns lugares as pessoas só tem acesso à comida processada e eu pensei 'ah, que exagero, nos eua pode até ser, mas no brasil é diferente', pra mais tarde ver que aqui também acontece isso.
É triste, pq ninguém dá essas coisas pro filho pensando em fazer mal pra ele, as porcarias da composiçao são tão veladas que mesmo ligando pro sac não dá pra ter acesso ao que tem naquele alimento...