quarta-feira, 23 de maio de 2012

Blogagem coletiva: criação com apego (attachment parenting)



Quando eu fiquei grávida, eu era daquelas que só ía amamentar até os 6 meses porque achava feio "crianção mamando" e não queria que meu peito caísse. Com 4 meses de gestação, fiz minha mãe despencar do Rio de Janeiro pra Minas pra comprar o berço da Aurora porque tinha HORROR de pensar em criança dormindo na minha cama e me impedindo de ter privacidade com o meu marido (porque vejam bem, quando você casa aos 20 anos, tudo o que vc quer é sexo selvagem, e não um bebê te impedindo de fazer barulho). Eu tinha calafrios quando via uma criança de 2 anos mamando e era daquelas que achava que "se já tem dente, não precisa de mamar".
Pois bem, o tempo foi passando e eu usei os 9 meses da gravidez pra ler muito sobre amamentação. Sempre tive um reforço positivo pois minha mãe até hoje fala o quanto é gostoso amamentar, o quanto ela ficou triste quando eu desmamei e que ela adorava quando eu mamava e fazia carinho nela, pois era um momento só nosso que ela não trocava por nada. Fui lendo, lendo, lendo e percebí o quanto era importante amamentar, pro bebê e para a mãe. Só a mãe que amamenta sabe o quanto isso fortalece a criação do vínculo com a criança (não estou dizendo que uma mãe que não amamente não tenha vínculo, mas amamentar é sim uma primeira forma de estabelecer contato com aquele bebê). Com 6 meses de gravidez, eu já tinha chutado o pau da barraca e disponibilizado os meus peitos pra ela mamar até quando quizesse, pois isso me pareceu o certo. Quando a Aurora nasceu, o Luciano insistiu muito pra ela dormir com a gente, mesmo. Ele não queria colocá-la no berço de jeito nenhum, e eu também tinha pena de deixar um bebê tão pequeno dormir em outro cômodo da casa, além do que seria MEGA hipócrita, pq eu dormi com a minha mãe até estar burra velha, então como eu poderia impedir uma criança de dias de vida de dormir do meu lado? Eu tinha muito medo da síndrome da morte súbita, e como eu tenho sono mega leve (depois que a gente é mãe o sono fica mais leve ainda), do tipo que acorda se alguém peidar do lado de fora do quarto, achei que o melhor mesmo era ela dormir conosco até poder me dizer que queria ir pro quarto dela. Me pareceu lógico e saudável dormir com a minha filha, pois era a melhor forma de amamentá-la de noite sem me cansar tanto e também se algo acontecesse, eu estava alí do lado.

As pessoas pensam sempre que fazer cama compartilhada (dormir junto com o bebê) é só enfiar a criança no meio dos pais e pronto. Não, não é assim! Existem normas de segurança que devem ser observadas antes de dormir com o bebê, como por exemplo não colocar a criança no meio dos pais, e sim num colchão ao lado da cama, não utilizar remédios/álcool e uma outra série de pré-requisitos que foram muito bem avaliados por nós ao tomarmos essa decisão. Desfiz minha cama e hoje dormimos os três em colchões no chão. Meu quarto parece um acampamento, mas essa é a maneira mais gostosa de dormir que eu conheci até hoje! O sexo, que todos questionam e até já me inquiriram sobre a possibilidade da Aurora ver, mudou pra lugares mais criativos, afinal de conta ela dorme NO QUARTO, e nós continuamos a ter a casa inteira pra estarmos juntos. Isso de sexo no quarto pra mim soa mais como puritanismo de gente que não consegue ter imaginação, mesmo.

As outras coisas foram todas acontecendo naturalmente, e criar com apego foi só o nome que a gente descobriu pra nossa forma de criar a Aurora. Sempre respeitamos as vontades dela, ficamos o máximo de tempo possível com ela (eu e o Lu fazemos faculdade, e mesmo assim passamos muito tempo com ela), almoçamos, tomamos café e jantamos juntos, brincamos, enfim, estamos sempre próximos e sem intermediários. Quando a gente viaja pra perto de uma das famílias, eventualmente saímos de noite, mas isso não é a prioridade do momento, pois a gente entende que agora, com ela pequena, a prioridade é estarmos por perto e que vamos sim ter muito tempo pra sair juntos no futuro. Isso não abalou nenhum pouco a nossa relação, pelo contrário, nos fortaleceu muito como casal poder contar com a compreensão e apoio do outro. Fico muito triste quando ouço uma mãe falando em introduzir mamadeira sem indicação real só pra poder sair com o marido a noite. Sabe, se o seu casamento não pode aguentar 2 ou 3 anos sem ir pra uma noitada (daquelas de só aparecer em casa ao meio dia do dia seguinte), então acho que vc deveria mesmo rever suas prioridades. O Lu nunca me cobrou em relação a sair pois ele entende que agora não é o momento (e veja bem, ele tem 23 apenas. apesar da idade, ele tem maturidade o suficiente pra entender que  ir pra festas da faculdade e tudo o mais não são a prioridade do momento). É claro que a gente ainda sai pra restaurantes, passeamos e afins, mas isso rola eventualmente, e não sempre.

No mais, acho que criar com apego vai muito além de dormir junto. Conheço mães maravilhosas que dormem em quartos separados e criam seus filhos com muito apego. Criar com apego não vai deixar seu filho mimado, dependente nem essas coisas que as pessoas costumam falar. As cadeias estão lotadas de gente que não teve mãe e pai por perto, mas incrivelmente eu nunca ví ninguém com problemas por excesso de carinho. Aurora, no auge dos seus 1 ano e 8 meses, é muito mais independente do que a maior parte das crianças da idade. Como eu disse no post anterior, independência pra mim é escovar os dentes sozinho, escolher a roupa que vai vestir, dizer o que quer comer e lidar bem com situações quotidianas, como por exemplo ficar bem na creche ou no colo de pessoas que ela não convive todo o dia pois ela sabe, e tem a certeza, de que se precisar e se quiser, vai ter o pai e a mãe à disposição. Isso, a meu ver, é criar uma criança segura, com noções de respeito e integridade muito bem estabelecidas. Não tem nada haver com criar uma criança mimada! A gente sempre põe limites e ela respeita, pois sabe que não dizemos "não" pra qualquer coisa, e sim quando é necessário. Não vou dizer que ela não dá trabalho, pois toda criança dá, e as vezes me tira do sério ao ponto de eu querer bater, mas não faço. Não acredito em violência física, pois novamente, se violência funcionasse as cadeias brasileiras estariam vazias, afinal de contas quem nunca levou uma palmada "educativa"?

Eu nunca apanhei, e tenho horror a agressão física com quem quer que seja, que dirá com crianças. Bater não ensina nada que preste, apenas que alguém tem mais força do que você e que vc deve temer essa pessoa, e sinceramente, tudo o que eu menos quero é que minha filha tenha medo de mim, afinal de conta somos dotados de um cérebro e da capacidade de racionalizar as coisas por um motivo.

Aurora me fez rever muitos pré conceitos que eu tinha. Minha visão de vida mudou muito e hoje eu tenho muito orgulho de ter me tornado a mãe que eu sou e de ter ela como filha, pois cada vez mais percebo que ela está crescendo pra se tornar uma mulher doce, cooperativa, que aceita dividir as coisas, que sabe brincar com os outros, que está aprendendo a respeitar os colegas e as pessoas no geral, que não faz escândalo quando lhe dizemos não, enfim, por ela estar se tornando um ser humano maravilhoso e por eu ter tido a oportunidade de potencializar isso de certa forma. Não me arrependo 1mm sequer de nada do que fizemos, pois hoje colhemos os frutos e temos uma criança super segura de sí, independente e que não tem medo de explorar os ambientes e conhecer pessoas novas.

Um comentário:

Mamacrica disse...

Oi!

Gostei muito do seu relato e de sua forma de maternar! Muito bom quando somos guiadas não somente pelo instinto maternal, mas muito mais pelo coração!

Muitas alegrias para você e sua pequena Aurora!

Beijo
Cristina